Papa incentiva cristãos a ajudar quem sofre com crise e desemprego

Cidade do Vaticano, 31 dez (EFE).- O papa Bento XVI incentivou hoje todos os cristãos a prosseguir o alívio das dificuldades enfrentadas pelas famílias que sofrem com a crise econômica e o desemprego, durante a celebração do Te Deum de agradecimento pelo ano que termina.
Nas Vésperas celebradas na Basílica de São Pedro, Bento XVI afirmou que “a comunidade cristã soube responder com generosidade aos que bateram a sua porta” e incentivou que continue nesta tarefa.

Durante a cerimônia, não foi adotada nenhuma medida de segurança particular, após o incidente na noite de 24 de dezembro, quando o papa foi derrubado por uma mulher com transtornos mentais.

Os homens da Gendarmaria vaticana e da Guarda Suíça ficaram ao lado do pontífice, como estava previsto pelo protocolo.

O nascimento do Senhor, que nos lembra a gratidão com a qual Deus veio nos salvar, assumindo nossa humanidade e nos doando sua vida divina, pode ajudar a cada homem de boa vontade a compreender que, só se abrindo ao amor de Deus, a atitude humana muda e se transforma em um futuro melhor para todos“, ressaltou.

O papa lembrou que só contemplando o mistério do verbo encarnado, o homem pode encontrar “a resposta às grandes dúvidas da existência humana e descobrir, assim, a verdade de sua própria identidade“.

Por isso, “a Igreja, no mundo todo e aqui, trabalha para promover o desenvolvimento integral da pessoa humana”, disse.

“O tempo esteve, por assim dizer, tocado por Cristo, o filho de Deus e de Maria, e dele recebeu significado novo e surpreendente: se transformou em tempo de salvação e graça”, acrescentou o pontífice.

“Nesta perspectiva, devemos considerar o tempo do ano que termina e do que começa para pôr os diferentes eventos de nossa vida: grandes ou pequenos, simples ou indecifráveis, alegres ou tristes, sob o sinal da salvação e acolher a chamada de Deus que nos dirige para nos conduzir para uma meta que é outro tempo em si mesmo: a eternidade”, afirmou.

Após o Te Deum, o papa visitará o presépio colocado na Praça de São Pedro.

Maria: Mãe de Deus e nossa

Por ocasião do dia mundial da paz e deste novo ano que se iniciará, desejo a todos vós, bem como a vossos familiares, um feliz ano novo com o coração voltado para o mistério da salvação que realiza-se em Cristo. Em verdade sobrepõe-se hoje a ideologia de que o ano novo deve ser voltado para festas e não para o Cristo. Infelizmente estes, que de tal forma pensam, não conhecem ou não se aprofundaram no mistério da encarnação

Existem nexos entre a celebração da Solenidade de Maria, Santa Mãe de Deus e o dia mundial da paz, que foi oportunamente estabelecido à esta data. Verdadeiramente Maria é aquela que doa a Paz ao mundo e nela os homens encontram o caminho para a plena paz, a salvação de todos os homens. O mistério da maternidade divina de Maria deixa a razão humana perplexa. Talvez por se crer que Deus é um ser incriável, a quem todos e tudo fez e que não foi feito. Ora, realmente Deus é um ser incriável. Mas o fato de ter se tornado homem, como um de nós, de ter querido encarnar-se no seio da Virgem Maria e de salvar o gênero humano sendo homem, põe ante os nossos olhos o fato de que a Virgem, predestinada para esse objetivo, serva do Senhor, aceitou na sua humildade aquilo que Deus queria e O fez.

“A expressão Theotokos, que literalmente significa “aquela que gerou Deus”, à primeira vista pode resultar surpreendente; suscita, com efeito, a questão sobre como é possível que uma criatura humana gere Deus. A resposta da fé da Igreja é clara: a maternidade divina de Maria refere-se só a geração humana do Filho de Deus e não, ao contrário, à sua geração divina. O Filho de Deus foi desde sempre gerado por Deus Pai e é-Lhe consubstancial. Nesta geração eterna Maria não desempenha, evidentemente, nenhum papel. O Filho de Deus, porém, há dois mil anos, assumiu a nossa natureza humana e foi então concebido e dado à luz Maria.

Proclamando Maria “Mãe de Deus”, a Igreja quer, portanto, afirmar que Ela é a “Mãe do Verbo encarnado, que é Deus”. Por isso, a sua maternidade não se refere a toda a Trindade, mas unicamente à segunda Pessoa, ao Filho que, ao encarnar-se, assumiu dela a natureza humana”. (Livro A Virgem Maria, Papa João Paulo II)
Sedúlio escreve: “Salve, ó Santa Mãe de Deus, vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos!” (Antífona de entrada). Sim meus irmãos, saudemos a Maria, nela inicia todo o projeto salvífico da humanidade, “pois ela nos trouxe o autor da vida” (Oração da coleta). Que dizer de tão grande mistério, senão expressar nossa veneração?
Nas leituras centraliza-se a pessoa de Jesus – que nos faz venerar mais ainda Maria –, afinal estamos na oitava de Natal, e antes se celebrava, neste dia, a Festa da Circuncisão do Senhor.
Na primeira leitura vemos a benção que o Senhor dá a Moisés e que perpassa nestes vários séculos depois. “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o rosto e te dê a paz!” (Nm 6, 24-26). Esta benção que ainda hoje o sacerdote repete convida-nos a abrirmo-nos à misericordia infinita de Deus, para que aceitando-a possamos receber os frutos e benção divinas.
“É assim cumprida a antiga tradição judaica da bênção (Nm 6, 22-27): os sacerdotes de Israel abençoavam o povo ‘impondo sobre ele o nome’ do Senhor. Com uma fórmula ternária presente na primeira leitura o santo Nome era invocado três vezes sobre os fiéis, como votos de graça e de paz. Esta tradição remota conduz-nos a uma realidade essencial: para poder caminhar pela vereda da paz, os homens e os povos precisam de ser iluminados pelo ‘rosto’ de Deus e ser abençoados pelo seu ‘nome’. Precisamente isto se concretizou de modo definitivo com a Encarnação: a vinda do Filho de Deus na nossa carne e na história trouxe uma bênção irrevogável, uma luz que nunca se apaga e que oferece aos crentes e aos homens de boa vontade a possibilidade de construir a civilização do amor e da paz” (Papa Bento XVI, Homilia na Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, 2009).
Na segunda leitura Paulo fala da plenitude dos tempos, onde Deus envia seu Filho, “nascido de uma mulher, nascido sujeito à lei” (Gl 4,4). E o apóstolo acrescenta: “Já não és ecravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro: tudo isso por graça do Senhor” (Gl 7). Assim conhecemos a misericórdia de Deus que se manifesta. Somos filhos, somos herdeiros, tudo isso por “graça”. Esta “graça” manifestou-se ao mundo no Natal. Ele veio para que a humanidade pudesse redescobrir os valores do amor, da fé, da esperança, da fidelidade. Jesus não vem para libertar economicamente. Seria demasiada ignorância pensarmos assim. Ele é a Graça de Deus manifestada em nosso meio; e, hoje, Ele que manifestar-se também em nós. Por isso, com a vinda do Filho de Deus, também nós tornamo-nos filhos, e por conseguinte tornamo-nos herdeiros. O seu amor O levou a tornar-se, mais que homem, tornou-se pobre. E assim podemos citar a expressão de São Paulo na segunda Carta aos Coríntios: “Com efeito – escreve ele – conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (8, 9).
Gostaria de recordar o Santo Evangelho que nos afirma: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido” (Lc 2,20). Esta narrativa do Evangelho convida-nos, também hoje, a agradecermos a Deus por todas as maravilhas que Ele nos proporcionou, a começar do Seu Filho Jesus, nosso Salvador, passando pelas graças deste ano que se encerra. Não deixemo-nos abalar pelos ventos fortes que, indubitavelmente, é algo que ocorre na vida de todos os cristão, e que por um lado é util pois nos fortalece na oração. Assim como os pastores, glorifiquemos a Deus. Ele é aquele que nos acolhe de braços abertos, mesmo que o pecado leve-nos a cair várias vezes, Deus está ali e nos diz: “Coragem! Levanta-te!”
Por fim, faço uma alusão a mensagem do Santo Padre Papa Bento XVI para o dia mundial da paz, que tem co
mo tema: Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação. Todo o ser humano é chamado a defender a criação. Ela não é só um meio de crescimento e de exploração para o desenvolvimento capitalista. Ela é dom de Deus e nos põe em profundo contato com Ele.

A busca da paz por parte de todos os homens de boa vontade será, sem dúvida alguma, facilitada pelo reconhecimento comum da relação indivisível que existe entre Deus, os seres humanos e a criação inteira. Os cristãos, iluminados pela Revelação divina e seguindo a Tradição da Igreja, prestam a sua própria contribuição. Consideram o cosmos e as suas maravilhas à luz da obra criadora do Pai e redentora de Cristo, que, pela sua morte e ressurreição, reconciliou com Deus «todas as criaturas, na terra e nos céus» (Cl 1, 20). Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa. Trata-se de um desafio urgente que se há-de enfrentar com renovado e concorde empenho; é uma oportunidade providencial para entregar às novas gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos. Disto mesmo estejam cientes os responsáveis das nações e quantos, nos diversos níveis, têm a peito a sorte da humanidade: a salvaguarda da criação e a realização da paz são realidades intimamente ligadas entre si” (Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz, 2010).

A Maria, mãe que nos acolhe no seu regaço materno, peço que ela esteja sempre nos defendendo nas insidiosas estradas que a vida oferece, para que trilhemos o único e verdadeiro caminho.
Mais uma vez um feliz ano novo a todos!
Pax Domini

«O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina»

Fonte: Evangelho Quotidiano

Sim, Tu amaste-nos primeiro, para que nós Te amássemos. Tu não necessitas do nosso amor, mas só poderemos atingir os Teus desígnios amando-Te. Por isso, «muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Seu Filho», (Heb 1, 1), o Seu Verbo. Foi por Ele que «a palavra do Senhor criou os céus, e o sopro da Sua boca, todos os astros» (Sl 32, 6). Para Ti, falar através do Teu Filho não é outra coisa que mostrares, fazeres ver com brilho quanto e como nos amas, dado que não poupaste o Teu próprio Filho, mas O entregaste por todos nós (Rom 8, 32). E também Ele nos amou e a Si mesmo se entregou por nós (Gal 2, 20).

Tal é a Palavra, o Verbo Todo-poderoso que nos diriges, Senhor. Enquanto todos mergulhavam no silêncio, ou seja, na profundidade do erro, Ele desceu das moradas reais (Sab 18, 14), para abater duramente o pecado e enaltecer suavemente o amor. E tudo quanto fez, tudo quanto disse na terra, até os opróbrios, até os escárnios e as bofetadas, até a cruz e o sepulcro, não eram mais que a Tua palavra pelo Teu Filho, palavra que nos incita ao amor, palavra que desperta em nós o amor por Ti.

Sabias com efeito, Deus, Criador das almas, que as almas dos filhos dos homens não podem ser forçadas a esta afeição, mas que é necessário provocá-las. Porque, onde houver constrangimento, não há liberdade; e onde não há liberdade, não há justiça. […] Quiseste que Te amássemos, porque em justiça não podíamos ser salvos sem Te amar. E não podíamos amar-Te a menos que o amor partisse de Ti. Por conseguinte, Senhor, como apóstolo do Teu amor o digo, Tu amaste-nos primeiro (1Jo 4, 10), e primeiramente amas todos os que Te amam. Mas nós, nós amamos-Te pela afeição de amor que puseste em nós. 

Guilherme de Saint-Thierry 

QUEM FOI SÃO SILVESTRE

Cidade do Vaticano, 31 dez (RV) – São Silvestre foi papa durante 21 anos e morreu em 335, durante o tempo de Constantino. Silvestre teve de enfrentar as intromissões do imperador no governo da Igreja. Constantino, herdeiro da grande tradição imperial romana, considerava-se o legítimo representante da divindade e do Deus dos cristãos e por isso, com naturalidade, sentia-se encarregado de controlar a Igreja como qualquer outra organização religiosa.

Constantino convocou em 325 o primeiro Concílio Ecumênico que foi realizado em Nicéia, na Bitínia. O Papa Silvestre, idoso, não pode comparecer, mas enviou representantes.

Graças ao bom relacionamento entre o Papa e o Imperador, este apoiou financeiramente a Igreja e o pontificado de Silvestre ficou caracterizado também pelas grandes construções de edifícios eclesiásticos. Conseguiu do Imperador a autorização para a construção da grande basílica em honra de São Pedro na colina do Vaticano, a de São Paulo fora dos Muros e a de São João de Latrão.
Foi também o Papa Silvestre que recebeu do Imperador Constantino o Palácio de Latrão para ser a residência dos pontífices.

Mas o grande presente que o Papa Silvestre desejava receber do Imperador era vê-lo batizado. Isso não aconteceu pois o papa morreu em 335 e Constantino, segundo Eusébio de Cesareia, foi batizado no leito de morte, em 337.
(CM)

Audiência Geral sobre Pedro Lombardo – 30 de dezembro de 2009

[Publico aqui a Audiência Geral do Papa Bento XVI, ultima deste ano. Na oportunidade o Santo Padre falou sobre a figura de Pedro Lombardo, totável teólogo da Igreja. A Audiência se deu na Sala Paulo VI]


 Fonte: Canção Nova

Queridos irmãos e irmãs,

nesta última audiência do ano, falarei de Pedro Lombardo: um teólogo que viveu no século XII e gozou de grande notoriedade, graças à sua obra intitulada Sentenças, adotada como um manual de Teologia durante muitos séculos.

Quem, então, foi Pedro Lombardo? Embora as notícias sobre sua vida sejam escassas, podemos reconstruir as linhas essenciais de sua biografia. Nascido entre os séculos XI e XII, perto de Novara, no norte da Itália, em um território pertencido à Lombardia durante certo tempo: precisamente por isso lhe foi aplicado o nome de “Lombardo”.

Ele pertencia a uma família de condições modestas, como se pode inferir a partir da carta de apresentação que Bernardo de Claraval escreveu a Gilduino, superior da abadia de São Vitor em Paris, pedindo-lhe que mantivesse Pedro hospedado gratuitamente, que viajaria àquela cidade por motivos de estudo. Com efeito, mesmo na Idade Média, não apenas os nobres e ricos podiam estudar e adquirir papéis importantes na vida eclesial e social, mas também pessoas de origem humilde, como Gregório VII, o Papa que fez frente ao imperador Henrique IV, ou Maurício Sully, o Arcebispo de Paris que fez construir a Catedral de Notre Dame e era filho de um fazendeiro pobre.

Pedro Lombardo começou seus estudos em Bolonha, depois foi para Reims e finalmente para Paris. A partir de 1140, ele lecionou na prestigiosa escola de Notre-Dame. Respeitado e apreciado como um teólogo, oito anos depois, foi nomeado pelo papa Eugênio III a examinar as doutrinas de Gilberto Porretano, que suscitou muita discussão, já que não era de todo ortodoxa. Tornou-se sacerdote e foi nomeado Bispo de Paris em 1159, um ano antes de sua morte, em 1160.

Como todos os mestres da teologia de seu tempo, Pedro também escreveu discursos e textos com comentários sobre as Escrituras. Sua obra-prima, no entanto, consiste nos quatro livros das Sentenças. Se trata de um texto nascido e destinado a ensinar. De acordo com o método teológico em uso naquele tempo, era necessário primeiro conhecer, estudar e comentar sobre o pensamento dos Padres da Igreja e outros escritores considerados autoridades. Pedro recorreu a uma documentação muito extensa, constituída principalmente a partir do ensinamento dos grandes Padres latinos, especialmente Santo Agostinho, e aberto a contribuições de teólogos de seu tempo. Entre outras coisas, ele utilizou também uma enciclopédia de teologia grega, há pouco tempo conhecida no Ocidente: A fé ortodoxa, composta por São João Damasceno. O grande mérito de Pedro Lombardo é o de haver organizado todo o material, que tinha recolhido e selecionado com cuidado, de forma sistemática e harmoniosa. Com efeito, uma das características da teologia é organizar de modo unificado e ordenado o patrimônio da fé. Ele distribui portanto as sentenças, isto é, fontes patrísticas sobre vários assuntos, em quatro livros.

No primeiro livro se trata de Deus e do mistério da Trindade; no segundo, da obra da criação, do pecado e da graça; no terceiro, do Mistério da Encarnação e da obra da Redenção, com uma ampla exposição sobre as virtudes. O quarto livro é dedicado aos sacramentos e à realidade última, aquela da vida eterna, ou Novissima. A visão global que ali se encontra inclui quase todas as verdades da fé católica. Este olhar sintético e apresentação clara, ordenada, esquemática e sempre coerente explica o extraordinário sucesso das Sentenças de Pedro Lombardo. Elas permitem um aprendizado seguro para os alunos, e um amplo espaço de aprofundamento aos professores e educadores que as utilizam. Um teólogo franciscano, Alessandro di Hales, que viveu uma geração depois de Pedro, introduziu nas Sentenças uma subdivisão, que tornou mais fácil a consulta e estudo. Mesmo os maiores teólogos do século XIII, Alberto Magno, Boaventura de Boanerges e Tomás de Aquino iniciaram suas atividades acadêmicas comentando os quatro livros das Sentenças de Pedro Lombardo, complementando-as com suas reflexões. O texto de Lombardo foi o livro usado em todas as escolas de teologia até o final do século XVI.

Gostaria de salientar que a apresentação orgânica da fé é uma exigência irrenunciável. De fato, as verdades singulares da fé iluminam os outros e, em sua visão total e unitária, amparam a harmonia do plano de salvação de Deus e a centralidade do mistério de Cristo. Seguindo o exemplo de Pedro Lombardo, convido todos os teólogos e padres a manter sempre presente a visão integral do conjunto da doutrina cristã contra os riscos modernos de fragmentação e desvalorização daquelas verdades. O Catecismo da Igreja Católica, bem como o Compêndio do Catecismo, se apresentam como um panorama muito completo da Revelação cristã, e devem ser acolhidos com fé e gratidão. Gostaria, portanto, de encorajar também os fiéis e comunidades cristãs a fazer uso dessas ferramenta para conhecer e aprofundar o conteúdo de nossa fé. Isso se tornará semelhante a uma maravilhosa sinfonia, em que se fala de Deus e de seu amor e se convida a nossa firma adesão e ativa resposta.

Para se ter uma idéia do interesse que ainda hoje pode suscitar a leitura das Sentenças de Pedro Lombardo, proponho dois exemplos. Inspirado pelo comentário de Santo Agostinho ao livro do Gênesis, Pedro se pergunto o motivo por que a criação da mulher veio da costela de Adão e não de sua cabeça ou seus pés. Pedro explica: “Não foi formada como uma dominadora ou uma escrava do homem, mas sua companheira” (Sentenças 3, 18, 3). Então, sempre com base no ensinamento patrístico, acrescenta: “Nesta ação está representado o mistério de Cristo e da Igreja. Do mesmo modo que a mulher foi formada da costela de Adão enquanto ele dormia, também a Igreja nasceu dos sacramentos, que começaram a fluir a partir do lado de Cristo adormecido na Cruz, sangue e água com os quais somos redimidos das penas e purificados da culpa” (Sentenças 3, 18, 4). São reflexões profundas e válidas ainda hoje quando a teologia e a espiritualidade do matrimónio cristão aprofundaram bastante a analogia com a relação esponsal entre Cristo e a sua Igreja.

Em outra passagem de sua obra principal, Pedro Lombardo, tratando dos méritos de Cristo, se pergunta: “Por qual razão, então, [Cristo] quis sofrer e morrer, se suas virtudes já eram suficientes para obter todo o mérito?”. Sua resposta é
incisiva e eficaz: “Por ti, não para si mesmo!”. Ele continua com outra pergunta e outra resposta, que parecem reproduzir as discussões que tiveram lugar durante as aulas dos mestres de teologia da Idade Média: “E, nesse sentido, ele sofreu e morreu por mim? Sua paixão e sua morte foram para ti exemplo e causa. Exemplo de virtude e humildade, causa de glória e libertação; exemplo dado por Deus obediente até à morte, por causa de tua liberdade e felicidade” (Sentenças 3, 18, 5).

Entre as mais importantes contribuições oferecidas por Pedro Lombardo para a história da teologia, eu recordaria o seu tratamento com relação aos sacramentos, sobre os quais deu, eu diria, uma definição definitiva: “O sacramento, em sentido estrito, é um sinal da graça de Deus e forma visível da graça invisível, de tal modo que leva à imagem e essência da causa” (4, 1, 4). Com esta definição, Pedro Lombardo capta a essência dos sacramentos: são a causa da graça e tem a capacidade de comunicar realmente a vida divina. Os teólogos posteriores não abandonaram essa visão e utilizarão também a distinção entre o material e o elemento elemento formal, introduzido pelo “Mestre das Sentenças”, como era chamado Pedro Lombardo. O elemento material é a realidade sensível e visível, suja forma são as palavras pronunciadas pelo ministro. Ambos são essenciais para uma celebração completa e válida dos sacramentos: a matéria, a realidade com a qual o Senhor nos toca visivelmente, e a palavra que dá significado espiritual. No Batismo, por exemplo, o elemento material é a água que se derrama sobre a cabeça da criança e o elemento formal são as palavras “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” Lombardo também clarifica que somente os sacramentos transmitem objetivamente a graça divina e que são sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimónio (cf. Sentenças 4, 2, 1).

Queridos irmãos e irmãs, é importante reconhecer o quanto isso é importante e essencial para toda a vida cristã sacramental, na qual o Senhor transmite aquela matéria, na comunidade da Igreja, que toca e transforma. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica, os sacramentos são “forças que fluem do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante, sob a ação do Espírito Santo” (n. 1116). Neste Ano Sacerdotal, que estamos celebrando, exorto os sacerdotes, sobretudo ministros encarregados das almas, a terem uma intensa vida sacramental, motivo de ajuda aos fiéis. A celebração dos sacramentos seja marcada pela dignidade e decoro, favoreça o recolhimento pessoal e a participação da comunidade, no sentido da presença de Deus e o ardor missionário. Os sacramentos são o grande tesouro da Igreja e cada um de nós tem a tarefa de celebrá-lo com frutos espirituais. Neles, um evento sempre surpreendente toca nossa vida: Cristo, através dos sinais visíveis, que vêm ao nosso encontro, nos purifica, nos transforma e nos torna participantes de sua amizade divina.

Queridos amigos, estamos juntos ao final deste ano e às portas do novo ano. Espero que a amizade de nosso Senhor Jesus Cristo vos acompanhe todos os dias deste ano que está prestes a começar. Possa essa amizade de Cristo ser nossa luz e guia, ajudando-nos a ser homens de paz, da sua paz. Feliz Ano Novo para todos vós!

O Papa dirigiu as seguintes palavras aos peregrinos de língua portuguesa

Amados peregrinos de língua portuguesa, agradecido pelos votos, preces e sinais de amizade que tivestes para comigo nestes dias de festa em honra do Deus-Menino, de coração desejo a todos um Ano Novo feliz, colocando vossa vida e família sob a protecção da Virgem Maria, para serdes autênticos amigos do seu Filho Jesus e corajosos construtores do seu Reino no mundo. Assim Deus vos abençoe!

Ana vê por fim Deus no Seu Templo

Fonte: Evangelho Quotidiano

Como é que o homem, com o seu olhar tão limitado, pode abranger o Deus que o mundo não pode abarcar? O amor não se incomoda de saber se uma coisa é adequada, conveniente ou possível. O amor […] ignora a medida. Não se consola com o pretexto de que é impossível; a dificuldade não o detém […]. O amor não consegue deixar de ver quem ama. […] Como acreditar que se é amado por Deus sem O contemplar? Assim, o amor que deseja ver Deus, mesmo que não seja racional, é inspirado pela intuição do coração. Foi por isso que Moisés ousou dizer: «Se alcancei graça aos Teus olhos, revela-me as Tuas intenções (Ex 33, 13ss.), e o salmista: «Mostra-nos o Teu rosto» (cf. 79, 4). […]

Por conseguinte, conhecendo o desejo que os homens têm de O ver, Deus escolheu, para Se tornar visível, um meio que beneficiasse todos os habitantes da terra, sem com isso prejudicar o céu. Pode a criatura que Deus fez semelhante a Ele neste mundo ser considerada pouco digna no céu?: «Façamos o ser humano à Nossa imagem, à Nossa semelhança» disse Deus (Gn 1, 26). […] Se Deus tivesse retirado do céu a forma de um anjo, ter-Se-ia mantido invisível; se, em contrapartida, tivesse encarnado na terra numa natureza inferior à do homem, teria ofendido a divindade e teria rebaixado o homem, em vez de o elevar. Portanto, que ninguém, irmãos muito caros, considere uma ofensa a Deus o facto de Ele ter vindo aos homens como homem, e de ter encontrado este meio para ser visto por nós.

São Pedro Crisólogo

“E Ele lhes era submisso” – São Bernardo

 Indicação: Ecclesia Una

 Fonte: São Pio V
“E Ele lhes era submisso”. Quem era submisso a quem? Deus ao homem! Deus, repito-o, a Quem os Anjos são submissos, Que os Principados e Potestades obedecem, era submisso a Maria, e não somente a Maria, mas a José também, por causa de Maria. Maravilhemo-nos, pois, com os dois, e escolhamos o que maravilha mais: se é a benigníssima condescendência do Filho, ou a excelentíssima dignidade da Sua Mãe. Ambas nos estupefazem, e ambas são milagres. Que Deus obedeça uma mulher, é humildade ímpar; que uma mulher reja Deus, uma elevação incomparável. Em louvor às virgens, canta-se, particularmente, que seguem o Cordeiro por onde quer que Ele vá. De que louvor, portanto, é digna Aquela que até vai diante d’Ele?
Aprende, ó homem, a obedeceres! Aprende, ó terra, a te submeteres! Aprende, ó pó, a seres submisso! O Evangelista, falando de teu Criador, disse: “E Ele lhes era submisso”. E não há dúvida de que isso nos evidencia que Deus era submisso a Maria e José. Que vergonha para ti, ó ser de pó e cinzas! Deus Se abaixou, e tu, ó criatura tirada da terra, te exaltas? Deus Se submeteu ao homem, e tu, sempre tão ávido por te fazer senhor dos homens, ousas desmandar teu próprio Criador? Porque todas as vezes que Eu desejo preeminência sobre os homem, me esforço para superar Deus. Porque d’Ele foi dito: “Ele lhes era submisso”. Se tu desdenhas, ó homem, seguir o exemplo do homem, pelo menos poder seguir o exemplo do teu Criador sem desonra. Se, por acaso, não podes segui-l’O onde quer que Ele vá, digna-te, ao menos, segui-l’O nesse ponto no qual Ele Se rebaixou, desprezando a própria reputação pelo bem daqueles como tu.
Se não podes entrar para os caminhos sublimes da virgindade, ao menos segue Deus pela estrada seguríssima da humildade. Quem se desvia desse caminho reto, mesmo que seja virgem, a verdade seja dita, não segue o Cordeiro por onde quer que Ele vá. O homem humilde, mesmo que manchado de pecado, segue o Cordeiro; a virgem, se é orgulhosa, também segue; mas nenhum dos dois O segue por onde quer que Ele vá. O primeiro não pode atingir a pureza do Cordeiro, porque Ele é sem mancha; a última não se digna descer à Sua mansidão, que cala não diante do tosquiador, mas fica mudo diante do próprio assassino. Ainda assim, o pecador que segue em humildade escolheu um caminho mais salvífico do que o homem orgulhoso que segue em virgindade; porque o humilde presta satisfação, e é limpo de sua impureza, mas a castidade do orgulhoso é manchada pela sua soberba.

PAPA EXPLICA QUEM FOI PEDRO LOMBARDO

Cidade do Vaticano, 30 dez (RV) – Bento XVI concedeu nesta quarta-feira a última audiência geral de 2009. Em seu encontro com fiéis e turistas esta manhã na Sala Paulo VI, o pontífice prosseguiu a série de catequeses que vem fazendo sobre a cultura cristã da Idade Média. O tema de hoje foi o teólogo Pedro Lombardo.

Pedro Lombardo ensinou na prestigiosa escola de Notre-Dame; magistério este, que motivou e modelou a obra-prima que nos deixou: Sentenças. Composto no século XII, seria o livro usado em todas as escolas de teologia até ao século XVI. O método teológico consistia em dar a conhecer, estudar e comentar o pensamento dos Padres da Igreja. Depois de ter cuidadosamente recolhido as sentenças – isto é, as fontes patrísticas –, ele distribuiu-as num quadro sistemático e harmonioso, que inclui quase todas as verdades da fé católica.

“Face aos riscos atuais de fragmentação e desvalorização de algumas verdades, o papa destacou a exigência irrenunciável da apresentação orgânica da fé, pois as diversas verdades iluminam-se mutuamente, e apresentam, em sua visão total e unitária, a harmonia do plano de salvação e a centralidade do mistério de Cristo” – disse aos presentes.

Bento XVI repetiu esta explicação em várias línguas, como o faz sempre nas audiências abertas ao público. E na sequência, saudou diretamente os peregrinos de língua portuguesa, agradecendo os votos, preces e sinais de amizade recebidos nestes dias de festa. Naturalmente o papa fez votos de felicidades a todos pelo ano novo que se inicia.

5 NOMEAÇÕES EPISCOPAIS PARA O BRASIL

Cidade do Vaticano, 30 dez (RV) – Foram nomeados hoje pelo Santo Padre bispos para 5 dioceses do Brasil:

Para Goiânia (GO), como auxiliar, vai Padre Waldemar Passini Dalbello, do clero da Arquidiocese de Brasília (DF), atual reitor do Seminário interdiocesano da capital goiana. Filosofo e teólogo, o hoje nomeado Dom Waldemar é também engenheiro eletrônico, formado pela Universidade Federal de Goiás.

Nascido em 6 de junho de 1966 em Anápolis, foi ordenado sacerdote em Brasília, em 1994.

Dentre suas inúmeras tarefas, colabora com a Nunciatura Apostólica e ensina Sagrada Escritura no Instituto “Santa Cruz” de Goiânia.

Também São Paulo recebe um novo bispo auxiliar: o Padre Edmar Peron, do clero de Maringá (PR), cidade da qual é nativo. Até agora, era reitor do Seminário arquidiocesano “Santíssima Trindade”. Após estudar também em Londrina e Roma, foi ordenado e encardinado em sua diocese, onde desempenha diversas funções.

Na capital paulista, o novo bispo Dom Edmar substitui Dom Pedro Luiz Stringhini, nomeado pelo Santo Padre como bispo titular de Franca, no estado de São Paulo.

Dom Pedro Luiz nasceu em 1953 em Laranjal Paulista, Arquidiocese de Botucatu. Estudou filosofia e teologia, letras na Faculdade Anchieta de São Paulo (1972-1974) e obteve a licença em Sagrada Escritura em Roma.

Desde 1980 está encardinado no clero de São Paulo, e a partir de 2001, foi auxiliar da arquidiocese. Dom Pedro Luiz é Presidente da Comissão Episcopal de Serviço da Caridade, Justiça e Paz e membro do Conselho Permanente de Pastoral da CNBB.

O Paraná cede também outro bispo ao estado de São Paulo com a transferência de Dom Vicente Costa, bispo de Umuarama, para Jundiaí.

Dom Vicente é maltês, mas a partir dos estudos de teologia viveu em Curitiba e sucessivamente em Roma, como aluno da Universidade Gregoriana. Em 1972 foi ordenado em Malta e no ano seguinte, retornou ao Brasil, para servir a Arquidiocese de Maringá.

Foi nomeado bispo auxiliar de Londrina em 1998, e titular de Umuarama em 2002.

Enfim, Belém, arquidiocese vacante desde a nomeação de Dom Orani Tempesta para o Rio de Janeiro, ganha hoje um novo metropolita, na pessoa de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Palmas (TO) desde 1996.

Dom Alberto é natural de Belo Horizonte, e em maio de 2010 completa 60 anos. Fez seus estudos na capital mineira e foi ordenado em 1973. Atuou em seu estado até ser nomeado como auxiliar de Brasília, em 1991.

O arcebispo é membro de vários organismos, como o Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) e a Comissão de Textos Litúrgicos da CNBB; é Presidente do Regional Centro-Oeste e Vice-Presidente do Conselho Administrativo da Fundação Populorum Progressio desde 1998. É também assistente nacional do Movimento de Renovação Carismática, e em 2007 foi delegado da V Conferência Geral do CELAM.
(CM)

SANTO TOMÁS BECKET

Cidade do Vaticano, 29 dez (RV) – Tomás Becket nasceu em Londres em 1117. Recebeu de Deus dons excepcionais a tal ponto que foi feito chanceler do reino. Estava à vontade: possuía ambição, audácia, beleza e gosto. Sabia defender os direitos do príncipe, seu íntimo amigo e companheiro nos momentos de diversão e lazer.

Sete anos após subir ao trono, o rei Henrique II, que já o tinha como seu conselheiro, o escolheu como primaz de Cantuária. Antevendo situações futuras, Tomás disse ao rei: “Senhor, se Deus permitir que eu me torne arcebispo de Cantuária, perderei a amizade de Vossa Majestade.”

Foi ordenado sacerdote em 3 de junho de 1161 e bispo no dia seguinte.

As divergências surgiram imediatamente, pois o arcebispo não aceitava as ingerências do poder civil na Igreja. Tomás teve de fugir para a França e lá viveu seis anos exilado na abadia de Pontigny, um mosteiro cisterciense.

Através dos conselhos do Papa Alexandre III, Tomás estabeleceu uma paz formal com o rei.
Ao ser acolhido triunfalmente pelos fiéis, disse: “ Voltei para morrer no meio de vocês”.
Imediatamente repudiou os bispos que haviam pactuado com o rei, aceitando seu poder abusivo.
O rei reagiu dizendo: “ Quem me livrará deste padre briguento?”

Quatro cavaleiros armados foram para Cantuária. O arcebispo avisado, não fugiu, mas se dirigiu para a Catedral, se paramentou, disse: “ O MEDO DA MORTE NÃO DEVE FAZER-NOS PERDER DE VISTA A JUSTIÇA” e esperou os assassinos. Deixou-se apunhalar sem opor resistência, murmurando: “Aceito a morte pelo nome de Jesus e da Igreja.”

Como conseqüência o rei foi obrigado a limitar suas pretensões sobre a Igreja da Inglaterra e a pedir perdão ao papa.

O famoso poeta e dramaturgo anglo-americano T. S. Eliot escreveu, em 1935, sobre esse fato em “Assassinato na Catedral”.

Nessa interpretação literária T. S. Eliot destacou a escolha do martírio como a vitoriosa superação de quatro tentações de Santo Tomás: a atração pelo prazer, fortíssima em sua juventude; o desejo de poder; as considerações oportunistas; o orgulho da santidade.

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