Neste domingo o Evangelho e as leituras chamam a nossa atenção para a vinda iminente do Senhor. Este III Domingo do Advento tem um tom de alegria: é conhecido como Domingo Gaudete (“Alegrai-vos”), porque no Missal, a Antífona de Entrada diz: “Gaudete in Domino semper: iterum dico: gaudete! Dominus enim prope est” Isto é: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” – é o mesmo convite que a segunda leitura nos faz (cf. Fl 4,4s). Ele se aproxima cada dia mais, mesmo que muitos ainda não o conheçam. Ele vem trazer a libertação. Não uma libertação à qual os “teólogos da libertação” ensinam abusivamente. Não é uma mera libertação sócio-econômica. É sim a libertação da alma, do espírito, da humanidade que deixava-se dominar pelo caos do pecado.
João não falava apenas do seu tempo quando anunciou o Senhor aos fariseus, dizendo: «Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as Suas veredas» (Mt 3, 3). João brada hoje em nós, e o trovão da sua voz abala o deserto dos nossos pecados. Mesmo abafada pelo sono do martírio, a sua voz ressoa ainda, e continua a dizer-nos: «Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as Suas veredas». […]João Batista ordenou, pois, que preparássemos os caminhos do Senhor. Vejamos que caminho preparou ele para o Salvador. Desde o princípio, traçou e ordenou na perfeição o caminho para a chegada de Cristo, pois foi em todas as coisas sóbrio, humilde, contido e virgem. É ao descrever todas estas virtudes que o evangelista afirma: «João trazia um trajo de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre» (Mt 3, 4). Que sinal maior de humildade pode haver num profeta do que o desprezo pelas vestes elegantes, em troca de pêlos rugosos? Que mais profundo sinal de fé pode haver do que estar sempre pronto, de rins cingidos, para desempenhar todas as tarefas servis? Que marca de abstinência mais notável pode haver, do que a renúncia às delícias desta vida, para se alimentar de gafanhotos e mel silvestre?
Todos estes comportamentos do profeta eram, a meu ver, proféticos em si mesmos. Que o mensageiro de Cristo se vestisse de pêlos de camelo significava, muito simplesmente, que Cristo, ao vir a este mundo, Se revestiria do nosso corpo humano, deste tecido grosso, enrugado pelos nossos pecados. […] O cinto de couro significa que a nossa frágil carne, orientada para o vício antes da vinda de Cristo, seria por Ele conduzida à virtude.
Sermão 88 (a partir da trad. Année en Fêtes, Migne 2000, p. 37)