A verdadeira riqueza é Deus

Se no domingo passado fomos convidados a um encontro com Cristo por meio da oração, agora somos chamados a grande virtude da humildade.

A primeira leitura já é ela um ensinamento para nos desapegarmos das vaidades e prazeres materiais, supérfluos: “Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Ecl 1,2). Assim começa o livro do Eclesiastes. A vaidade pode garantir uma vida melhor neste mundo, mas não nos dá a certeza de uma bem-aventurança, de uma vida moldada nos ensinamentos de Jesus Cristo e dos santos, e mais ainda: busca inserir-nos em um contexto totalmente adverso aos ensinamentos evangélicos.

Frutuoso são os ensinamentos provenientes do “Diálogo” entre Deus e Santa Catarina de Sena. Eis que Deus diz àquela fiel serva: “A soberba não leva ao céu, mas para o mais profundo do inferno” (Edit. Paulus, pag. 274). Quanta prepotência; quanta arrogância; quanta vaidade; quanto orgulho vemos no mundo de hoje! A sociedade está a descaracterizar-se e a privar-se de um intrínseco relacionamento com Deus, pois limita seu olhar apenas às possibilidades terrenas, não podendo ver, assim, o futuro espiritual destinado a cada um de nós, que deve ser o encontro salvífico com Deus.

Na segunda leitura São Paulo nos exorta:

“Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3, 1-3).

Toda esta segunda leitura põe-nos em um contexto que caracteriza fortemente a nossa sociedade atual.

Ressuscitar com Cristo é um convite que cada dia renova-se a todos os homens, para que, conhecendo-O, possam amá-lO. E mais ressonante ainda é o objetivo desta ressurreição: alcançar as coisas do alto. O alto é a meta do cristão! É para lá que ele deve caminhar, não sozinho, mas com Cristo. A nossa vida nova, o nosso erguer-se junto com Cristo (synegeirö=conresurgere), se dá pela plena adesão aos seus ensinamentos, anunciados zelosamente pela Santa Igreja e propagados para a conversão das almas e a plena salvação de todos.

“Buscai as coisas do alto!” Não as terrenas, mas as do alto. As que provêm de Deus. Sim, não são fáceis as condições, para tais exige-se uma constante renúncia, no entanto, os frutos que dela provém perpassam esta vida e nos põe em uma profunda união com Deus.

Não pode progredir na vida quem, antes de tudo, não busca progredir na fé. E aqueles que sobrepõem-se a esta necessidade devem ter em mente que “somente o poder que se coloca sob a medida e o juízo do céu – isto é, de Deus – pode tornar-se poder para o bem. E só o poder que se coloca sob a benção de Deus pode ser seguro” (Bento XVI, Jesus de Nazaré, pag. 49).

“Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria.” (Cl 3, 4-5).

Eis aqui onde muitos santos encontraram conforto em suas vidas. Aqui está a razão porque tudo renunciaram e deixaram-se totalmente preencher por Cristo. Eis o nosso consolo! Os santos (temos total certeza) virão na glória com Cristo. Essa vinda é dada, não por não pecarem, mas porque, sendo pecadores, reconheceram a grandeza de Deus, e humilharam-se a esta soberana bondade. Há uma frase que define a atitude de muitos, à qual seria desnecessário acrescentar mais alguma coisa: “Os santos concordam que são pecadores; só os pecadores acham que santos” (Peter Kreeft).

Nós, muitas vezes, nos iludimos com as vãs “glórias” deste mundo, nos exaltamos a tal ponto que não percebemos a nossa insignificância. O próprio Jesus recorda-nos, e mais que isso, impõe-nos esta condição para o seu fiel seguimento: “Quem se exalta, pelo orgulho, será humilhado; e quem se humilha será exaltado” (Mt 23, 12).

Ora, para o alto rumamos e do alto viremos no dia em que Cristo aparecer em sua glória. Mas como se dará esta subida? Dar-nos-á esta resposta o nosso Santo Padre Papa Bento XVI, felizmente reinante, que de forma sublime assim nos define: “A subida para Deus acontece precisamente na descida ao serviço humilde, a descida ao amor, que é a essência de Deus e, portanto, a verdadeira força purificadora, que capacita o homem para conhecer Deus e vê-lo”.
(Ibidem, p. 95).

Na humildade e no perdão Cristo manifestou a sua glória. Humilhado, não quis vingar-se, mas orou pelos seus malfeitores. Ó Senhor, ensina-me a também ser humilde. Ensina-me a curvar-me e a lavar os pés dos meus próximos. Ensina-me que não é pela grandeza que conquistarei o Reino dos céus, mas que quanto menor for maior serei.

Pela humildade nós poderemos contemplar a face de Deus. E são tantos os que estão a privar-se dela. Tantos que põe a confiança no dinheiro e no prazer, mas não buscam beber da verdadeira fonte, aquela da qual emana água viva. Não basta sermos homens novos, se não tomarmos atitudes de tal. “Não é suficiente ir em frente, é preciso ver para onde se vai!” (Bento XVI, Homilia na Missa de Corpus Christi, 2008).

No evangelho Jesus suscita o objetivo de sua missão: Anunciar o Reino de Deus. Ao ser indagado por um homem que pedia-Lhe para convencer o seu irmão que repartisse os bens com ele, o Senhor o diz: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” (Lc 12, 14). Cristo não é divisor de bens materiais. Quem apega-se a bens materiais não serve para seguir Jesus. Quem se lamenta por segui-lO e não ter uma vida melhor (sinceramente digo) por favor não O siga. Ele não necessita e nem quer pessoas que se lamentem. O cristão não pode ser alguém que carpe-se por seguir Jesus! Ele almeja almas que dêem testemunho do seu nome; que não tenham nenhum resquício por ter abandonado tudo para segui-lO, mesmo que seja para a morte. E aí está a nossa verdadeira riqueza: em Deus. Deus é a única e verdadeira riqueza de um cristão. Não será mais impulsionado a esbanjar os prazeres deste mundo, aquele que tiver Deus como centro de sua vida. Ele deixa-nos um alerta: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12, 15).

Maria, nossa mãe, a Serva do Senhor, nos ajude a tornamo-nos sempre mais dignos do Reino de Deus. Que ela nos torne cada dia mais humildes com o seu exemplo.

Fraternalmente, em Cristo Jesus e Maria Santissima!

Perseverai e orai!

Neste domingo, a providência divina quis que nos fossem apresentadas as leituras que, poderíamos dizer, são persistentes, além de chamar nossa atenção, mais uma vez, para a necessidade da oração. Verdadeiramente, a persistência pelas coisas celestiais é algo importante na vida cristã. Só quem persiste pode chegar a uma meta. Por isso, hoje, Jesus convida-nos a uma “santa persistência”. Uma perseverança constante em não desanimarmos diante das dificuldades, a sermos cristãos autênticos. Por esta perseverança foram abertas aos mártires as portas do céu.

Na primeira leitura, chama-nos bastante atenção, a atitude de Abraão em que, mesmo diante de Deus, insiste pela salvação de Sodoma; no entanto, não havia nela nenhum justo. Há, bem verdade, ainda hoje, uma dúvida sobre qual pecado teria levado a destruição de Sodoma; diverge-se entre o homossexualismo ou a vida depravada que muitos habitantes estariam levando, fala-se até mesmo em xenofobia. No entanto muitos concordam que o verdadeiro motivo seria a prática homossexual, orgias e outras depravações morais.

Entretanto, façamos uma analogia com o que o texto quer dizer-nos hoje. Se Abraão indagava Deus sobre a sua misericórdia infinita, também muitos hoje duvidam da misericórdia de Deus. Para estes, o próprio texto já responde, mediante a persistência do pai de muitas gerações diante de Deus, quando ele pergunta ao Senhor se com cinqüenta justos Ele pouparia a cidade, e vai baixando o número até dez, e Deus lhe diz que por dez justos pouparia a cidade. Na cidade, porém, não havia nenhum justo. Os que lá se encontravam, Deus havia mandado sair. Ora, nosso Deus não é um somente um Deus de ira, mas também de justiça; e a sua justiça se estende por toda a terra. Ele deseja que todos se voltem para Ele, que mergulhem na sua inexaurível misericórdia e nela possam permanecer a todo instante, mesmo que sejamos tentados pelo mundo a dela nos afastarmos. O próprio Jesus, na sua aparição a Santa Faustina, fala da grandeza da misericórdia, e nos diz que esta precederá a própria Justiça: “Antes de vir como justo Juiz, abro de par em par as portas da Minha misericórdia” (Diário 1146; cf. 1728); e ainda: “Que o pecador não tenha medo de aproximar-se de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas” (Diário 50).

Na segunda leitura São Paulo nos chama a atenção para algo muito interessante: uma nova identidade. Deixarmos de lado o homem velho e tomarmos posse do novo homem: “Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus” (Cl 2, 12). Vale também para nós tais palavras. Nos dias de hoje vemos o imenso número de pessoas que preferem estar apegadas à velha vida, fora dos preceitos evangélicos. O apóstolo nos convida a, com Cristo, adentrarmos a esta nova fase, a esta verdadeira conversão. Se pelo pecado estávamos mortos e o nosso laço de união com Deus foi cortado pelos nossos primeiros pais, com Jesus a humanidade encontrou novo sentido; Ele, Sumo e Eterno Sacerdote, reatou este laço e firmou-o novamente com algo que jamais poderá alguém cortá-lo: o seu preciosíssimo sangue, derramado pela nossa salvação e pela redenção do mundo. A morte de Cristo, sua total doação, é a melhor prova de que Deus ama a humanidade, de que não quer que ela afaste-se d’Ele por causa de ideologias ou de qualquer outra coisa.

O Santo Evangelho chama-nos a uma meditação do Pai Nosso, mas também convida-nos a voltarmos nossos olhos para duas parábolas que Jesus nos apresenta: Em que sentido as palavras desta oração poderiam ser comparadas aos nossos dias. E assim podemos inferir:

Não pode dizer “Pai nosso” quem não busca viver como Igreja e como filho de Deus.

Não pode dizer “santificado seja o vosso nome” quem não tem o nome de Deus como Santo e não o respeita.

Não pode dizer “venha a nós o vosso reino” quem se preocupa apenas com os bens materiais e superficialidades.

Não pode dizer “seja feita a vossa vontade” quem apenas busca fazer a própria vontade e não escuta a voz de Deus. Não pode dizê-lo quem apóia o aborto e os tantos meios de ataques a vida humana.

Não pode dizer “assim na terra como no céu” quem apenas vive para si mesmo e esquece que estamos todos peregrinando, rumo ao céu.

Não pode dizer “o pão nosso de cada dia nos daí hoje” quem nega o pão aos necessitados, quem é egoísta, e quem nega a presença de Jesus na Eucaristia, Pão espiritual para nossa salvação.

Não pode dizer “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” quem nunca perdoa o irmão e sempre deseja ser perdoado, levando uma vida hipócrita. E só com o perdão, que gera a unidade, poderemos alcançar a pasz no mundo.

Não pode dizer “Não nos deixeis cair em tentação” quem sempre se expõe a ela, levando uma vida desregrada.

Não pode dizer “mas livrai-nos do mal” quem pratica o mal e adere aos projetos do maligno.

Não pode dizer “Amém” quem não se compromete a viver conforme o plano de Deus.

Por fim, as parábolas nos convidam a confiarmos em Deus. A oração constante, insistente e que tenha uma boa finalidade, sempre será atendida por Deus. Como lembra a parábola, se não for pela boa intenção, atenderá pelo menos pela insistência. E Jesus nos diz: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á” (Lc 11, 9).

O Pai celeste só sabe e só pode dar coisas boas aos seus filhos. Ele nunca renegará uma oração sincera e confiante, um verdadeiro clamor que insurge das entranhas humanas e eleva-se ao mais alto dos céus, e Ele sempre estará disposto a atendê-la. “E que este clamor esteja impregnado de toda a verdade sobre a misericórdia que tem expressão tão rica na Sagrada Escritura e na Tradição, e também na autêntica vida de fé de tantas gerações do Povo de Deus. Com este clamor apelamos, como fizeram os Autores sagrados, para o Deus que não pode desprezar nada daquilo que criou  (Sab 11, 24), para o Deus que é fiel a Si próprio, à Sua paternidade e ao Seu amor” (Papa João Paulo II, Dives in Misericórdia, cap. 8, § 15).

Ajudemos a nossa humanidade a redescobrir o inestimável valor da oração, que só terá valor eficaz quando o homem, consciente de sua miséria, voltar-se ao Senhor, para que Ele possa, com seu beneplácito e com sua ação salvífica, instaurar em nosso meio o Reino de paz e de amor.

Maria Santíssima, mulher feita oração, nos ajude nesta caminhada em busca dos verdadeiros valores da oração.

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Eu creio na Igreja!

Basilica de São PedroFundada por Jesus Cristo sobre o bem-aventurado Pedro, a Igreja, sinal e instrumento de salvação, tem a missão de dar continuidade a presença real de Cristo em nosso meio, por meio da Eucaristia, e da transmissão da Boa Nova a todos os homens e mulheres desta humanidade, que “geme como em dores de parto” (Rm 8, 22). Este caráter peculiar ganha mais força ainda quando sabe-se que ela é corpo de Cristo, e nós somos partes integrais que a compõe.

São Paulo dirá, de forma esplêndida, que: “[A] Igreja de Deus vivo, [é] coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3, 15). E sendo assim, ela recebeu esta imperiosa missão de fazer com que a humanidade conheça a única Verdade (Jesus), que ela contém e deseja transmitir ardorosamente aos povos que não conhecem Cristo, ou buscam ocultá-lo de suas vidas. Mas hoje uma forte onda anti-católica alastrou-se por todos os cantos. A Palavra de Deus, transmitida pela santa Igreja, e que graças a ela perpassou estes dois mil anos, já não faz efeito em muitas pessoas, está a perder seu valor em muitos âmbitos da sociedade, mas a Igreja, confiante nas palavras de Cristo, nunca abandonará sua missão para satisfazer o seu bel prazer; no-lo podemos constatar mediante as grandes perseguições que ela sofreu e sofre, e mediante o sangue de muitos mártires, derramado para que assim pudesse fertilizar os solos estéreis. E isto prova que não é a sua moral que a Igreja prega, não seus ensinamentos, senão e unicamente os de Cristo, para isto ela existe e por isso ela é perseguida.

O Concílio Ecumênico Vaticano II, assim ensina: “Fundado na Escritura e Tradição, ensina que esta Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com efeito, só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos presente no Seu corpo, que é a Igreja; ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Batismo (cfr. Mc. 16,16; Jo. 3,15), confirmou simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta do Batismo. Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar” (Lumen Gentium nº 14). E São Clemente de Alexandria afirma-nos de igual modo: “Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens, e se chama Igreja” (Paed, 1,6). Quanto aos não-católicos a Lumen Gentium, diz: “Deste modo, o Espírito suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a prática efectiva em vista de que todos, segundo o modo estabelecido por Cristo, se unam pacificamente num só rebanho sob um só pastor (31). Para alcançar este fim, não deixa nossa mãe a Igreja de orar, esperar e agir, e exorta os seus filhos a que se purifiquem e renovem, para que o sinal de Cristo brilhe mais claramente no seu rosto” (nº 15). Mas não quero ater-me a este assunto sobre questões de salvação agora, quero apenas mostrar a necessidade insubstituível da Igreja.

Não é qualquer instituição, mas é aquela que Cristo escolheu para ser sua esposa (2Cor 11,2; Ap 21,9). É nesta instituição que quero perseverar, é por ela que desejo me consumir, e sei que não será em vão.

Muito me admira a veemencia e voracidade com que muitos atacam, injustamente, a Igreja. Quanta falta de sabedoria; quanta hipocrisia a uma instituição que sempre procurou fazer o bem. É errôneo, e mais que isso, absurdo, culpar a Igreja por erros que partem de seus filhos. Mas neste momento recordo-me sempre das sábias palavras de Santo Epifânio, que logo nos primeiros séculos ressaltava a necessidade da união com a Igreja: “A Igreja é a finalidade de todas as coisas”. (Haer. 1,1,5)“ ‘Há um caminho real’, que  é a Igreja católica, e uma só senda da verdade. Toda heresia, pelo contrário, tendo deixado uma vez o caminho real, desviando-se para a direita ou para a esquerda, e abandonada a si mesma por algum tempo, cada vez mais se afunda em erros. Eia, pois, servos de Deus e filhos  da  Igreja  santa  de Deus, que conheceis  a regra segura da fé, não deixeis que vozes estranhas   vos  apartem  dela  nem  que  vos  confundam as  pretensões  das  erroneamente  chamadas  ciências”  (Haer.59,c. 12s).

Não obstante os constantes ataques a Igreja nunca perderá sua raiz, sua originalidade: os apóstolos e a Trindade, por isso mesmo ela se torna Ícone da Trindade. Pois sua raiz remete a estas três pessoas que agem continuamente nela.

Quando se diz que a Igreja é “santa e pecadora” vejo ai uma certa “precipitação”, e por que não uma confusão entre a Igreja como instituição, na sua originalidade, e o clero. O clero faz parte da Igreja (e é a parte mais importante, pois a eles cabe governar, administrar os sacramentos, tornar presente o Cristo, por meio da Eucaristia), porém não são somente eles a Igreja. A Igreja é a santa e infalível instituição que Jesus quis deixar aos homens, e por isso a edificou sobre Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Ela é – como bem recordou o Papa Leão XIII – “a obra imortal do Deus de misericórdia” e tem por fim “a salvação das almas e a felicidade eterna” (Immortale Dei, 1).

Outro ponto a si questionar desta afirmação que a Igreja é também pecadora, estaria no fato que Cristo é a Cabeça da Igreja (cf. Cl 1, 18). Ora, se o próprio Senhor a governa, como poderia ela errar? Teria Cristo abandonado sua Igreja? Será que Ele esqueceu-se de sua promessa? Não meus irmãos. Em vão tentam derrubar a Igreja, mas nunca conseguirão. O Senhor, que age em sua Igreja, é maior que todas as tribulações e ventos impetuosos, porém passageiros. “Com efeito, é à própria Igreja que foi confiado o Dom de Deus. É nela que foi depositada a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor da incorruptibilidade, confirmação de nossa fé e escada de nossa ascensão para Deus. Pois lá onde está a Igreja, ali também está o Espírito de Deus; e lá onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda graça” (Catecismo da Igreja Católica, 797).

Eis, pois, combatentes do Senhor, levantemos o estandarte da vitória, a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, e permaneçamos sempre firmes nesta Igreja. Mostremos ao mundo o que realmente é a nossa Igreja. Não a abandonemos nunca, pois quem está com a Igreja Católica, está com Jesus Cristo. E crer na Igreja não é nada mais do que mostrar plena adesão a vontade de Jesus e aos seus ensinamentos.

Algumas estatísticas:

Com certeza nem todos sabiam das estatísticas que passarei agora.

No campo da instrução e da educação a Igreja administra 64.307 maternais, freqüentados por 6.394.295 alunos; 92.461 escolas primárias para 28.511.698 alunos; 39.404 institutos secundários para 16.454.439 alunos. Além disso, segue 1.715.556 de jovens das escolas superiores e 2.364.899 universitários. Este setor da atividade pastoral da Igreja marca um incremento em todas as faixas de idade: em relação ao ano precedente, os maternais aumentaram em 1.204, os primários em 911, os secundários em 2129.

Os institutos de beneficência e assistência administrados pela Igreja são no total 80.612, assim distribuídos: 5.236 hospitais, 16.679 dispensários, 656 leprosários, 14.794 institutos para idosos e portadores de deficiências, 9.996 orfanatos, 10.634 creches, 12.804 consultórios matrimoniais, 9.813 institutos de outro tipo. O continente com o maior número de estruturas é a América, seguido por Europa, Ásia, África e Oceania.

Estatísticas do site: Santa Sé

Aqui está a verdadeira riqueza da Igreja!

Então, essa era a sua visão da Igreja? Você sabia disso?

Pense bem!

Fraternalmente, em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Escolher a melhor parte

Neste Domingo somos chamados a contemplar Cristo e ouvi-lo em suas palavras. No evangelho é muito bem representada esta ação na figura de Maria, que põe-se aos pés de Cristo para escutá-lo e, ouvindo os ensinamentos do Mestre, se dispõe a fazer sua plena vontade, põe-se em atitude de serviço. Na primeira leitura é caracterizada a figura de Abraão, que serve ao Deus todo poderoso, e sugestiva e intrigante é a figura dos homens que apresentam-se a ele: três homens, representando as três pessoas da Santíssima Trindade.

Assim como Abraão, nós somos convidados a este constante ato de serviço: Humilhar-se diante de Deus, chorar nossas mágoas e pecados, reconhecermo-nos indignos de tamanha misericórdia, para que desta forma ela se manifeste em profusão.

Mas, se por um lado temos a figura de Maria, que põe-se a serviço e está em constante atenção para a mensagem de Jesus, por outro lado temos a figura de Marta, que ocupada com os afazeres da casa, não colocou-se aos pés de Jesus para compreender sua mensagem salvífica. Jesus então lhe diz: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10, 41-42).

Fico pensando como estas palavras de Jesus incidem tão fortemente na sociedade hodierna. Quantas vezes os afazeres deste mundo “sufocam”, por assim dizer, o que realmente é essencial em nossa vida. E não seria extremismo meu dizer que o único essencial em nossa vida é Deus. Não precisamos nos ater a coisas supérfluas, desnecessárias, às quais não nos trará nenhum bem espiritual.

Sei muito bem quão difícil é falar e, mais ainda, combater o espírito de extravagância e de consumismo que este mundo relativista propõe. Porém, urge cada vez mais alto a nós cristãos, tomarmos ciência deste dever e pô-lo em prática. Mesmo que seja o mundo um instrumento de perseguição, mas quem está sob a proteção de Deus, quem se põe sob sua segurança e quem deseja cumprir sua vontade, será sempre amparado por Ele e poderá anunciar, sem nenhum temor, as diversidades de ensinamentos às quais nós devemos combater com o Santo Evangelho e o ensinamento da Santa Mãe Igreja.

Colocar-se aos pés de Cristo é, também, estar em adesão com os seus ensinamentos; e os deixados por  Ele para a Sua Igreja. É saber da necessidade de estarmos sempre atuantes, combatendo as forças do mal. Dirá Pascal: “Cristo morreu de braços abertos, para que nós não vivamos de braços cruzados.” E quantos, infelizmente, cruzam os braços e esquecem-se da missão à qual são chamados.

São Paulo irá dizer na segunda leitura: “Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar em minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos” (Cl 1, 24-26).

Ora, se até Paulo servia a Igreja, quem são hoje tais pessoas que, injustamente, atacam a Igreja e buscam ferir a integridade de seu corpo? Nosso Senhor confiou a Igreja a missão de perpetuar a sua presença na terra, de prefigurar o Seu Reino vindouro, ao qual ansiosos esperamos. Quantos dizem que a Igreja deve ser “reformada”, que é antiquada, retrógrada? Ao invés de reformar a Igreja, reformem seus corações que se fecham a Jesus e à palavra imutável que Ele deixou à sua Igreja.

Peçamos à Virgem Maria o dom da escuta e da humildade, para que, também nós, possamos colocar-nos aos pés de Cristo e escolhermos a “melhor parte”, a qual nem o mundo poderá tirar-nos. T

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Publicado também no: Reflexões Franciscanas

Jesus ou Cristo?

Um tema muito discutido na sociedade atual é sobre o Jesus histórico e o Cristo da Fé. Mesmo sabendo que “o homem histórico Jesus é o Filho de Deus, e o Filho de Deus é o homem Jesus” (Introdução ao Cristianismo, Edit. Herder, pag. 152, Joseph Ratzinger), mas nas últimas décadas surgiu, particularmente dentro da Teologia da Libertação, o conceito que o Jesus histórico, apresentado pela ciência, é unicamente suficiente, o Cristo dos Evangelhos é uma estória. Com isso pretendia-se abalar a credibilidade dos Evangelhos. Este pensamento, criado por Bultmann, insere-se em um dos mais absurdos – e por que não o mais absurdo – pensamento da Teologia da Libertação.

O então Padre Joseph Ratzinger, no seu livro Introdução ao Cristianismo, diz:

O dilema dos dois caminhos – de um lado, transpor totalmente ou reduzir Cristologia a História; de outro lado, desvencilhar-se da História, deixando-a para trás como supérflua para a fé – este dilema poderia ser resumido na alternativa que já perpassa a Teologia moderna: Jesus ou Cristo? A Teologia de hoje começa a voltar as costas a Cristo, refugiando-se em Jesus, enquanto historicamente comprovável, para, em seguida, no ápice do movimento, com Bultmann, virar em direção oposta, voltando de Jesus para Cristo fuga, que, todavia, no momento atual, já recomeça a configurar uma nova debanda de Cristo para Jesus (pag. 156).

Eis que estamos diante de uma problemática que afeta muitos dos nossos teólogos e padres da sociedade hodierna. Para muitos, Jesus não passa de um “libertador” social, revolucionário; no entanto, sua essencial missão fica oculta aos olhos de tais pensadores.

Tais erros, infiltrados na Teologia da Libertação, revestem-se de caráter verdadeiro, o que aumenta mais ainda a sua periculosidade, não somente por estar unida a este grupo de ensinamentos marxistas, mas por estar “dentro da Igreja”, por assim dizer. “Com a análise do fenômeno da teologia da libertação torna-se manifesto um perigo fundamental para a fé da Igreja. Sem dúvida, é preciso ter presente que um erro não pode existir se não contém um núcleo de verdade. De fato, um erro é tanto mais perigoso quanto maior for a proporção do núcleo de verdade assumida” (Eu vos explico a Teologia da Libertação, Card. Joseph Ratzinger I).

A teologia da libertação tenta se revestir de um santo catolicismo, quando na verdade são como raposas que tendem a destruir a vinha do Senhor.

Ainda para Bultmann, “Jesus pertence aos pressupostos do Novo Testamento, permanecendo, porém, encerrado no mundo do judaísmo” (ibidem II).

Ora, no seu livro Essência do Cristianismo, Harnack, exprime um cristianismo demasiado orgulhoso e de caráter racionalista, nos apresenta uma espécie de “libertação”, mas que encontra-se envolta em erros. Diz ele: “Não o Filho, mas exclusivamente o Pai pertence ao Evangelho, como Jesus o anunciou”. Mas o que queria ele afirmar com esta frase? Para ele Jesus seria o divisor da humanidade. “Onde a fé no Filho criou separações – cristãos e não cristãos e cristãos de diversos credos – a fé no Pai é capaz de unir. Onde o Filho só a poucos pertence, o Pai pertence a todos e todos a ele. Onde a fé cindiu, o amor pode reunir. Jesus contra Cristo significa: fora com o dogma, retorno ao amor” (Introdução ao Cristianismo, Edit. Herder, pag. 157, Joseph Ratzinger).

E poderíamos então concluir: logo, a salvação estaria unicamente em Deus e não em Jesus. Chegamos aqui ao relacionamento da Santíssima Trindade. A Igreja anuncia, e a própria Bíblia já nos apresentou, que existem três pessoas em um só Deus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo, agem conjuntamente. Não se contradizem. Se Deus salva, também Jesus e o Espírito Santo podem fazê-lo. A diversidade de pessoas não dá lugar à diversidade de “deuses”. O próprio Jesus disse a Filipe: “Quem me viu, viu o Pai… Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras” (Jo 14,9-10).

E eis que outro ponto ao qual gostaria de fazer um breve comentário é sobre a relação amor e dogma. Verdadeiramente, a Igreja pode também ser definida como a “instituição do amor”. Ninguém, mais que a Igreja ama seus filhos que lhes foram confiados pelo próprio Amor. A Igreja dos mártires e dos santos. A Igreja das diversidades de dons, que buscam fundamentar uma humanidade cada dia mais santa. A Igreja que vive o amor. Mas, para alguns, viver o amor significa ser coerente com o erro. Não! Isto não é amor, é imprudência. Já diz o ditado: “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado”. Isto significa que devemos combater os erros. Devemos aniquilar as heresias que se levantam contra a Santa Fé Católica. Viver a liberdade de filhos de Deus, supõe que possamos ter em mente que esta inicia-se no limiar dos mandamentos, e encerra-se onde os mesmos findam-se. Não obstante os erros dos seus filhos, a Igreja incita-os a abandonarem a vida desregrada e afastada de Deus, e a unirem-se a Ele por meio da observância dos mandamentos.

A ciência com seus pressupostos e antepondo-se a fé, não terá uma direção correta. Se as duas não estão lado a lado, de algum lado haverá precipitação. Ainda que historicamente pareça poder trilhar seu caminho individual, a ciência não terá sentido, e não chegará a um destino, se privar-se de Deus. Recordo-me das palavras do Papa João Paulo II: “O homem se encontra num caminho de busca, humanamente infindável: busca da verdade e busca duma pessoa em quem poder confiar. A fé cristã vem em sua ajuda, dando-lhe a possibilidade concreta de ver realizado o objetivo dessa busca” (Fides et Ratio, 33).

No seu livro já citado, o Cardeal Ratzinger fala da teologia da “morte de Deus” (pag. 158), propagadora da idéia que, embora não disponhamos mais de Deus, nos fica Jesus Cristo, que torna-se um sinal de confiança e anima-nos a prosseguir. E esta teologia se dá claramente hoje. É a prova viva de que a humanidade necessita redescobrir a face misericordiosa de Deus.

Em conclusão: “Jesus só existe como o Cristo e o Cristo só é real como Jesus… Talvez seja mais indicado confiar mais na presença da fé atuante através dos séculos, que, em sua natureza, nada mais é do que compreensão – compreensão do que e quem finalmente foi Jesus – quiçá seja mais indicado confiar na fé, do que na reconstrução que busca seu caminho fora da realidade. Pelo menos convém tomar conhecimento do que, afinal, essa fé nos diz” (Idem).

Peçamos a Virgem Maria, hoje invocada com o título de Nossa Senhora do Carmo, que interceda pela Santa Igreja, para que possa enfrentar todos os desafios que insurgem contra ela. Aos que puderem, recomendo insistentemente a leitura dos livros Introdução ao Cristianismo e Jesus de Nazaré, para que saibamos defender-nos das heresias que se disfarçam de doutrinas.

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Missão: objetivo da vida cristã

Mesmo viajando, dediquei um tempo a escrever o artigo deste XIV domingo do Tempo Comum. Precisamente porque no Evangelho encontramos uma fonte riquíssima sobre a necessidade do “ser missionário” hoje, especialmente em um mundo conturbado pelos valores anti-evangélicos e uma descristianização da humanidade. Enviando os discípulos para a missão, Jesus que mostrar-nos que o cristão deve estar inserido na missão, e, sobretudo, que este é o objetivo específico da vida cristã: anunciar Jesus a outros que ainda não o conhecem.

“Disse-lhes: Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe” (Lc 10, 2). Em nossos dias, a Igreja tem repetido este mesmo pedido de Jesus. Poucos são os operários. E são poucos não por falta de quem os guie, mas porque são profundamente tomados pela escuridão das trevas. Nosso Senhor não apresenta forma de vida fácil para seus seguidores; pelo contrário, estes terão que sofrer muito, e, se preciso, terão que doar suas vidas pela causa do Reino de Deus. E precisamente aqui se prova a verdadeira capacidade de um discípulo, sua sinceridade e o seu amor incondicional pelo Evangelho. No domingo passado Jesus apresentou os meios pelos quais é possível segui-lo. Agora ele apresenta as conseqüências, mas também os inúmeros milagres que poderão ser operados, em seu nome, para a conversão das almas e para o perdão dos pecados.

A constante necessidade da Igreja para que aumente o número de sacerdotes é justamente porque ela tem esse perene dever de levar Jesus a lugares onde ele ainda é ocultado, às vezes por falta de conhecimento, outras vezes por causa de um sistema político capitalista e comunista, outras vezes, ainda, por causa de conflitos religiosos. E nesta sua missão ela vê se cumprir as palavras de Cristo: “Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos” (Lc 10, 3). Sim, em uma sociedade tomada por “lobos” que querem impedir a expansão do Evangelho e a sua ação salvífica entre os homens, a Igreja toma para si todas as fadigas que suporta em nome de Cristo, e imperiosamente faz com que a Boa notícia seja anunciada a todos os homens deste mundo.

Jamais a Igreja se calará, pois sua missão não parte deste mundo, mas parte de uma ação de Cristo, de um desejo manifestado pelo Salvador. Nem os grandes imperadores puderam silenciar a Igreja. Nem este mundo poderá silenciar a Igreja, mas a Igreja silenciará o mundo, com todos os seus pecados, as suas omissões no seguimento a Cristo, a sua falta de amor. Ela mostra ao mundo que, só em Cristo, a humanidade poderá falar aquilo que é útil e que produz vida, santidade.

“Jesus disse-lhes: Vi Satanás cair do céu como um raio” (Lc 10, 18). Também nós poderemos contemplar esta visão, de ver cair, não mais Satanás, mas as suas artimanhas, suas ideologias e projetos, sua investidura contra a Santa Fé Católica e contra o Reino de Deus, prefigurado na Igreja.

Verdadeiramente, maior que as investidas do demônio, e mais salutar que seus ensinamentos, é a Cruz de Cristo, penhor da humanidade e salvação dos que crêem.

Peçamos ao Senhor que nos guie e faça de nós pessoas comprometidas com o Evangelho, para que aconteça conosco o que aconteceu com os apóstolos: estejamos com nossos nomes escritos no céu. E isto só poderá acontecer quando, vencendo as batalhas e cumprida a nossa missão, repousarmos em Cristo.

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!