A esperança cristã reside no Amor


adventoCom a Solenidade de Cristo Rei no Domingo passado, concluímos mais um Ano Litúrgico, nos preparando interiormente para este tempo do Advento que a Igreja nos conclama a celebrarmos.

É neste tempo que, com os corações contritos e esperançosos, aguardamos o jubiloso prenúncio do Salvador, que dirige-se ao nosso encontro e oferece-nos a sua graça salvífica e a possibilidade de uma reconciliação do homem com Deus, rompidas pelos primeiros pais. Neste período recobremos com ânimo a virtude teologal da esperança, que nos é dada do alto e que é imprescindível ao cristão. Assim, com este vigor no coração, somos convidados a olharmos e mantermos a mesma expectativa que nos diz o prefácio: “Revestido da nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar Seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação” (Prefácio do Advento I). É-nos sabido que este plano de amor concretizou-se plenamente em Cristo Jesus e nesta primeira vinda de um estreitamento de laços do homem com Deus.

Mas, podemos nos perguntar: como mantermos a expectativa cristã em uma realidade tão fugaz? Como estar com os olhos fitos em Cristo se o mundo oferece-nos coisas aparentemente mais atraentes? E aqui acaba o homem por criar um verdadeiro dilema existencial e um lapso no relacionamento consigo e com os demais irmãos. Sim, aquele que se fecha à realidade de Cristo não apenas fecha-se aos outros, mas, por conseguinte, a si mesmo. Isto porque o relacionamento com Cristo requer também um bom relacionamento com o irmão. No outro vemos a face de Cristo; no outro vemos também a nós, criados à imagem e semelhança de Deus. Quem perde este sentido fecha-se no seu eu e cai na desesperança, porque já não mais nutre-se da vida, mas da sua morte interior.

Às indagações anteriores, São Paulo nos responde com extrema brandura e ao mesmo tempo com firmeza espiritual: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós” (1Ts 3,12). É na realidade do amor – a Deus e ao próximo – que o homem reconhece-se como sujeito único e singular, dotado de inteligência e de vontade livre, mas também composto de uma realidade material. Ele tornar-se, não obstante as dificuldades, um ser de relacionamento e de proximidade, firmando-se sempre mais na perspectiva futura do convívio eterno com o Senhor. E entendemos o porquê Deus torna-se a “peça chave” no nosso relacionamento: Dele, Amor puro e gratuito, há de provir todo o amor que existe entre os homens para que eles não hesitem no reconhecimento da unidade e da autentica liberdade que foi-lhes dada na filiação adotiva.

Por isso, mais que uma promessa e que uma exortação, o pedido de Paulo concretiza-se no autêntico testemunho de vida voltado a todos os homens que desejam colocar-se à disposição de um amor real, que não subsiste na incerteza e nas especulações. De fato, somente aquele que tem o amor como plano de fundo pode configurar sua vida ao projeto real de Cristo, que não se baseia sobre outra coisa primeiramente, senão sobre a comunhão. Portanto, o advento definitivo não evoca uma realidade distante, temerosa, pela qual os homens ingressam sob a ótica radical das palavras evangélicas ou escatológicas, mas é uma realidade de esperança que caracteriza-se pela harmonia das coisas e pela infusão de um amor radicado no senso ontológico do homem.

A exortação feita pelo Apóstolo São Paulo na segunda leitura é fundamentada já em um princípio eclesiológico. De fato, como Paulo, a Santa Igreja não se cansa de exortar a todos os seus filhos para que mantenham-se atentos aos eminentes sinais dos tempos, que se darão quando Nosso Senhor no-los fizer conhecerem. Por isso, neste imperioso dever de orientar os homens, nos seus vinte e um séculos, a Igreja nunca se ab-rogou da sua missão, mesmo que, em alguns momentos, tenha se sentido fragilizada pelo peso que alguns de seus filhos a imputaram. “Meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores!” (1Ts 4,1).

À comunidade de Tessalônica se dirigiu esta exortação, mas não menos atual em nossos dias. O povo tessalônico vivia em grande fadiga da caridade, numa fé operosa e isso os fazia manterem-se numa constante expectativa pelo seu Senhor. Neste sentido, o advento torna-se ainda mais profícuo se vivido intensamente, progredindo no bem e na caridade que nos são constantemente exortados. Tornou-se necessário, mediante a hodierna sociedade, progredirmos sempre no Senhor, intensificarmos nossa espiritualidade, reforçar as bases da nossa fé. O primeiro passo para este reforço é a escuta atenta da Palavra, uma vez que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10,17); depois temos o testemunho autêntico daquilo que ouvimos e nisto outros verão, pelas obras, de quem somos testemunhas.

Na óptica deste Tempo do Advento, tenhamos sempre conosco a certeza viva e uma esperança inabalável; a esperança do ser cristão, que reside em Cristo Jesus. Desta forma seremos animados a enfrentarmos os desafios dos tempos pós-modernos e a fazer com que continue viva no mundo a chama da luz de Cristo, para que todos conhecendo-O possam amá-lo e amando-O possam esperá-lo. A Maria, que por nove meses gerou o menino-Deus em seu ventre, queremos elevar nossos agradecimentos e preces, para que Ela nos ensine a gerarmos o Cristo em nós e portá-Lo aos demais irmãos, com caridade e verdade, mostrando que o verdadeiro rosto de Cristo pode ser encontrado no interior de cada homem que por Ele se deixa tocar e transformar.

E continuemos a escutar e seguir atentamente a exortação de Cristo, que diz: “Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36). E com toda a Igreja possamos exclamar: Maranathá! Vem, Senhor Jesus!