Do “Templo de Salomão” à engenhosidade de Satanás

“Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a fazeis covil de salteadores” (Mt 21,13).

Jesus não hesita em taxar aqueles que comercializavam no templo como “salteadores, ladrões, vendilhões”. No dia 31 de julho foi inaugurado em São Paulo o “Templo de Salomão”, mantido e construído com recursos financeiros da “Igreja” Universal do Reino de Deus. Diversos são os aspectos que chamam a atenção com relação a esta engenhosidade, mas não gostaria apenas de me ater ao espaço físico do templo, com toda a sua grandeza, senão de fazer uma leitura evangélica e histórica com relação a este feito desnecessário.

Jesus fez duras advertências contra aqueles que pretendiam fazer do Templo um local de comércio. Infelizmente esta cena se repete ainda em nossos dias, sem qualquer pudor às palavras de Nosso Senhor, endereçadas contra estes que deturpam a fé cristã. O bem-aventurado Pedro apóstolo já advertira: “Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles vos hão de explorar por palavras cheias de astúcia. Há muito tempo a condenação os ameaça, e a sua ruína não dorme” (2Pe 2,1-3). 

Estas palavras, não obstante a distância que nos encontramos de quando foram cunhadas, perpassaram o tempo e a história, porque constituída como Palavra de Deus, não cessa de denunciar as heresias e tentativas de destruição da fé verdadeira. É sabido que o senhor Edir Macedo não é um homem que vive para Deus, e tampouco trabalha pelo Reino de Deus. Ele inclui-se entre aqueles que o bem-aventurado apóstolo Paulo denunciara à comunidade de Filipos, pessoas cujo deus é a barriga (cf. Fl 3,18). A única Igreja fundada por Cristo não possui “filiais” e nem trabalha com possibilidades. A fé é certeza (cf. Hb 11,1), e na Igreja de Cristo quem não tem certeza não tem fé verdadeira, pode até ter “opinião” – que de nada lhe valerá! – mas não possui convicção.

Mas este templo, denominado “Templo de Salomão”, não é apenas um sinal de um empreendimento grandioso e de potencial econômico do grupo Macedo. É também um preclaro sinal de confusão religiosa e de desnorteamento da fé cristã. O que é a Igreja Universal do Reino de Deus? Um grupo proselitista que usa o nome de Cristo para propagar a sua doutrina e aumentar consideravelmente sua potencialidade econômica? Ou um grupo de reminiscência judaica que “aderiu” ao cristianismo? Não saberia responder diante de tamanha mistura e confusão causada na cabeça dos fiéis. 

Antes de entrar num viés teológico aguçado, devo ainda fazer uma crítica ao arquiteto da obra. O Templo feito ali não é o de Salomão, mas o Segundo Templo dos Judeus. O primeiro templo, sabemo-lo, foi incendiado pelos babilônios no ano de 587 a.C. Contudo, findado o cativeiro em Babilônia, os judeus reconstruíram o Templo sobre o Monte Moriá, que posteriormente fora embelezado por Herodes, o Grande, com o intuito de agradar a César. Os judeus tomaram isso como uma profanação por parte do rei. Em 70 d.C. todo o edifício veio abaixo com a invasão e o saque de Jerusalém.

Agora, adentremos no aspecto teológico da questão: Qual o símbolo de um Templo de Salomão ou do Templo judeu para o Cristianismo? Embora seja profunda a ligação entre judeus e cristãos, e temo-los em todo respeito, como nossos “irmãos mais velhos”, segundo denominou São João Paulo II, contudo não podemos negar que o verdadeiro e novo Templo é o próprio Cristo, segundo Ele mesmo dissera: “Destruí esse Templo e em três dias eu o reerguerei” (Jo 2,19). Embora isso não descaracterize a necessidade das Igrejas, as mesmas devem associar os homens a Cristo não a Salomão, por Ele a redenção foi concedida. O Segundo Templo é de Deus, é a casa de Deus, o lugar por excelência da oração.

Diante de tantas misturas de ritos, do desrespeito ao Cristianismo, do desrespeito ao judaísmo, podemos nos perguntar: Há alguma seriedade nesse seguimento religioso? São essas doutrinas diabólicas (1 Tm 4,4) que traem a percepção de fé do povo. Se o povo erra em segui-las, vós errais ainda mais, que a estimulais e iludis os que sem instrução aderem a esta mentalidade. O Templo citado é, enfim, um desrespeito, uma obra sem fundamento e que não deve ser vista como vínculo nenhum a realidade cristã ou judaica.

Lembra-te, Macedo, do que o Salmo diz: “Se o Senhor não construir a nossa casa, em vão trabalharão seus construtores” (127,1). A verdadeira construção se fundamenta no Senhor. Ele solidifica as bases daqueles que sobre ele construírem. Não me venha a vossa pessoa dizer que preza por um templo material se o verdadeiro templo para ti não faz diferença: “Vós sois a construção de Deus” (1Cor 3,9). Como um templo majestático de Salomão valerá mais que o templo da vida humana, dom sagrado e inestimável, que você negligencia quando se propõe a apoiar a prática do aborto? 

Por fim, recordo-me do Evangelho de São Marcos, no capítulo 13, que serve de admoestação a este grupo que tenta atraiçoar a verdadeira fé: “E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras, e que edifícios! E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (vv. 1-2). A mentira, por si, nunca se sustenta! No fim, prevalecerá a verdade!