“Cantate Domino canticum novum” (Sl 96,1)
Com estas palavras do salmista gostaria de dar continuidade às meditações das sinfonias de Beethoven, iniciadas a uns dias atrás.
A segunda sinfonia em Ré Maior, Op. 36 foi composta entre os anos de 1801 e 1802, em Heiligenstadt, quando Beethoven começava a evidenciar os primeiros sinais de sua surdez, o que levou-o a uma profunda depressão. Ela foi dedicada ao príncipe Kar Lichnowsky. Data-se também desta época, de fim de verão, o “Testamento” beethoviano, que embora fosse repleto de angústia e desespero, não se deixou transparecer na composição desta segunda sinfonia.
É evidente na segunda sinfonia o espírito de alegria que ela traz consigo. As palavras de São Paulo certamente circundaram a vida do grande compositor, para que não se abatesse e não perdesse a sua esperança. A certeza do auxilio do Senhor era-lhe certa. Ele não se desespera: Alegrai-vos sempre no Senhor (Fl 4,4), nos diz Paulo.
Sim, o homem temente a Deus carrega consigo a certeza da Sua alegria e do Seu apoio. Nele não está tudo acabado, entre à sorte daquele que é perverso e mal em sua natureza, mas é garantia de que as dores nos aproximam de Deus, que, embora soframos, o amor de Deus não diminui.
A sinfonia foi originalmente orquestrada para 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes em lá, 2 fagotes, 2 trompas em ré e mi, 2 trompetes em ré, tímpanos e cordas.
No terceiro movimento é perceptível a substituição do tradicional Menuetto pelo Scherzo. Muitos foram os críticos que ficaram perplexos com tais mudanças. A sinfonia estreou no dia 5 de abril de 1803
Os movimentos dividem-se da seguinte forma:
- Adagio molto – Allegro com brio
- Larghetto
- Sherzo: alegro
- Allegro molto
O primeiro movimento desenrola-se na forma de uma sonata e assemelha-se à primeira sinfonia. Podemos encontrar também traços característicos da música folclórica, muito presente na Sinfonia Pastoral do músico. O terceiro é um quarteto Sherzo (que substitui o Menuetto). E o ultimo movimento é marcado pela rapidez e vivacidade que findam, assim, a composição.
Não temos nenhuma referência do manuscrito desta sinfonia, como também não o temos da primeira; o que nos restam apenas são esboços.
Pensemos que cada sinfonia de Beethoven é um aprofundamento, uma renovação, um acréscimo, uma melhora. E o faz o compositor com total cuidado e delicadeza que não venha a perder a estrutura essencial de sua música.
Nesta sinfonia é relevante a introdução mais longa que a primeira, mas com menos duração que as vindouras, visto que o aprimoramento deu-se a cada sinfonia, e por isso podemos também observar um dos aspectos que caracterizam sua sinfonia. E o segundo movimento desta sinfonia caracteriza-se por ser o mais longo andamento lento das sinfonias beethovianas.
O terceiro movimento é inusitado em si próprio. Ele rompe com a existência de um menuetto e introduz um Sherzo alegro. Algo que gerara uma certa surpresa por parte dos conhecedores da música.
O quarto andamento conclui com uma vivacidade impressionante, uma energia que contagia mesmo os ouvintes. Na época era algo realmente inusitado, inovador, marcado pela irreverência do grande compositor, talvez um como a história nunca mais verá, que marca a música clássica e os corações dos seus apreciadores.