Bento Papa; Bento Pai; Bento Pastor

Aproximando-nos do segundo aniversário da renúncia do Santo Padre Bento XVI ao Pontificado, nosso coração e mente rememoram àquele nebuloso dia 11 de fevereiro de 2013, quando toda a Igreja assistia pasma e triste ao pedido de demissão do cargo daquele que é – sem dúvida! – um dos maiores Pontífices que a Igreja já pode usufruir e pela qual foi firmemente guiada.

Se pudermos fazer uma definição precisa de Bento XVI – coisa a meu ver muito difícil – ousaríamos defini-lo com três palavras que explicitam bem a sua figura: Papa, Pai e Pastor. Sim, ele consegue reunir em si inumeráveis qualidades, dentre as quais estas três que mais nos saltam aos olhos na sua imagem terna, amorosa e sapientíssima.

Não obstante os constantes ataques e a má impressão que construíram em volta de sua imagem, o tímido Papa alemão conquistou de forma impressionante aos fiéis, com homilias profundas, palavras tocantes, mas sobretudo por gestos simbólicos.

Convém recordarmos as sábias palavras de Dom Henrique Soares da Costa, hoje Bispo de Palmares, que à época da eleição de Ratzinger, escrevera:

Muitos estão dizendo: esse Papa é sem carisma; não é comunicativo, é conservador. Mas, que é um papa? Seria um comunicador pop? Não! É o Bispo de Roma, escolhido para ser o pastor maior da Igreja de Cristo, testemunhando o Senhor diante do mundo. A única pergunta que Jesus fez a Pedro, antes de confirmá-lo no seu ministério foi esta: “Tu me amas?” Não perguntou ao Pescador da Galiléia se tinha jeito com o povo, se falava mais de um idioma, se era conservador ou progressista… O que os católicos esperam do Santo Padre, o que a Igreja espera, é que seja fiel ao Evangelho e à Tradição Apostólica perenemente guardada pela Igreja sob a guia do Espírito do Ressuscitado. É este Evangelho, crido, guardado e anunciado na Igreja e pela Igreja que ilumina o mundo com a luz de Cristo.

Nosso Senhor não perguntou a Pedro os seus atributos, mas apenas se o amava. Ratzinger é um homem que, mesmo com inúmeras qualidades, não se vangloriou disto e tampouco humilhou os demais, mas sempre colocou-se como aquele último servo, “humilde trabalhador da vinha do Senhor”. Mas tal fora sua humildade que o Senhor quisera elevá-lo por todas as suas qualidades.

Hoje só podemos agradecer a Deus por tão grande Papa a nós concedido. O fiel discípulo não se mede pelas vestes, pelos sapatos, pelas cruzes, mas pelo coração, pela vida de doação e pela entrega sem reservas de si e do seu conhecimento. E isto fez o nosso amado pastor, pai, mestre, enfim… quantos títulos pudermos dar-lhe. Bento, a partir de 19 de abril de 2005, não se tornou apenas um nome a ser aclamado, mas um modelo a ser reverenciado, uma sabedoria a ser escutada, um pai a ser amado, um pastor a ser seguido.

É este homem que não negligenciou em momento algum ao chamado do Senhor; ao contrário, segui-o fielmente. Não se exaltou, mas procurou exaltar o Senhor; não amou o poder, mas amou a Deus. O seu silêncio foi quebrado muitas vezes pelas palavras fortes e revigorantes. Nunca precisou gritar para tocar os homens; nunca elevou a voz para fazer com que penetrasse a palavra de Deus nos corações, uma vez que tudo o que diz torna-o um “novo Crisóstomo” (boca de ouro).

Longa vida a ti, amado Papa!