A comunhão com Pedro e seus sucessores é a garantia de liberdade

“Na primeira Leitura, é narrado um episódio que mostra a intervenção específica do Senhor para libertar Pedro da prisão; na segunda, Paulo, com base em sua extraordinária experiência apostólica, afirma estar convencido de que o Senhor, que já o havia livrado “da boca do leão”, o livrará de “todo o mal”, abrindo-lhe as portas do Céu; no Evangelho, ao contrário, não se fala mais dos Apóstolos individualmente, mas da Igreja no seu conjunto e da sua proteção com relação às forças do mal, entendida em sentido amplo e profundo. Desse modo, vemos que a promessa de Jesus – “as forças do inferno não prevalecerão” sobre a Igreja – compreende, sim, as experiências históricas de perseguição sofridas por Pedro e Paulo e outras testemunhas do Evangelho, mas vai além, desejando assegurar a proteção sobretudo contra as ameaças de ordem espiritual; segundo o que Paulo escreve na Carta aos Efésios: “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares” (Ef 6, 12).”

Com efeito, se pensamos nos dois milênios de história da Igreja, podemos observar que – como havia prenunciado o Senhor Jesus (cf. Mt 10, 16-33) – nunca faltaram para os cristãos as provações, que em alguns períodos e lugares assumiram o caráter de verdadeiras e próprias perseguições. Essas, no entanto, apesar do sofrimento que provocam, não constituem o perigo mais grave para a Igreja. O dano maior, de fato, provém daquilo que polui a fé e a vida cristã dos seus membros e das suas comunidades, afetando a integridade do Corpo Místico, enfraquecendo a sua capacidade de profecia e testemunho, manchando a beleza de seu rosto. Essa realidade é atestada já no epistolário [cartas] paulino. A Primeira Carta aos Coríntios, por exemplo, responde exatamente a alguns problemas de divisões, incoerências, infidelidade ao Evangelho, que ameaçam seriamente a Igreja. Mas também a Segunda Carta a Timóteo – da qual ouvimos uma parte – fala sobre os perigos dos “últimos tempos”, identificando-os com atitudes negativas que pertencem ao mundo e podem contagiar a comunidade cristã: egoísmo, vaidade, orgulho, apego ao dinheiro, etc. (cf. 3, 1-5). A conclusão do Apóstolo é reconfortante: os homens que fazem o mal – escreve – “não irão longe, porque será manifesta a todos a sua insensatez” (3, 9). Existe, portanto, uma garantia de liberdade assegurada por Deus à Igreja, liberdade seja dos laços materiais que procuram impedir ou coagir a missão, seja dos males espirituais e morais, que podem afetar a autenticidade e credibilidade.”

“O tema da liberdade da Igreja, garantida por Cristo a Pedro, tem também uma relevância específica para o rito da imposição do pálio, que hoje renovamos para trinta e oito Arcebispos Metropolitanos, aos quais dirijo a minha mais cordial saudação, estendendo-a com afeto àqueles que quiseram acompanhá-los nesta peregrinação. A comunhão com Pedro e seus sucessores, de fato, é garantia de liberdade para os pastores da Igreja e para a própria Comunidade a eles confiada. E isso em ambos os planos destacados nas reflexões precedentes. No plano histórico, a união com a Sé Apostólica assegura às Igrejas particulares e às Conferências Episcopais a liberdade com relação aos poderes locais, nacionais ou supranacionais, que podem, em certos casos, obstaculizar a missão da Igreja. Além disso, e mais essencialmente, o ministério petrino é garantia de liberdade no sentido da plena adesão à verdade, à autêntica tradição, de tal forma que o Povo de Deus seja preservado de erros concernentes à fé e à moral. Daí que o fato de, todo o ano, os novos Metropolitanos virem a Roma para receber o Pálio das mãos do Papa deva ser compreendido no seu significado próprio, como gesto de comunhão, e o tema da liberdade da Igreja nos oferece uma chave de leitura particularmente importante. Isso aparece de modo evidente no caso das Igrejas marcadas pela perseguição, ou sujeitas a interferências políticas ou outras duras provações. Mas isso não é menos relevante no caso de Comunidades que padecem a influência de doutrinas enganadoras, ou de tendências ideológicas e práticas contrárias ao Evangelho. O pálio, assim, torna-se, neste sentido, um compromisso de liberdade, analogamente ao “jugo” de Jesus, que Ele convida a tomar, cada um sobre seus próprios ombros (cf. Mt 11, 29-30). Como o mandamento de Cristo – embora exigente – é “doce e leve” e, ao invés de pesar sobre quem o leva, o levanta, assim o vínculo com a Sé Apostólica – embora desafiador – sustenta o Pastor e a porção da Igreja confiada aos seus cuidados, tornando-lhes mais livres e mais fortes.”

Papa Bento XVI, Homilia na Solenidade de S. Pedro e S. Paulo
29 de junho de 2010

Pedro e Paulo: mártires na fé por um único Amor

Celebramos com grande júbilo, neste dia, a Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. A Providência concede-nos também este dia como dia do Papa. E hoje gostaria de centrar-me nas leituras propostas, mas, de modo muito particular, na missão do Papa, tanto como Sucessor de São Pedro, como também naquele que foi escolhido pelo Espírito Santo para fazer viva e atuante a unidade imperecível da Igreja, não obstante as dificuldades que sempre se abateram sobre ela, especialmente nos últimos anos.

Para isso, gostaria de tomar como ponto de partida a primeira leitura, onde manifestar-se-á visivelmente a unidade da Igreja para com o seu guia. Diz o texto: “Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus” (12, 5). Aqui vemos que sempre fez-se presente na Igreja a necessidade da oração. Vemos que os fiéis olham com solicitude para o seu pastor. Olham como pessoas que, longe dele, estavam perdidas, desnorteadas, e não sabiam mais por onde deviam prosseguir. E eis que vemos isto tão claramente na situação da Igreja hodierna. Quantos fiéis que, querendo buscar sua sabedoria, desmerecendo os valores cristãos, buscam pastorear a si mesmos, abandonando a Igreja e o seio no qual foram gerados? Para estes vale o que diz esta leitura, onde se manifesta intrinsecamente o sinal de unidade, já aparecido nos primórdios da Igreja.

Na segunda leitura São Paulo (o qual ao lado de São Pedro a Igreja celebra como grande mártir da fé) diz a Timóteo, seu fiel colaborador: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (2 Tm 4, 6-7). Em primeiro lugar, convém ressaltar que o significado de libação é um derramamento de água, vinho, sangue ou outros líquidos, em honra de Deus, ou, no período romano ou grego, em honra de algum ídolo. Neste caso a libação assume um caráter sacrifical, não apenas com um liquido a ser derramado, mas com o sangue daqueles que, pela fé e pela propagação do Evangelho, testemunharam o Senhor que, sacrificado por nós, já não morre, mas vive, e se vive é porque a nós destina algo maior, ao qual o apóstolo se refere como a “coroa da justiça”.

Esta “coroa” é dada não apenas aos mártires, ou aos santos, mas também a nós ela é destinada. A nós se como cristãos demos verdadeiro testemunho de vida, e sacrificamo-nos pela causa maior do Evangelho. É uma “coroa” condicional, bem verdade; não somos obrigados a recebê-la. Mas para o cristão ela deve transmitir não uma simbologia, radicada nas figuras de linguagem da época de Paulo; ela deve nos mostrar que o verdadeiro prêmio é Cristo, e que sem Ele a vida do homem não tem sentido e não está destinada a um objetivo. Ora, estes apóstolos que a Igreja hoje celebra com tanta alegria (aqui no Brasil a Solenidade é celebrada no próximo domingo), demonstram – como disse Santo Agostinho – que suas mortes não foram em vão, buscavam um objetivo: “Estes mártires viram o que pregaram, seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade” (Sermo 295,1-2.4.7-8:PL38,1348-1352). E onde eles encontraram esta verdade? Onde muitos homens hoje poderiam encontrá-la se não fossem tão egocêntricos: Jesus Cristo. Ele, única e eterna verdade, foi a resposta para Pedro e Paulo. Não foi nas perseguições aos cristãos que Paulo encontrou a plena alegria, não foi na sua companhia de pesca que Pedro encontrou a sua satisfação completa, mas foi em Cristo. E eis que eu peço todos os dias que a nossa humanidade caminhe para Ele, não para as ideologias efêmeras, que buscam radicar estruturas na sociedade.

O cristão é chamado a combater, mesmo que isso lhe custe a vida, e, após terminada, esta já não nos valerá mais, pois a verdadeira alegria é estar com Deus, é poder contemplá-lo e poder descansar em ser colo acolhedor, recebendo o abraço do Pai, mesmo que muitas vezes tenhamos sido “filhos pródigos”.

Recordo-me das magníficas palavras do Santo Padre Bento XVI: Tenha a coragem de aventurar-se em Deus! Tente! Não tenha medo d’Ele! Tenha a coragem de apostar na fé! Tenha a coragem de apostar na bondade! Tenha a coragem de apostar no coração puro! Comprometa-se com Deus, então verá que justamente fazendo isso a sua vida se tornará ampla e iluminada, não monótona, mas repleta de infinitas surpresas, porque a suprema bondade de Deus jamais acaba!” (Homilia, 8 de dezembro de 2005). Assim é a figura de cristãos que a Igreja, e principalmente o mundo, precisa.

Por fim o maravilhoso Evangelho dispensaria até comentários. Mas dirá Padre Antonio Vieira, sobre o diálogo de Jesus com Pedro, e a sua maravilhosa profissão:

“Primeiramente não nego, nem se pode negar que o texto  parece que fala com todos os Discípulos e Apóstolos,  a quem o divino Mestre fazia a pergunta. Mas eu  pergunto também quem foi o que única e singularmente respondeu a ela? Claro está que foi São Pedro: Respondit Petrus. E porque respondeu só ele e nenhum outro? Excelentemente St.° Ambrósio: Cum interrogasset Dominus quid homines de Filio hominis æstimarent, Petrus tacebat: ideo (inquit) non respondeo, quia non interrogor: interrogabor, et ipse quid  sentiam tum demum respondebo, quod meum est. «Enquanto Cristo perguntou o que diziam os homens, Pedro esteve calado sem dizer palavra» __  tacebat; e porque esteve calado Pedro e não respondeu palavra? «Porque aquela pergunta, diz ele, não fala comigo»: Ideo non respondeo, quia non interrogor; «porém quando eu for perguntado, então responderei e direi o que sinto, porque a mim me pertence»: Cum interrogabor, et ipse quid sentiam respondebo, quod meum est. Note-se muito esta última palavra, quod meum est, na qual excluiu o mesmo S. Pedro a todos os outros Apóstolos e confiadamente diz que a resposta daquela altíssima pergunta só era sua e só a ele pertencia. É verdade que a palavra da pergunta: vos autem parece que compreendia a todos; mas a resposta exclui aos demais, como encaminhada a ele por quem sabia o que só Pedro sabia e os demais ignoravam”.

Pe. António Vieira, Sermão de São Pedro

Pedro! Eis aí um discípulo que não exclui sua resposta mediante os outros apóstolos. Ele fala em nome dos demais. Façamos uma analogia ao Santo Padre. Ele, em nome da Igreja, é, muitas vezes, o único a levantar sua voz em favor da Verdade (e digo “Verdade” com “V” maiúsculo porque não me refiro apenas a doutrinas, mas ao próprio Cristo), e por isso é caluniado, injustiçado. O Papa não governa a Igreja para ser simpático com ninguém. Ele governa a Igreja para mostrar ao mundo que há uma só Verdade, que há um só Senhor, e que há um só Caminho. E quando me lembro da grande promessa de Jesus a Pedro (“Non praevalebunt portae inferi – não prevaleceram as portas do inferno” (Mt 16,18)), sinto que cada dia mais confirma-se as palavras de São Paulo: “Deus é fiel” (1 Cor 10, 13).

Apesar das dificuldades e dos constantes ataques, a Igreja nunca será abandonada por Cristo. Ele estará sempre do seu lado. E nós, católicos, nunca abandonaremos Cristo, a Igreja e o Papa. Pois quem está contra o Papa e a Igreja, está contra Cristo, que fala por eles,  faz-se presente na humanidade por meio deles.

Que Maria nos ajude nesta tarefa de tornarmo-nos cristãos cada dia mais comprometidos com o Evangelho de Cristo, tomando como modelo para nós estas duas grandes figuras da Igreja.

Oremus pro Pontifice nostro Benedicto!

“Segue-me”

No convite pressuroso feito nas leituras neste domingo, encontramos com grande vivacidade a importância do seguimento à Palavra de Deus, à qual todos os cristãos são chamados a viver. Já podemos notá-lo desde a primeira leitura, quando Eliseu, chamado pelo Senhor, pôs-se a servir Elias. Tal passagem nos coloca já em um contato com o Evangelho, ao qual Jesus faz muitas propostas, mas que sem elas seria impossível este “sim” autêntico ao projeto do Reino de Deus.

E, precisamente, Paulo nos oferece métodos de como viver este seguimento, que tenha como único centro o Cristo. E isto, renunciando a qualquer ideologia ou mito criado pelos homens e, buscando viver o Evangelho na sua pureza. Parece, em um primeiro momento, que Paulo é muito rígido, mas estas exigências que ele impõe, são necessárias para que os homens saibam que o Evangelho não é um conjunto de libertação ou de idéias de pessoas frustradas. O Evangelho exige renúncia porque exige amor! Só quem ama a Cristo e deixa-se guiar por Ele é capaz de aceitar as renúncias e não levá-las como um “castigo”, mas como um método necessário para um seguimento verdadeiro.

“É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai, pois, firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5, 1). Esta liberdade, provinda da morte e ressurreição do Senhor, manifesta-nos que já somos criaturas renovadas e que o pecado não mais nos acorrenta. Maior que o erro de Adão e Eva, é o Amor de Deus, que doa seu Filho para que, com Ele e n’Ele, pudesse haver o verdadeiro sacrifício da redenção, que a todos os homens chama para uma nova vida.

“Sim, irmãos, fostes chamados para a liberdade. Porém, não façais dessa liberdade um pretexto para servirdes à carne. Pelo contrário, fazei-vos escravos uns dos outros, pela caridade” (Gl 5, 13). Gostaria de centrar-me nesta passagem por alguns instantes. Paulo exorta a não transformar a liberdade em “libertinagem”; a não nos tornarmos escravos do pecado. Somos chamados a anunciar as incontáveis maravilhas que Deus fez e faz na humanidade; para isso, a nossa liberdade é necessária. Somos libertos para mostrarmos que Deus não se prende às cadeias da morte, que a nossa vida cristã não deve ser gasta com situações e prazeres efêmeros. Precisamente, em uma época que tende a banalizar o verdadeiro sentido da sexualidade e vive-se uma promiscuidade constantemente condenada pela Igreja, as palavras de São Paulo ressoam com mais força e ganham mais espaço na sociedade. Muitos, porém, desejam, ardentemente, ocultar esta verdade da sociedade e, entregando-se a paixões e desejos libidinosos, ocultam o verdadeiro sentido do Evangelho em suas vidas. E precisamente aí a missão da Igreja se torna mais clarividente. “A principal reforma da Igreja é a do coração do homem, isto é, a conversão interior!” (Frei Cleiton Robson)

“Com efeito, toda a Lei se resume neste único mandamento: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’” (v. 14). Amar! Se muitos, por um lado, afundam-se em paixões desordenadas, tais paixões não podem receber o atributo de amor. O verdadeiro amor desgasta-se pelo próximo; não tem reservas; está estritamente unido a Deus; caminha segundo os mandamentos divinos; e, sobretudo, o verdadeiro amor é Deus! E este amor incute em nosso coração a necessidade de transmiti-Lo ao próximo, pois tamanha é a alegria que não podemos contê-la. Mas farei uma analogia entre as duas palavras (amor e caridade). No latim, a palavra charitas significa amor ou caridade. Logo, “quem pratica a caridade ama, e quem ama deve praticar a caridade” (Sto. Agostinho). O maior exemplo de serviço foi dado pelo próprio Cristo. Fazendo-se servo, Ele não revogou para si qualquer dignidade ou condição divina.

Eu vos ordeno: Procedei segundo o Espírito. Assim, não satisfareis aos desejos da carne. Pois a carne tem desejos contra o espírito, e o espírito tem desejos contra a carne. Há uma oposição entre carne e espírito, de modo que nem sempre fazeis o que gostaríeis de fazer” (Gl 5, 16-17). Muitos têm a grande necessidade de abrir-se à graça santificadora do Espírito Santo. Ele pode dar um novo sentido existencial para a nossa vida. Nele poderemos encontrar as forças necessárias para vencermos todas as tentações que vêm nos estimular a perpetramos pecados contra Nosso Senhor. Reconheçamos a nossa fraqueza e mergulhemos no Espírito, que “sonda tudo, mesmo as profundezas de Deus” (1 Cor 2, 10).

Procedamos realmente como cristãos! Não nos deixemos desanimar! Fortaleçamos o espírito pela oração, para que o demônio nos encontre sempre atentos e animados, na certeza de que estamos intrinsecamente unidos ao Espírito, de tal modo que já não podemos viver longe dEle.

Enfim, no Evangelho vemos que por não serem acolhidos em Samaria, Tiago e João queriam que Jesus implorasse “fogo do céu”, para que matasse a todos; buscavam uma atitude agressiva. No entanto, Jesus os repreende. Ora, a atitude do cristão nunca deve passar pela força. Deve ser, antes, algo de livre abertura à vontade de Deus, para que se cumpra o que Jesus ensinou.

“Segue-me”, diz Jesus. E nós não devemos impor resistência, como fizeram algumas das personagens do Evangelho de hoje. Se formos escolhidos demos nosso sim disponível! Pois mais vale um sim verdadeiro e disponível aos olhos de Deus, que um sim de má vontade.

Que Maria, humilde serva do Senhor, nos auxilie em nosso caminho missionário. Ela que com o seu sim permitiu que a salvação entrasse no mundo, nos ajude a também darmos um “sim” destemido a Jesus e sua graça santificadora.

Desça sobre vós abundantes bênçãos, em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

A eficácia da oração

“Através desta oração coral, que encontra o seu cume na participação cotidiana no Sacrifício Eucarístico, a vossa dedicação ao Senhor no silêncio e no escondimento é tornada fecunda e fértil, não somente em ordem do caminho de santificação e purificação pessoal, mas também no que diz respeito àquele apostolado de intercessão que desenvolveis por toda a Igreja, para que possa aparecer pura e santa diante do Senhor. Vós, que bem conheceis a eficácia da oração, experimentais todo o dia quantas graças de santificação ela pode obter à Igreja.”

(Papa Bento XVI, Homilia no Mosteiro Dominicano de Santa Maria do Rosário; 24 de junho de 2010)

O Santo Padre mais uma vez manifesta-nos a necessidade constante da oração, e não apenas dela, como também da vida contemplativa. Urge cada vez mais alto a necessidade de termos pessoas constantes na oração, que possam levar uma vida contemplativa e nela descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Verdadeiramente não são as alegrias terrenas que nos farão contemplar a face de Deus, mas o nosso interior, a nossa condição de pessoas e de cristãos.

Para quantos no mundo hodierno parece-se uma insensatez, ou até mesmo uma loucura, a vida de clausura, ao qual muito dos nossos irmãos se detém? Mas a Igreja, constantemente, por meio dos Santos Padres sobretudo, nos convida a olharmos de forma diferenciada para esta vida de oração que a muitos enriquece. Quem sabe orar faz da sua vida um céu, quem não sabe a transforma em um inferno. Isto porque se a oração não nos dirige para Deus, e fere a nossa fé cristã nos fazendo cair na presunção da autossuficiência, não poderá ser boa e muito menos poderá pôr-nos em profundo contato com Deus, mas atirar-nos-á em um abismo, um existencialismo puro, sem um destino e sem Alguém que lhe dará pelo valor.

Só a oração verdadeira e íntima com Deus, que brota do coração, pode realmente fazer com que os homens e mulheres – especialmente os que dedicam suas vidas a rezar pelo mundo nos mosteiros – sintam o abraço do Pai e nele encontrem plena realização. Em um mundo tomado por ideologias que contrastam fortemente os sagrados ensinamentos evangélicos e os preceitos da moral católica, somos convidados a perseverar, como bem nos exorta São Pedro: “Sede, portanto, prudentes e vigiai na oração.” (1 Pd 4, 7).

São João Crisóstomo fala sobre os monges:

Ali há uma só riqueza para todos, a verdadeira riqueza, e uma só glória para todos, a verdadeira glória, pois não põem os bens nos nomes, mas nas coisas: um só prazer, um só desejo, uma só esperança para todos. Tudo está perfeitamente ordenado como com régua e esquadro. Não há ali desordem alguma. Tudo é ordem, ritmo e harmonia, e concórdia absoluta, e motivo constante de alegria. Por isto todos fazem e sofrem tudo para que todos vivam felizes e contentes. E assim, só entre os monges podemos ver esta pura alegria que não acontece em nenhuma outra parte, não só porque desprezaram o presente e cortaram pela raiz toda ocasião de dissensão e luta; não só porque têm as mais belas esperanças para o futuro, mas também pelo fato de que cada um considera como seu tudo quanto acontece de alegria ou tristeza aos demais. Deste modo, a tristeza desaparece facilmente, pois todos levam a carga, como se fossem um só, e se acrescentam os motivos de alegria, pois não se alegram só pelos próprios bens, mas também – e não menos que pelos próprios – pelos bens alheios”.

Contra os impugnadores da vida monástica
Discurso III, cap. 21

Se muitos soubessem o verdadeiro valor da vida monástica e religiosa não a atacariam tão vorazmente, e muito menos a colocariam como castigo. Da oração brota o amor. E quem primeiro ama são aqueles que mais rezam. Logo, em nenhum momento ousaria dizer que amo mais que um religioso, ou um monge, ou uma freira. É Deus que ama o mundo por meio deles, é Deus que nos ama por meio dos sacerdotes.

Os Santos são exemplo vivo disto: Santa Teresinha do Menino Jesus, São Bento, Santo Antonio e tantos outros, que, apesar de não serem monges, viviam em alguma congregação.

Doar-se e doar-se sem reservas: eis um lema que deve centralizar a vida cristã. Aquele que se doa em primeiro lugar doa-se à oração. E se muitos soubessem o inexaurível valor da oração não a excluiriam de suas vidas, mas saberiam que ali achariam forças para nutrir a caminhada neste mundo e nos garantir a salvação no próximo.

Não basta rezar, é necessário saber rezar.

Encerro com as sábias palavras de São Paulo, que são tão consoladores à todos nós: “Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12, 12).

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Sacerdócio não é para prestígio social

O sacerdócio não pode jamais representar um caminho para obter segurança na vida ou conquistar uma posição social. Quem aspira o sacerdócio para aumentar seu prestígio pessoal e seu próprio poder interpreta equivocadamente o sentido deste ministério. Quem quer, sobretudo, alcançar uma própria ambição, alcançar o próprio sucesso, será sempre escravo de si mesmo e da opinião pública. Para ser considerado deverá adular; deverá dizer aquilo que as pessoas gostam; deverá se ajustar às novas modas e opiniões e, assim, privar-se-á da relação vital com a verdade, reduzindo-se a condenar amanhã o que será louvado hoje. Um homem que colocou assim sua vida, um sacerdote que veja nestes termos o próprio ministério, não ama verdadeiramente a Deus e aos outros, mas só a si mesmo e, paradoxalmente, acaba por se perder.”

“O sacerdócio – lembremo-nos sempre – depende da coragem para dizer “sim” à outra vontade, na consciência, de fazer crescer a cada dia, que a sua conformidade com a vontade de Deus, “imerso” nesta vontade, não só não será cancelada a nossa originalidade, mas, ao contrário, entraremos sempre mais na verdade do nosso ser e do nosso ministério.”

– Papa Bento XVI, Homilia na ordenação de novos sacerdotes
20 de junho de 2010

E você, quem diz que eu sou?

O Evangelho deste domingo põe-nos em profundo contato com a profissão de fé de Pedro e um riquíssimo sentido da vida cristã, que jamais pode ser ab-rogado da nossa caminhada.

Tendo como ponto de partida a afirmação de Pedro, desejo dar inicio à nossa reflexão dominical. Em primeiro lugar é necessário ressaltar o que diz o evangelista ao afirmar que o Senhor se encontrava em oração, e logo em seguida interroga seus discípulos sobre o que falavam dele. Ora, Jesus antes de tomar tal decisão, e de por os seus discípulos “à prova”, por assim dizer, pôs-se em oração. Antes de qualquer atitude importante Jesus colocava-se em oração. Mesmo sendo Filho de Deus, e sendo Deus, ele não se absteve de orar incessantemente. Muitas vezes, no entanto, nós queremos nos sobrepor com nossas ações e ideologias e nos esquecemos que somos frágeis e constantemente devemos recorrer à oração. Esta não é um esvaziamento da realidade, não busca tornar os problemas invisíveis; no entanto, coloca-nos em profundo contato com Deus, nos une a Ele e nos dá coragem para enfrentarmos todas as dificuldades. Bem recordou o Santo Padre o Papa Bento XVI: “Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. O modo correto de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e, precisamente desta forma, aptos também para os homens” (Spe Salvi, 33).

Jesus pergunta aos apóstolos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus” (Lc 9, 20). Eis uma afirmação que quer persuadir-nos da verdadeira missão de Cristo, vivificada constantemente pelos sacerdotes, alter Christus. Cristo (ungido) são também os sacerdotes que assumem esta grande responsabilidade, e que, esquecidos pela mídia que focaliza apenas os maus sacerdotes, não mostram a grande maioria que doam suas vidas pelo Reino de Deus. E você, quem diz que eu sou? Pergunta também Jesus a nós hoje. Pergunta a mídia e aos que constantemente atacam a Igreja. “Acaso ignorais que vivo hoje por meio dos sacerdotes?”, poderia indagar-lhes Jesus. Infelizmente vemos que Cristo está sendo novamente crucificado, e O crucificam por que não creem nas palavras da Igreja, por que não querem enxergar nos sacerdotes a imagem viva de Cristo.

A Igreja poderia contemplar apenas um Cristo vitorioso, se nos momentos de tribulação ela não tivesse que contemplar o Cristo crucificado. Pois se excluíssimos o Cristo sofredor das nossas vida não saberíamos o caminho da ressurreição: passar pela cruz.

Mas adiante Jesus chama seus discípulos e expõe-lhes sua missão. Ele não era um Cristo que queria ser engrandecido. Nós O engrandecemos, e é o mínimo que poderíamos fazê-lo, mas Ele não queria ser o “centro das atenções”, o “maioral”. Quão grande foi a surpresa dos discípulos ao ouvirem: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (v. 22).

Mas como? Será mesmo que Jesus não poderia redimir o mundo de outra forma? Somente derramando o seu sangue Jesus poderia lavar os pecados da humanidade, destruir Satanás e dar novo sentido à nossa existência humana: Pela redenção de Cristo foram-nos abertas as portas da misericórdia e a esperança duradoura da nossa ressurreição no mundo vindouro. Assim, Jesus, com seu lado aberto, não só realiza a profecia – Olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10) –, como também faz com que desse lado brotem abundantemente sangue e água, prefiguração dos sacramentos da Igreja.

Somente se pode alcançar a verdadeira ressurreição depois que passarmos pela morte. Só se chegará à alegria verdadeira depois que superarmos as tribulações. E o primeiro e principal método para superá-las é por meio da oração. Sendo que um cristão que não se põe em atitude de oração não saberá qual é o caminho certo a trilhar.

Enfim, Jesus propõe algo que todos nós devemos assumir, mesmo que pareça paradoxal ou radical: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (v. 23-24).

Tomar a cruz talvez seja para o mundo de hoje algo impensável. Muitos podem indagar-se como em uma sociedade com tantos prazeres desnecessários e efêmeros, mas que satisfazem, mesmo que apenas no âmbito da vida terrena, pode o homem pensar em caminhar levando uma pesada cruz, dos fardos cotidianos, dos desafios, das pedras que dificultam o caminho cristão? Mas para quem está com Cristo a tristeza maior é estar sem Ele. A dificuldade maior é perdê-lo, o medo maior é não encontrá-lo.

Será realmente que teríamos coragem de perder nossas vidas por causa do nome de Jesus e de tudo o que Ele ensinou e fez? A felicidade duradoura e verdadeira só pode ser encontrada quando pudermos estar face a face com Deus. Quando nos pusermos em atitude de serviço e soubermos que, mesmo onde o perigo é constante, a fidelidade e o amor a Deus se fazem maior.

Só nós poderemos responder a uma pergunta de Jesus que, perpassados estes dois mil anos, continua a ecoar em nossos ouvidos: “E você, quem diz que eu sou?”

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Respeitar os valores inegociáveis da vida humana

A fé, de fato, protege a razão de todas as tentações de confiança na própria capacidade, estimula-a a abrir-se a horizontes sempre mais vastos, mantém viva a busca de fundamentos e, quando a razão mesma se aplica a esfera sobrenatural da relação entre Deus e o homem, enriquece o seu trabalho. Segundo São Tomás, por exemplo, a razão humana pode certamente chegar a afirmação de um único Deus, mas somente a fé que aceita a Revelação divina, é capaz de atingir o mistério do Deus Uno e Trino. […]

Todos os homens, crentes e não crentes, são chamados reconhecer as exigências da natureza humana expressas na lei natural e a inspirar-se nela na formulação das leis positivas, aquelas que emanam das autoridades civis e políticas para regular a convivência humana.

Quando a lei natural e a responsabilidade que ela implica são negadas, abre-se dramaticamente o caminho ao relativismo ético sobre o plano individual e ao totalitarismo do Estado sobre o plano público. A defesa dos direitos universais do homem e a afirmação dos valores absolutos da dignidade da pessoa postulam um fundamento.”

“Não é a lei natural este fundamento próprio, com os valores não negociáveis que ela indica? O Venerável João Paulo II escrevia na sua Encíclica Evangelium Vitae palavras que permanecem em grande atualidade: “Para bem do futuro da sociedade e do progresso de uma sã democracia, urge, pois, redescobrir a existência de valores humanos e morais essenciais e congênitos, que derivam da própria verdade do ser humano, e exprimem e tutelam a dignidade da pessoa: valores que nenhum indivíduo, nenhuma maioria e nenhum Estado poderá jamais criar, modificar ou destruir, mas apenas os deverá reconhecer, respeitar e promover” (nº 71).”

Papa Bento XVI, Audiência Geral
16 de junho de 2010

Chorar aos pés de Cristo

As leituras deste domingo convidam-nos a contemplarmos o perdão de Deus, manifestado constantemente na humanidade. Se observarmos as leituras poderemos ver quão ricos são os ensinamentos que a Sagrada Escritura dirige a nós, especialmente em dias tão conturbados, que tendem a fazer desaparecer a beleza e a necessidade do perdão.

Na primeira leitura vemos manifestado o perdão de Deus a Davi. Depois que ele trai a Urias, quando deita-se com sua mulher, e esta dele engravida, ele manda que Urias seja posto na frente de guerra para que seja morto logo. Sabendo do que tinha feito, Deus envia Natã para avisar a Davi do grave pecado em que se encontrava, e este exorta a Davi para que ponha-se em atitude de perdão diante de Deus. Davi disse a Natã: “Pequei contra o Senhor”.
Natã respondeu-lhe: “De sua parte, o Senhor perdoou o teu pecado, de modo que não morrerás! Entretanto, por teres ultrajado o Senhor com teu procedimento, o filho que te nasceu morrerá” (2 Sam 12, 13-14).

O Senhor, como fonte de misericórdia e sendo Ele mesmo a misericórdia, concede-nos o perdão, apesar de nossas dificuldades. Por sermos pecadores temos a graça de encontrar a misericórdia de Cristo, e de mergulhar nesta fonte viva de amor.

Na segunda leitura São Paulo afirma categoricamente: “Eu não desprezo a graça de Deus. Ora, se a justiça vem pela Lei, então Cristo morreu inutilmente” (Gl 2, 21). É notória tal afirmação do apóstolo. Estaria, pois, Paulo a desprezar a Lei? Será que ela seria desnecessária? Debruçarmo-nos-emos, sobretudo, no contexto das palavras paulinas, que constituem para mim uma grande verdade da graça redentora no mundo. Paulo nos diz que a misericórdia, o amor de Deus, é maior que toda a Lei. Isto porque na Lei não se encontra o ápice da nossa salvação; na Lei não está a centralidade da Fé cristã; na Lei se encontra como bem viver a fé cristã, mas todo este fundamento se encontra unicamente no amor. Amor este que é o próprio Deus, que, por meio de Jesus Cristo, salvou a humanidade, não com Lei, com regras e juízos, mas com amor.

Mas perguntar-me-ão, e isto é necessário, por que a Igreja nos apresenta leis e mandamentos para como bem viver a fé cristã, e que são setas que apontam para a salvação? Ora, aquilo que a Igreja ensina é unicamente o que o próprio Cristo ordena aos apóstolos, e São Paulo santamente ordena a Timóteo, seu fiel colaborador: “Guarda o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós” (II Tim 2, 14). Este depósito da fé, os ensinamentos nele contidos, guiam nossa vida cristã para que, superando as dificuldades e vencendo tudo o que se põe contra a fé, possamos caminhar santamente nos ensinamentos de Jesus. Mas o que salva não são os ensinamentos, eles são meios. A Verdadeira salvação consiste unicamente em Jesus Cristo. E só quem tem coragem de dizer “não” ao mundo poderá dar um “sim” comprometido e irrenunciável ao seu projeto salvífico. E um dia podermos, Paulo, afirmar: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).

Mas se Paulo não despreza a graça de Deus, que operou maravilhosamente nele, muitos hoje em dia a desprezam constantemente. Acham que sua autossuficiência poderá fazer-los dignos do Reino do Céu, quando, na verdade, a maior virtude para chegar-se ao céu é inclinar-se, reconhecer-se pecador, levantar-se e caminhar confiando na misericórdia de Deus.

E eis que chegamos ao Evangelho. E que belo é o Evangelho! É capaz de contrastar a humilhação de uma pecadora, e um fariseu, que achava que devia manter-se afastado de “pecadores”, pois leva uma vida “santa”. Jesus, no entanto, acolhe-a e manifesta o amor de Deus por ela.

Ela, levando uma vida desregrada, encontra em Jesus o verdadeiro amor; alguém que podia fortalecê-la e ajudá-la a não mais retornar àquela vida de pecados. Ela aproxima-se de Jesus e chora. Chorar! Eis algo ao qual muitos se retém. Chorar não é apenas uma manifestação corpórea de se mostrar comovido ou triste com algo, deve ser também uma manifestação de arrependimento dos nossos pecados. Se chorar ajuda a desabafar, chorar aos pés de Jesus também não é diferente. Jesus acolhedor, manso e humilde de coração, está sempre disposto a nos acolher. Ainda que parecesse certa a atitude de Simão, em si interrogar por que o mestre acolheria aquela pecadora, Jesus não a exclui e não a marginaliza; acolhe-a e oferece a ela um novo sentido existencial.

Ninguém é destinado ao inferno. Ninguém é criado para levar uma vida afastada de Deus. Hoje convido a você para sentir o amor misericordioso de Deus. Seja amado pelo Amor. Chore aos pés de Cristo, pois Ele é o único que pode escutar o nosso clamor. Sinta a presença de Cristo lhe acompanhando sempre.

Pecar todos pecamos. Mas erguer a cabeça e caminhar confiantes na misericórdia, isso só os fortes podem fazer. E só é verdadeiramente forte quem está ao lado de Cristo. Como nos diz o livro do Eclesiástico: “Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais” (2, 7).

Que Santo Antonio, martelo do hereges e insigne pregador do Evangelho, interceda sempre por nós, indignos servos de Cristo. Que possamos chorar nossos pecados aos pés de Jesus, e que eu seja o primeiro a fazê-lo

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

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Leia também: Mas esta mulher é pecadora!, do blog Jornadas Espirituais.

E se Jesus ficasse caído?

Quantas vezes nos sentimos sobrecarregados com o peso da cruz? Já não nos é mais possível suportá-la. Então caímos. Não tenha vergonha de ter caído, muito menos sinta-se humilhado. O próprio Filho de Deus caiu, devido o árduo peso da cruz. Caiu, mas não ficou prostrado por terra; caiu, mas ergueu-se de forma tão mais espetacular do que quando estava antes da queda. Jesus estava espezinhado pelo peso da cruz. Era forçado a caminhar, ensaguentado, chagado, pelas vias de Jerusalém, mas todo seu caminho para o Calvário foi também o caminho para a glória. Se Jesus foi humilhado e caiu, nós que não chegamos nem à condição em que ele estava, também o seremos. Mas só poderemos vencer quando, reconhecendo nossa fraqueza e estimulados por um novo recomeço, nos levantarmos e prosseguirmos o caminho que a nós parece tão difícil.

Mas como poderemos compreender as palavras ressonantes de São Paulo também nos dias hodiernos? “Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos” (II Cor 1, 6). Suportar os sofrimentos é algo que a primeiro momento, e talvez a todo o instante, seja difícil, mas se estamos com Cristo, se encontramos o fim último nEle e se nos deixamos penetrar no seu amor, poderemos vencer todas as dificuldades e, mais que isto, poderemos fazer com que as dificuldades, as tribulações, se tornem caminhos para alcançarmos as virtudes.

Cair na vida cristã é parte de uma jornada. Não podemos é permanecer caídos. Jesus hoje dirige-se a nós e diz: “Levanta-te!” Também nós precisamos ser tomados por este impulso. Levantarmo-nos e dirigirmo-nos em direção de Cristo, Ele, e unicamente Ele, é a solução de todos os problemas. E os problemas só terão uma solução quando nos detivermos, antes, diante da imagem do crucificado.

Não deixe que as dificuldades sobreponham-se a sua fé cristã. Confie!

Olhemos para o Cristo. Para o calvário Ele foi sem jamais reclamar. Caiu e levantou-se, mesmo sabendo que iria morrer. Há meus irmãos! Como necessitamos de pessoas corajosas, capazes de dizerem com convicção: “Jesus, com a tua força eu superarei tal problema. Somente em ti confio, e sei que os problemas são mínimos diante de ti”.

Certamente se Cristo ficasse caído estaríamos entre trevas, atribulados, mortos pelo pecado e por todo o caos que ele provocou e provoca no mundo.

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Todo o peso dos nossos pecados Jesus tomou sobre si. Se hoje são mais leves (apesar de muitas vezes não parecerem), foi Jesus quem os tornou assim. Ele, que sendo Deus e não tendo pecado, assumiu os nossos.

Sempre que encontrarmo-nos diante de alguma dificuldade olhemos para cruz. Lembremos que dificuldade e dor maior teve Jesus, crucificado inocentemente, e peçamos-lhe a graça da paciência, da humildade e, sobretudo, da fé.

Toda a dor cessará quando o amor for uma centralidade na vida humana.

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!

Sacerdotes segundo o Coração de Jesus

Encerrando o Ano Sacerdotal e neste dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, senti-me na necessidade de escrever aos nossos sacerdotes, em particular os que visitam este humilde blog que dispõe-se a serviço da Santa Igreja e da evangelização.

Desejo saudar a cada um de forma afetuosa, em Cristo Jesus e Maria Santíssima.

O Ano Sacerdotal foi uma experiência frutuosa para toda a Igreja, radicada em um clamor insistente pedindo sacerdotes santos para que, com sapiência, possam guiar o povo de Deus.

Esta feliz iniciativa do Santo Padre, o Papa, põe ante nossos olhos a urgente necessidade de rezarmos constantemente pedindo por alguns sacerdotes que passam por alguma dificuldade, ou que se desviam do mandato missionário, agindo de forma não muitas vezes errônea e imoral.

As leituras propostas à esta Solenidade relatam-nos a missão do sacerdote e como ele deve exercê-la, observando as Escrituras e confiantes na misericórdia incessante de Deus.

Na primeira leitura (Ez 34,11-16), assim como no Evangelho, somos postos em uma figura de linguagem, comumente usada na Igreja: pastor e ovelha. “Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas” (v. 11). Vemos aqui já uma prefiguração da missão de Jesus. Este pastor que nos relata o profeta é o próprio Cristo, que, não permanecendo inacessível nos céus, quis fazer deste mundo sua habitação, e mais que isto: quis fazer de nós sua habitação. O Sumo e Eterno Sacerdote também quis estar presente e fazer dele as palavras do livro aos Hebreus: “O sacerdote é tirado do meio do povo, para ser posto no meio do povo”. Mas Ele poderia assumir um sacerdócio diferente, não necessitaria sair da Virgem Maria. O que quer Cristo mostrar?

Em minha concepção Jesus aponta-nos que, apesar de seres seus representantes, e agirem em sua pessoa, os sacerdotes também tem suas fraquezas, seus limites. Não podemos crucificar os padres por causa do erro de alguns membros do clero. Há padres que vivem a Boa Nova do Evangelho, são perseguidos, mortos. Padres que trabalham em prol dos que sofrem, tanto pelo sistema opressor do capitalismo, do marxismo, do comunismo, quanto pelas enfermidades corporais. Mas isso a mídia não propaga. Omite-se em anunciar uma verdade, para se apegar a mitos que criam na tentativa de, inutilmente, tentar derrubar a Igreja.

“Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-la conforme o direito” (v. 16). Estas missões às quais os pastores de hoje são chamados, florescem cada dia mais no jardim da humanidade. Muitas são as ovelhas perdidas, que apascentam a si mesmas, se bem que algumas não se deixam apascentar.

Eis que os nossos sacerdotes devem ser pastores, assumindo a missão que lhes foi confiada pelo próprio Cristo: “Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos” (Lc 10, 3). “Ide!” Ainda hoje Jesus continua a fazer este veemente apelo, para que não se cesse nunca o ardor missionário que os padres devem ter. Iremos Senhor. Mas iremos olhando para ti, observando teus mandamentos e guiando-nos pelo teu caminho, que é a Igreja.

No Evangelho Jesus afirma: “Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la?” (Lc 15, 4). Parece paradoxal esta parábola, principalmente quando Jesus completa: “Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (v. 7).

Não seria o céu um lugar para se alegrar pelos justos? Também! Mas se o é, ainda mais o será pelos pecadores.

Mergulhados na imensidão do Sagrado Coração de Jesus, queremos pedir que Ele olhe e proteja os nossos sacerdotes. A misericórdia infinita do Senhor é capaz de acolher a todos, por maior que seja o pecado. Basta arrepender-se de coração humilhado e confiar no Senhor que tudo perdoa. Ao contrário do nosso coração, o Coração de Jesus sabe amar e perdoar. Para aprender a amar o único meio é mergulharmos na inexaurível fonte de graças que jorram abundantemente do Coração de Jesus, ferido por nossos pecados. Introduzamo-nos neste mistério e descubramos que o Senhor convida a todos nós. E por que não aceitar o seu convite? Vamos ao manancial de graças. Deixemo-nos tomar por este espírito de amor, ao qual pedimos que hoje possa irradiar todo o mundo.

Do coração ferido pela lança, outrora saiu sangue e água, hoje saem o amor e a misericórdia, que a ninguém abandona e que a todos conforta.

Jesus é o amor que os cristão devem experimentar; caso contrário viverão na superficialidade e sentirão falta de algo essencial na caminhada. Ninguém tem uma boa caminhada religiosa se não ama, e mais ainda, se não sabe o que é o amor de Cristo. O desejo da santidade parte também do amor. Porque amaram, os santos puderam testemunhar o Evangelho de Cristo, puderam vivê-lo com fidelidade e puderam ter um feliz encontro com Deus.

Peçamos pelos que andam no mundo obscuro, para que seja-lhes dada a visão da luz.

Que este Ano Sacerdotal não fique restrito apenas ao tempo cronológico. Mas que esteja sempre no presente da vida sacerdotal.

Permaneçamos sempre confiantes nas palavras de Jesus a Santa Maria Alacoque: “Afinal reinará, este amável Coração, apesar de todos os que se quererão opor. Satã e todos os seus seguidores serão confundidos”