Festa da Conversão de São Paulo


Bento XVI deixou esta Segunda-feira um apelo ao “testemunho comum” dos cristãos perante “os desafios cada vez mais complexos do nosso tempo, como a secularização e a indiferença, o relativismo e o hedonismo”.

Na celebração conclusiva da semana de oração pela unidade dos cristãos, a que presidiu na Basílica de São Paulo fora de muros, o Papa falou ainda dos “delicados temas éticos que dizem respeito ao inicio e ao fim da vida, os limites da ciência e da tecnologia, o dialogo com as outra tradições religiosas”.

No início da celebração, o Papa foi saudado pelo Cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos. Referindo-se ao tema do oitavário de oração, “vós sois as testemunhas destas coisas”, o Cardeal alemão salientou que o mesmo recorda as origens do movimento ecuménico moderno, quando há um século os missionários reunidos em Edimburgo chegaram à conclusão de que o maior obstáculo à missão no mundo era precisamente a divisão entre os cristãos.

Bento XVI, por seu lado, afirmou que, a um século de distância da conferência de Edimburgo, a intuição dos precursores do movimento ecuménico continua “actualíssima”.

“Num mundo marcado pela indiferencia religiosa, e até mesmo por uma aversão crescente em relação à fé cristã – acrescentou – é necessária uma nova, intensa, actividade de evangelização, não só entre os povos que nunca conheceram o Evangelho, mas também onde o Cristianismo se difundiu e faz parte da sua história”.

O Papa admitiu que “não faltam questões que nos separam uns dos outros e que esperamos possam ser superadas através da oração e do diálogo”, mas lembrou que “existe um conteúdo central da mensagem de Cristo que podemos anunciar juntos: a paternidade de Deus, a vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte com a sua cruz e ressurreição, a confiança na acção transformadora do Espírito Santo”.

Em conclusão, Bento XVI quis frisar que “o empenho para a unidade dos cristãos não é tarefa apenas de alguns nem actividade acessória para a vida da Igreja. Cada um é chamado a dar o seu contributo para dar os passos que levam à comunhão plena entre todos os discípulos de Cristo, sem nunca esquecer que ela é – antes de mais – dom de Deus que se deve invocar constantemente”.

Mensagem para o 44º Dia Mundial das Comunicações – 2010


O sacerdote e a pastoral no mundo digital:
os novos media ao serviço da Palavra
Queridos Irmãos e Irmãs,

O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais – “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra” – insere-se perfeitamente no trajeto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se expressam, entrando em contato com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.

A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: “Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?” (Rm 10,11.13-15).

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De fato, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma “história nova”, porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.

Contudo, a divulgação dos “multimídia” e o diversificado “espectro de funções” da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e deconsiderar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas “vozes” que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da “rede”.

Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e atual. De fato, a pastoral no mundo digital há de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que “Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros” [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: “L’Osservatore Romano” (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competênc
ias no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contato humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era “digital”, os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam ociberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: “Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 20).


Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma “diaconia da cultura” no atual “continente digital”. Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efetivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contato com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o “pátio dos gentios” do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De fato nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novosmedia oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na “ágora” moderna criada pelos meios atuais de comunicação.

Com estes votos, invoco sobre vós a proteção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afeto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2010


Papa faz novas nomeações para Tribunal da Assinatura Apostólica

O Papa Bento XVI nomeou nesta segunda-feira, 25, novos novos membros para o Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, entre as indicações um bispo brasileiro: Dom Fernando José Monteiro Guimarães, Bispo de Garanhuns (PE).

Também foram nomeados, o Cardeal Giovanni Lajolo, presidente do Governorato do Estado da cidade do Vaticano e os bispos, Dom Velasio De Paolis, presidente da Prefeitura para Assuntos Econômicos da Santa Sé;  Dom Stanislav Zvolensky, Arcebispo de Bratislava; Dom Filippo Lannone, Bispo de Sora-Aquino-Pontecorvo e Dom Ryszard Kasyna, Bispo titular de Dices e Bispo auxiliar de Gdańsk.

O Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica é um órgão do Estado do Vaticano direcionado para tratar causas civis e religiosas. As atuais competências do tribunal foram estabelecidas na Constituição Apostólica Pastor Bonus (de 28 de julho de 1988, art. 121-125) e retomadas na Lex propria (art. 32-35). 

PAPA VISITA SINAGOGA DE ROMA

[Fiz questão de interromper as férias para publicar o discurso histórico do Papa Bento XVI, em visita hoje à Sinagoga de Roma. Abaixo a notícia e o discurso da Rádio Vaticano. Este ato mostra-nos o significativo empenho do Papa na promoção da paz entre as religiões]

Roma, 17 jan (RV) – Bento XVI visitou, na tarde deste domingo, a Sinagoga de Roma. Tal evento consolida o diálogo entre as duas comunidades católica e judaica, não obstante os momentos de particulares dificuldades.

O papa foi recebido pelo presidente da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Pacifici, pelo presidente da Comunidade Judaica Italiana, Renzo Gattegna, e pelo rabino-chefe da Sinagoga de Roma, Riccardo Di Segni.

O Santo Padre parou diante da lápide que recorda a deportação de 1.021 judeus para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em 16 de outubro de 1943. O pontífice se deteve também diante da lápide que lembra o atentado de 9 de outubro de 1982, em que perdeu a vida Stefano Taché, menino judeu de dois anos e ficaram feridos 37 judeus que saíam do Templo.

Em seu discurso, o papa agradeceu ao rabino-chefe da Sinagoga de Roma pelo convite e pelas significativas palavras a ele proferidas, e às outras personalidades do mundo judaico ali presentes. A seguir Bento XVI acrescentou: “vindo até vocês pela primeira vez como cristão e como papa, o meu venerável predecessor João Paulo II, há quase 24 anos, quis dar uma contribuição decisiva em favor da consolidação das boas relações entre as nossas comunidades, para superar toda incompreensão e preconceito. Esta minha visita se insere no caminho traçado, para confirmá-lo e reforçá-lo. Com sentimentos de viva cordialidade me encontro em meio a vocês para manifestar a estima e o afeto que o Bispo e a Igreja de Roma, e toda a Igreja Católica, nutrem por esta Comunidade e pelas Comunidades Judaicas espalhadas pelo mundo.”

Bento XVI recordou que Concílio Vaticano II representou para os católicos um ponto decisivo de referência constante na atitude e nas relações com o povo judeu, abrindo uma nova e significativa etapa.

“O evento conciliar deu um impulso decisivo ao compromisso de percorrer um caminho irrevogável de diálogo, de fraternidade e amizade, caminho que se aprofundou e se desenvolveu nestes quarenta anos com passos e gestos importantes e significativos” – frisou ainda o papa.

“Também eu, nestes anos de pontificado, quis demonstrar minha proximidade e meu afeto ao povo da Aliança. Conservo bem vivo em meu coração todos os momentos da peregrinação que tive a alegria de realizar na Terra Santa, em maio do ano passado, como também os vários encontros com comunidades e organizações judaicas, em particular os das sinagogas de Colônia e Nova Iorque” – sublinhou Bento XVI.

O Santo Padre disse ainda que “a Igreja não deixou de condenar as faltas de seus filhos e filhas, pedindo perdão por tudo aquilo que pôde favorecer de algum modo as chagas do anti-semitismo e do anti-judaísmo”.
O papa frisou que “como ensina Moisés na Shemá – e Jesus confirma no Evangelho, todos os mandamentos se resumem no amor de Deus e na misericórdia para com o próximo” – sublinhou o pontífice, acrescentou:

“Cristãos e judeus possuem uma grande parte comum de patrimônio espiritual, rezam ao mesmo Senhor, possuem as mesmas raízes, mas continuam reciprocamente desconhecidos um ao outro. Cabe a nós, como resposta ao chamado de Deus, trabalhar para que permaneça sempre aberto o espaço para o diálogo, o respeito recíproco, o crescimento na amizade, o testemunho comum diante dos desafios de nosso tempo, que nos convidam a colaborar para o bem da humanidade neste mundo criado por Deus, o Onipotente e Misericordioso” – ressaltou Bento XVI.

O Santo Padre fez um apelo para que na cidade de Roma, onde há dois mil anos, convivem a Comunidade Católica com seu bispo e a Comunidade Judaica com seu rabino-chefe, tal vivência possa ser animada por um crescente amor fraterno, que se expressa também na cooperação sempre mais forte a fim de oferecer uma contribuição válida na solução de problemas e dificuldades a serem enfrentadas.

O papa concluiu seu discurso invocando do Senhor o dom precioso da paz na Terra Santa, no Oriente Médio, enfim no mundo inteiro e pediu a Deus para que reforce cada vez mais a fraternidade e a diálogo entre católicos e judeus. (MJ)

Cidade do Vaticano, 17 jan (RV) – Leia na íntegra o discurso do Santo Padre proferido na Sinagoga de Roma.

“O Senhor fez grandes coisas por eles”
Grandes coisas fez o Senhor por nós:
nos enchemos de alegria” (Sl 126)

“Como é bom e agradável
para irmãos viverem unidos” (Sl 133)

Senhor Rabino Chefe da Comunidade Judaica de Roma,
Senhor Presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas,
Senhor Presidente da Comunidade Judaica de Roma,
Senhores Rabinos,
Prezadas Autoridades,
Caros amigos e irmãos,

1. No início do encontro no Templo Maior dos Judeus em Roma, os Salmos que ouvimos nos mostram a atitude espiritual mais autêntica para viver este especial e feliz momento de graça: o louvor ao Senhor, que operou maravilhas por nós, que nos acolheu com seu Hésed, o amor misericordioso, e o agradecimento por nos ter dado a graça de nos encontrarmos tornando mais firmes os laços que nos unem e para continuar a percorrer o caminho da reconciliação e da fraternidade. Desejo expressar primeiramente grande gratidão ao Senhor, Rabino-chefe, Dr. Riccardo di Segni, pelo convite que me fez e pelas significativas palavras que me dirigiu. Agradeço ainda os presidentes da União das Comunidades Judaicas Italianas, Dr. Renzo Rategna, e da Comunidade Judaica de Roma, Sr. Ricardo Pacifici, pelas cordiais expressões que me dirigiram. O meu pensamento se volta às autoridades e a todos os presentes e alcança de modo particular a Comunidade judaica romana e todos que colaboraram para tornar possível o momento de encontro e de amizade que estamos vivendo.

Vindo até vocês pela primeira vez como cristão e como Papa, o meu venerável predecessor João Paulo II, há quase 24 anos, quis oferecer uma contribuição decisiva à consolidação das boas relações entre as nossas comunidades, para superar toda incompreensão e prejuízo. Esta minha visita se insere no caminho traçado, para confirmá-lo e reforçá-lo. Com sentimentos de viva cordialidade me encontro em maio a vocês para manifestar minha estima e afeto que o Bispo e a Igreja de Roma, assim como a inteira Igreja Católica, nutrem por esta Comunidade e com as Comunidades judaicas espalhadas pelo mundo.

2. A doutrina do Concílio Vaticano II representou para os católicos um ponto decisivo de referência constante na atitude e nas relações com o povo judeu, abrindo uma nova e significativa etapa. O evento conciliar deu um impulso decisivo ao compromisso de percorrer um caminho irrevogável de diálogo, de fraternidade e de amizade, caminho que se aprofundou e desenvolveu nestes quarenta anos com passos e gestos importantes e significativos, entre os quais desejo mencionar novamente a histórica visita neste lugar do meu venerável predecessor, no dia 13 de abril de 1986, os numerosos encontros que ele realizou com os expoentes judeus, também durante as viagens apostólicas internacionais, a peregrinação jubilar na Terra Santa no ano 20
00, os documentos da Santa Sé que, depois da Declaração Nostra Aetate, ofereceu preciosas orientações para um positivo desenvolvimento nas relações entre católicos e judeus. Também eu, nestes anos de pontificado, quis demonstrar minha proximidade e meu afeto ao povo da Aliança. Conservo bem vivos em meu coração todos os momentos da peregrinação que tive a alegria de realizar na Terra Santa, em maio do ano passado, como ainda os vários encontros com Comunidades e Organizações judaicas, em particular os das sinagogas de Colônia e de Nova Iorque.

Além disso, a Igreja não deixou de condenar as faltas de seus filhos e filhas, pedindo perdão por tudo que pode favorecer de algum modo as chagas do anti-semitismo e do anti-judaísmo (cfr. Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo, Nós Recordamos: uma reflexão sobre a Shoah, 16 de março de 1998). Possam essas chagas sararem definitivamente! Volta sempre à memória a oração de pesar no Muro do Templo de Jerusalém do papa João Paulo II, em 26 de março de 2000, que soa verdadeira e sincera no profundo de nosso coração: “Deus de nossos pais, tu escolheste Abraão e a sua descendência para que teu Nome seja levado aos povos: estamos profundamente aflitos pelo comportamento dos que, no curso da história, lhes fizeram sofrer, eles que são teus filhos, e pedindo-Te perdão por isto, queremos comprometer-nos a viver uma fraternidade autêntica com o povo da Aliança”.

3. O passar do tempo nos permite reconhecer no século vinte uma época realmente trágica para a humanidade: guerras sangrentas que semearam destruição, morte e dor como nunca acontecera; ideologias terríveis que tiveram em sua raiz a idolatria do homem, da raça, do estado e que levaram uma vez mais o irmão a matar outro irmão. O drama singular e transtornador da Shoah represente, de certo modo, o vértice de um caminho de ódio que nasce quando o homem esquece o seu Criador e coloca a si mesmo como o centro do universo. Como disse na visita de 28 de maio de 2006 ao campo de concentração de Auschwitz, ainda profundamente marcada em minha mente, “os poderosos do Terceiro Reich queriam massacrar o povo judeu em sua totalidade” e, no fundo, “com o aniquilamento deste povo, queriam matar aquele Deus que chamou Abraão, que falando sobre o Sinai estabeleceu critérios orientadores da humanidade que continuam sempre válidos” (Discurso no campo de Auschwitz-Birkenau: Ensinamentos de Bento XVI, II, 1(2006), p.727).

Neste lugar, como não recordar os judeus romanos que foram retirados de suas casas, diante destes muros, e com horrenda tortura foram mortos em Auschwitz? Como seria possível esquecer os seus rostos, os seus nomes, lágrimas, desespero de homens, mulheres e crianças? O extermínio do povo da Aliança de Moisés, antes anunciado, em seguida sistematicamente programado e realizado na Europa sob o domínio nazista, chegou naquele dia tragicamente também a Roma. Infelizmente, muitos foram indiferentes, todavia muitos, também entre os católicos italianos, sustentados pela fé e pelo ensinamento cristão, reagiram com coragem, abrindo os braços para socorrer os judeus perseguidos e fugitivos, muitas vezes arriscando a própria vida, e merecendo uma gratidão perene. Também a Sé Apostólica desenvolveu uma ação de socorro, muitas vezes escondida e discreta.

A memória destes acontecimentos deve levar-nos a reforçar os laços que nos unem para que cresçam sempre mais a compreensão, o respeito e o acolhimento.

4. A nossa proximidade e fraternidade espiritual acham na Sagrada Bíblia – em hebraico Sifre Qodesh ou “Livros da Santidade” – o fundamento mais sólido e perene, no qual nos colocamos constantemente diante de nossas raízes comuns, à história e ao rico patrimônio espiritual que partilhamos. É perscrutando o seu próprio mistério que a Igreja, Povo de Deus da Nova Aliança, descobre a sua profunda ligação com os judeus, escolhidos pelo Senhor primeiramente entre todos para acolher sua palavra (cfr. Catecismo da Igreja Católica, 839). “Diferentemente das outras religiões não cristãs, a fé hebraica é já resposta à revelação de Deus na Antiga Aliança. Ao povo judeu pertencem “a adoção como filhos, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas, os patriarcas; deles provém Cristo segundo a carne’ (Rm 9,4-5) porque ‘os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis’ (Rm 11,29)” (Ibid.).

5. Numerosas podem ser as implicações que derivam da comum herança que vem da Lei e dos Profetas. Gostaria de recordar algumas: primeiramente, a solidariedade que liga a Igreja e o povo judeu “pela própria identidade” espiritual e que oferece aos cristãos a oportunidade de promover “um renovado respeito pela interpretação hebraica do Antigo Testamento” (cfr Pontifica Comissão Bíblica, O povo judeu e suas Sagradas Escrituras na Bíblia cristã, 2001, pp. 12 e 55); a centralidade do Decálogo como mensagem ética comum de valor perene para Israel, a Igreja, os que não crêem e a humanidade inteira; o compromisso por preparar e realizar o Reino do Altíssimo no “cuidado da criação” confiado por Deus ao homem para que a cultive e mantenha responsavelmente (cfr Gen 2,15).

6. Em particular o Decálogo – as “Dez Palavras” ou Dez Mandamentos (cf. Ex 20, 1-17; Dt 5, 1-21) – que provém da Torah de Moisés, constitui a chama da ética, da esperança e do diálogo, estrela polar da fé e da moral do povo de Deus, e ilumina e guia também o caminho dos cristãos. Ele constitui um farol e uma norma de vida na justiça e no amor, um “grande código” ético para toda a humanidade. As “Dez Palavras” jogam luz sobre o bem e sobre o mal, sobre o verdadeiro e o falso, sobre o justo e o injusto, também segundo os critérios da consciência reta de cada pessoa humana. Jesus muitas vezes o repetiu várias vezes, sublinhando que é necessário um compromisso operoso sobre o caminho dos Mandamentos: “Se queres entrar na vida, observa os Mandamentos” (MT 19, 17). Nesta perspectiva, são vários os campos de colaboração e de testemunho. Gostaria de recordar três particularmente importantes para o nosso tempo.

As “Dez Palavras” pedem para recordar o único Senhor, contra a tentação de se construir outros ídolos, de se fazer bois de ouro. Em nosso mundo muitos não conhecem Deus ou o consideram supérfluo, sem importância para a vida; foram fabricados assim outros e novos deuses diante dos quais os homens se inclinam. Despertar em nossa sociedade a abertura da dimensão transcendente, testemunhar o único Deus é um sérvio precioso que Judeus e Cristãos podem oferecer juntos.

As “Dez Palavras” pedem respeito, a proteção da vida contra injustiça e exploração, reconhecendo o valor de toda pessoa humana, criada segundo a imagem e semelhança de Deus. Quantas vezes, em toda parte da terra, próxima ou distante, são ainda violados a dignidade, a liberdade, os direitos do ser humano! Testemunhar juntos o valor supremo da vida contra todo egoísmo, é oferecer uma importante contribuição ao mundo no qual reine a justiça e a paz, o “shalom” desejado pelos legisladores, pelos profetas e pelos sábios de Israel.

“As “Dez Palavras” pedem para conservar e promover a santidade da família, onde o “sim” pessoal e recíproco, fiel e definitivo do homem e da mulher, abre o espaço para o futuro, para a autêntica humanidade de cada um, e se abre, ao mesmo tempo, ao dom de uma nova vida. Testemunhar que a família continua sendo a célula essencial da sociedade e o contexto de base onde se aprende e se exercita as virtudes humanas é um precioso serviço a ser oferecido para a construção de uma mundo que tenha um rosto mais humano.

7. Como ensina Moisés na Shemá – (cf. Dt 6,5; Lv 19, 34) e Jesus confirma no Evangelho (cf. Mc 12, 19-31) todos os mandamentos se resumem no amor de Deus e na misericórdia para com o próximo. Tais regras empenham os judeus e os cristãos a
se exercitarem, em nosso tempo, numa generosidade especial para com próximo, com as mulheres, com as crianças, com os estrangeiros, com os doentes, com os fracos, com os necessitados. Na tradução hebraica existe um admirável ditado dos Padres de Israel: “Simão o Justo costumava dizer: O mundo se fundamenta sobre três coisas: a Torah, o culto e os atos de misericórdia” (aboth 1,2). Com o exercício da justiça e da misericórdia, Judeus e Cristãos são chamados a anunciar e a testemunhar o Reino do Altíssimo que vem, e pelo qual rezamos e trabalhamos cada dia com esperança.

8. Neste sentido podemos dar passos juntos, conscientes das diferenças que existem entre nós, mas também do fato que conseguiremos unir nossos corações e nossas mãos para responder à chamada do Senhor, sua luz se fará mais próxima para iluminar todos os povos da terra. Os passos realizados nestes quarenta anos da Comissão Internacional católico-judaica e, nos anos mais recentes, pela Comissão Mista da Santa Sé e do Grande Rabinato de Israel, são um sinal da vontade comum de continuar um diálogo aberto e sincero. Amanhã a Comissão Mista terá aqui em Roma o seu 9º encontro sobre “O ensinamento católico e judeu sobre a criação e o ambiente”; desejamos a seus componentes um profícuo diálogo sobre um tema tão importante e atual.

9. Cristãos e Judeus possuem uma grande parte comum de patrimônio espiritual, rezam ao mesmo Senhor, possuem as mesmas raízes, mas continuam desconhecidos reciprocamente um ao outro.Toca a nós, como resposta ao chamado de Deus, trabalhar para que permaneça sempre aberto o espaço para o diálogo, o respeito recíproco, o crescimento na amizade, o testemunho comum diante dos desafios de nosso tempo, que nos convidam a colaborar para o bem da Humanidade e deste mundo criado por Deus, o Onipotente e o Misericordioso.

10. Finalmente um pensamento especial para esta nossa cidade de Roma, onde há dois mil anos, convivem, como disse o Papa João Paulo II, a Comunidade Católica com seu bispo e a Comunidade Judaica com seu Rabino Chefe; este conviver possa ser animado por um crescente amor fraterno, que se exprima também em uma cooperação sempre mais estreita oferecendo uma contribuição válida na solução dos problemas e das dificuldades a enfrentar.

Invoco ao Senhor o dom precioso da paz em todo o mundo, sobretudo na Terra Santa. Em minha peregrinação em maio passado, em Jerusalém, junto ao Muro do Templo, pedi a Aquele que tudo pode: “envia tua paz à Terra Santa, no Oriente Médio, a toda a família humana; mova os corações daqueles que invocam o teu nome, para que percorram humildemente o caminho da justiça e da compaixão”.
Novamente elevo a Ele o agradecimento e louvor por este nosso encontro, pedindo que Ele reforce nossa fraternidade e a torne mais sólida nossa relação.

“Nações todas, louvai ao Senhor,
povos todos, glorificai-o!
Pois seu amor por nós é forte,
e a fidelidade do Senhor dura para sempre,
Aleluia”

 

Recesso

O blog e o twitter estarão em recesso durante quinze dias, enquanto tiro umas férias, afinal também sou filho de Deus. Durante este período só haverá atualização de notícias mais importantes. E quando retornar retomarei os trabalhos e aproveitarei para atualizar algumas coisas.
Contando com vossa compreensão, desejo-vos igualmente boas férias.
Que a paz de Jesus e o amor de Maria permaneçam convosco. E que possais dar testemunho de vida cristã (mesmo duarante as férias!).
Fiquem com Deus!
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A Maravilha de Deus – São Pedro Julião Eymard

 Fonte: São Pio V
Se a Eucaristia é a obra de um amor imenso, esse amor teve a seu serviço um poder infinito: a onipotência de Deus.

Santo Tomás chama a Eucaristia, a maravilha das maravilhas – maximum miraculorum.

Para convencer-se, basta meditar o que a fé da Igreja nos ensina sobre Este mistério.

A primeira das maravilhas que se operam na Eucaristia, é a transubstanciação: Jesus primeiro, depois os sacerdotes, por sua ordem e instituição, tomam pão e vinho, pronunciam sobre essa matéria as palavras da consagração, e imediatamente desaparece toda a substância do pão, toda a substância do vinho, acha-se mudada no Corpo Sagrado e no Sangue adorável de Jesus Cristo!

Sob a espécie do pão como sob a do vinho, acha-Se verdadeira, real e substancialmente o Corpo glorioso do Salvador.

Do pão, do vinho, restam somente as aparências: cor, sabor, peso; para os sentidos, é pão, é vinho. A fé nos diz que é o Corpo e o Sangue de Jesus velados sob os acidentes que só por um milagre subsistem. Milagre que só o Onipotente pode operar, pois é contra as leis ordinárias existirem as qualidades dos corpos sem os corpos que as sustentam. Eis a obra de Deus; Sua vintade é a razão de ser dessa obra, como a razão de nossa existência. Deus pode tudo quanto quer: isto não Lhe exige mais esforço que aquilo.
Eis a primeira maravilha da Eucaristia.

Outra maravilha, que se contém na primeira, é que esse milagre se renova à simples palavra de um homem, do Sacerdote, e tantas vezes quantas ele o queira. Tal é o poder que Deus lhe comunicou; quer que Deus esteja sobre este altar, e Deus está! O Sacerdote faz absolutamente a mesma maravilha que Jesus Cristo operou na Ceia Eucarística, e é de Jesus Cristo que recebe o poder, e em Seu Nome que age.

Nosso Senhor jamais resistiu à palavra de Seu Sacerdote.

Milagre do poder de Deus: a criatura fraca, mortal, encarna Jesus sacramentado!

Jesus tomou cinco pães no deserto: abençoou-os e os Apóstolos tiveram com que alimentar cinco mil homens: pálida imagem dessa outra maravilha da Eucaristia, o milagre da multiplicação.

Jesus ama todos os homens; quer dar-Se todo inteiro e pessoalmente a cada um; cada um terá a sua parte no maná da vida: é, pois, necessário que Se multiplique tantas vezes quantos são os comungantes que querem recebê-l’O, e cada vez que o quiserem; é necessário, de certo modo, que a Mesa Eucarística recubra o mundo. É o que se realiza por Seu poder: todos O recebem todo inteiro, com tudo o Que Ele é, cada hóstia consagrada O contém. Dividi Essa santa hóstia em tantas partes quanto quiserdes, Jesus acha-se todo inteiro em cada uma das partes; em vez de dividi-l’O, a fração da hóstia O multiplica.

Quem poderá dizer o número de hóstias que Jesus, desde o Cenáculo, colocou à disposição de Seus filhos!
Mas Jesus não somente Se multiplica com as santas parcelas; por uma maravilha conexa, acha-se ao mesmo tempo em um número infinito de lugares.

Nos dias de Sua vida mortal, Jesus estava em um só lugar, habitava uma só casa: poucos ouvintes privilegiados podiam gozar de Sua presença e de Sua palavra.

Hoje, no Santíssimo Sacramento, acha-Se por toda parte, por assim dizer. Sua humanidade participa, de certo modo, da imensidade divina que tudo enche. Jesus acha-Se todo inteiro em um número infinito de templos e em cada um. É que, sendo todos os cristãos, espalhados pela superfície da terra, os membros do corpo místico de Jesus Cristo, é bem necessário que Ele, Sua alma, esteja por toda parte, espalhado em todo o corpo, dando a vida e conservando-a em cada um de Seus membros.

“Os soberanos desta terra nem sempre, nem com facilidade concedem audiência; mas o Rei do Céu, ao contrário, escondido debaixo dos véus Eucarísticos, está pronto a receber a qualquer um...” (Santo Afonso Maria de Ligório)

Tertuliano sobre o ódio contra a Igreja Católica

“A verdade não pede favor, porque a perseguição não a intimida. Nossa religião sabe que seu destino é ser estrangeira sobre esta terra e que sempre terá adversários. É no céu que ela tem sua sede, suas esperanças e sua glória. A única coisa que aspira é não ser condenada sem ter sido ouvida.”
(Tertuliano, II d.C, Apologeticum)

Declaração da CNBB sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH – 3)

[Achei por bem publicar esta nota da CNBB sobre a “Declaração dos Direitos Humanos”, que foi recentemente aprovada. Sabemos, porém, que de direitos humanos não tem nada].

A promoção e a defesa dos Direitos Humanos tem sido um dos eixos fundamentais da atuação e missão evangelizadora da CNBB em nosso país. Comprovam-no as iniciativas em prol da democracia; as Campanhas da Fraternidade; a busca pela concretização da Lei 9840 – contra a corrupção eleitoral; a recente Campanha “Ficha Limpa”; a defesa dos povos indígenas e afro-descendentes; o empenho pela Reforma Agrária, a justa distribuição da terra, a ecologia e a preservação do meio ambiente; o apoio na elaboração dos Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e da Igualdade Racial, entre outros.
Neste contexto, a CNBB se apresenta, mais uma vez, desejosa de participar do diálogo nacional que agora se instaura, sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), tornado público aos 21 de dezembro de 2009.
A Igreja Católica considera o movimento rumo à identificação e à proclamação dos direitos humanos como um dos mais relevantes esforços para responder de modo eficaz às exigências imprescindíveis da dignidade humana (cf. Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis Humanae, 1). O Papa João Paulo II, em seu Discurso à Assembléia Geral das Nações Unidas, em 21 de outubro de 1979, definiu a Declaração Universal dos Diretos Humanos como “uma pedra miliária no caminho do progresso moral da humanidade”.
O Brasil foi uma das 171 nações signatárias da Declaração de Viena, fruto da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, em 1993, sob o signo da indissociabilidade entre Democracia, Desenvolvimento Econômico e Direitos Humanos.
No entanto, em sua defesa dos Direitos Humanos, a Igreja se baseia na concepção de Pessoa Humana que lhe advém da fé e da razão natural. Diante de tantos reducionismos que consideram apenas alguns aspectos ou dimensões do ser humano, é missão da Igreja anunciar uma antropologia integral, uma visão de pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus e chamada, em Cristo, a uma comunhão de vida eterna com o seu Criador. A pessoa humana é, assim, sagrada, desde o momento de sua concepção até o seu fim natural. A raiz dos direitos humanos há de ser buscada na dignidade que pertence a cada ser humano (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium  et Spes, 27). “A fonte última dos direitos humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio ser humano e em Deus seu Criador” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, 153). Tais direitos são “universais, invioláveis e inalienáveis” (JOÃO XXIII, Encíclica Pacem in Terris, 9).
Diante destas convicções, a CNBB tem, ao longo de sua história, se manifestado sobre vários temas contidos no atual Programa Nacional de Direitos Humanos. Nele há elementos de consenso que podem e devem ser implementados imediatamente. Entretanto, ele contém elementos de dissenso que requerem tempo para o exercício do diálogo, sem o qual não se construirá a sonhada democracia participativa, onde os direitos sejam respeitados e os deveres observados.
A CNBB reafirma sua posição, muitas vezes manifestada, em defesa da vida e da família, e contrária à descriminalização do aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção de crianças por casais homoafetivos. Rejeita, também, a criação de “mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas.
Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, imploramos as luzes de Deus, para que, juntos, possamos construir uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Brasília, 15 de janeiro de 2010

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB

Zilda Arns: “Sou absolutamente contra o aborto”

Fonte: IHU Online
Entrevista com Zilda Arns
IHU Online
Para Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista, “tentar solucionar os milhares de abortos clandestinos realizados a cada ano no País com a legalização do aborto é uma ação paliativa, que apontaria o fracasso da sociedade nas áreas da saúde, da educação e da cidadania e, em especial, daqueles que são responsáveis pela legislação no país”. Ela vê o embrião como um ser humano completo em fase de crescimento “tanto quanto um bebê, uma criança ou um adolescente”. Irmã do cardeal D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, Zilda é também fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Viúva desde 1978, mãe de cinco filhos e avó de nove netos, vem recebendo diversas menções especiais e títulos de cidadã honorária no país. Da mesma forma, a Pastoral da Criança já recebeu diversos prêmios pelo trabalho que vem sendo desenvolvido desde a sua fundação. Formada em Medicina, aprofundou-se em Saúde Pública visando a salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário. Compreendendo que a educação revelou-se a melhor forma de combater a maior parte das doenças de fácil prevenção e a marginalidade das crianças, para otimizar a sua ação, desenvolveu uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres.
Confira a entrevista de Zilda Arns concedida por e-mail para a IHU On-Line.

Entrevista com Zilda Arns: “Sou absolutamente contra o aborto”

IHU On-Line – Em que a senhora fundamenta sua posição radicalmente contrária ao aborto?
Zilda Arns – Sou absolutamente contra o aborto. Em primeiro lugar, sou a favor da vida, e fundamento meu ponto de vista não somente na fé cristã, mas também na ciência e em aspectos éticos e jurídicos. Já está comprovado cientificamente que o feto é um ser humano completo, desde a sua concepção e, por isso, tem direito à vida, como defende o artigo quinto da Constituição Brasileira e o artigo segundo do Código Civil. Cabe ao Estado o dever de tutelar e proteger a vida do embrião ou do feto de qualquer ameaça, sob pena de violação dos direitos humanos.
Sou médica pediatra e sanitarista, com mais de 47 anos de experiência em saúde pública. Além disso, estou nos últimos 24 anos à frente da Pastoral da Criança (instituição que acompanha 1,9 milhão de crianças com menos de seis anos, em 42 mil comunidades pobres do país). Por isso, tenho a convicção de que medidas educativas e preventivas são as únicas soluções para o problema das gestações não desejadas. Tentar solucionar problemas, como a gravidez indesejada na adolescência, ou atos violentos, como estupros e os milhares de abortos clandestinos realizados a cada ano no País, com a legalização do aborto, é uma ação paliativa, que apontaria o fracasso da sociedade nas áreas da saúde, da educação e da cidadania e, em especial, daqueles que são responsáveis pela legislação no país. Não se pode consertar um crime com outro ainda maior, tirando a vida de um ser humano indefeso. É preciso investir na educação de qualidade, nas famílias e nas escolas.
É preciso, antes de tudo, refletir. Será que nos países em que esse e outros abortos são permitidos, os jovens e as mulheres estão mais conscientes e têm menos problemas?  Esta e outras questões estão relacionadas na carta que enviei, no final de 1997, ao Congresso Nacional como apelo da Pastoral da Criança em defesa da Vida, e artigos publicados em revistas e jornais nos últimos anos. Antes de qualquer coisa, é preciso diminuir a desigualdade social e dar mais oportunidades, principalmente às mulheres mais pobres.
IHU On-Line – Como podemos formular a questão do estatuto do embrião, considerando sua implicação na questão do aborto?
Zilda Arns – O embrião é um SER HUMANO completo em fase de crescimento tanto quanto um bebê, uma criança ou um adolescente. Com a evolução das ciências da reprodução humana, mais especialmente nas últimas duas décadas, não há a menor dúvida de que a vida do SER HUMANO se inicia no momento da concepção. Não se trata de um amontoado de células. Quando se dá o encontro gamético, produz-se a primeira unidade da vida, que contém toda herança genética e todos os requisitos para caracterizar a vida. As novas tecnologias como o ultra-som, o monitoramento do coração do feto, a fetoscopia e a histeroscopia, para acompanhar o que se passa no interior do útero, comprovam ainda que o feto resiste e se defende dos agentes externos, que porventura querem lhe tirar a vida. Para quem se interessar, pode confirmar essas informações assistindo ao vídeo Grito Silencioso, que mostra as reações do feto em um processo de aborto induzido, realizado em um país onde a prática é permitida.
IHU On-Line – Como se caracteriza a abordagem ética do aborto?
Zilda Arns – Existe um princípio de injustiça nessa prática. Mais uma vez, ao invés de consertar o tecido social roto, querem jogar sobre a mulher o pesado fardo da injustiça social, oferecendo-lhe a oportunidade de abortar o filho que veio abrigar-se em seu ventre, filho esse que não planejou ou que foi concebido como conseqüência de um ato violento. Pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicadas em 1994, comprovam que crianças mal tratadas, oprimidas, violentadas em seu primeiro ano de vida têm forte tendência a se tornarem violentas e criminosas. Portanto, há de se cuidar do ser humano, desde a gestação, e dar prioridade a atender às crianças pequenas, menores de seis anos, e, mais especificamente, às crianças menores de um ano, somando as forças das famílias, da sociedade e dos governos, para que o tecido social seja forte e preservado. A ética e a moral não são exclusivas da religião. Devem servir de guia para toda a sociedade, incluindo a ciência e a técnica. Não faltam cientistas, juristas e legisladores que, no exercício de seus mandatos e profissões, têm como objetivo maior a defesa e a promoção da vida, a serviço do bem comum.
IHU On-Line – O aborto é um problema que precisa de uma solução, ou ele pode ser uma solução?
Zilda Arns – Felizmente, muitas pessoas comprometidas com o bem-estar das mulheres optam por vestir a camisa da erradicação da pobreza, da miséria e da ignorância que as oprime, principalmente nos países mais pobres. Para gerar desenvolvimento e, por conseqüência, boas condições de saúde e de vida, é preciso investir em educação de qualidade e criar políticas públicas de assistência materno-infantil, de orientação aos adolescentes, às mulheres e às famílias, a fim de que elas tenham melhores oportunidades de estudo e de desenvolverem-se no futuro. A prática de abortos seria um retrocesso da saúde pública, que, ao invés de investir na qualidade de vida da população, passaria a reproduzir uma cultura de incentivo à morte, à violência.
IHU On-Line – Uma lei a favor pode ser a única resposta ao problema do aborto?
Zilda Arns – Sob o ponto de vista de políticas de saúde, seria muito mais humano e econômico à nação investir em qualidade de vida e melhor assistência à saúde do que investir contra o ser humano indefeso. Não se pode eliminar a pobreza por meio da eliminação dos pobres, assim como não se pode eliminar a violência de uma gravidez indesejada mediante outra forma de violência, como é o aborto. Tenho certeza de que nossos deputados e senadores não se deixarão seduzir pela cultura da morte e da corrupção e lutarão pelo respeito à vida e por melhor qualidade de vida para todos. Afinal, o Código Civil, no artigo segundo, afirma: “A personalidade civil do homem começa no nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”.
IHU On-Line – Como lidar com a mentalidade abortista, tão presente na sociedade, que banaliza a questão do aborto?
Zilda Arns – Feministas famosas, realmente comprometidas com o bem-estar das mulheres, com o evento das novas tecnologias e conhecedoras profundas do sofrimento humano, deixaram a bandeira do aborto e optaram pela bandeira da erradicação da pobreza, da miséria, da ignorância que oprime as mulheres, principalmente nos países em desenvolvimento. Lembro-me de médicos, tais como o Dr. Bernard N. Nathanson, M.D. co-fundador da Liga Nacional pelos Direitos ao Aborto nos Estados Unidos, e diretor da maior clínica abortista do mundo, responsável por mais de 75 mil casos desse tipo, converteu-se em defensor da vida, devido a um conhecimento mais profundo do ser humano, pelos avanços da ciência e dos aparelhos de tecnologia avançada. Dr. Nathanson convenceu-se da existência da vida humana desde o momento da concepção. Ele advertiu ainda sobre as estatísticas falsas de morte de mulheres em conseqüência de abortos clandestinos. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) confirma não existir nenhuma pesquisa sobre esse assunto no Brasil, apesar de muitas vezes serem divulgados falsos dados remetendo ao nome da organização.
IHU On-Line – Podemos conciliar a autonomia e a liberdade da mulher com a vida e a defesa do embrião?
Zilda Arns – Trata-se de um princípio de convivência de dois seres humanos. O “outro” é o limite de nossa liberdade. Se a mulher tem direitos e deveres, eles não podem interferir ou impedir o direito à vida de outro ser humano, ou seja, o fato de ela ser gestante de um embrião não lhe possibilita qualquer ação que possa prejudicar a vida dele.
IHU On-Line – O que a senh
ora pensa sobre o plebiscito da descriminalização do aborto?
Zilda Arns – Hoje estou convencida de que o aborto não é matéria para entrar num plebiscito, porque não se pode votar pela vida ou morte de um ser humano inocente e sem defesas.
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ZILDA ARNS, GRANDE MÃE BRASILEIRA

Cidade do Vaticano, 14 jan (RV) – O Livro dos Provérbios em seu capítulo 31 nos traz o elogio da Mulher Talentosa, da mulher que coloca suas aspirações à serviço do bem a todos de sua casa, sejam familiares ou empregados.

O povo brasileiro chora ZILDA ARNS, a mulher talentosa que se destacou nas últimas décadas servindo seus irmãos, certamente os mais desprovidos. Dra. Zilda, uma das Mães do Brasil, morreu, como não poderia deixar de ser, em ação. Para a mulher que vive em plenitude sua vocação, jamais existe tempo de descanso, tempo para si, mas tudo o que possui é colocado em favor de seus amados. Zilda Arns amou até o fim as pequenas vidas e as mulheres pobres que as geraram. Sua formação cristã e sua medicina foram colocadas à serviço da infância carente e da mãe pobre. Sua política era salvar vidas, jamais negar o juramento de Hipócrates e absolutamente trair a profissão de fé em Jesus Cristo, a Vida.

O Menino Jesus a encontrou em Porto Principe onde havia chegado para fazer palestras em favor da vida. Interessante Dra. Zilda morrer logo após as festas de Natal, do nascimento do Deus pequenino, de uma mãe pobre, carente.
Isso dá a essa nossa irmã uma grandiosidade de quem morre em serviço. Sim, Zilda Arns morreu em serviço, a favor da Vida, na plenitude de seus 75 anos, sempre simpática, alegre, bonita!

De modo algum a Dra Zilda transmitiu, ao se entregar ao serviço dos pobres, imagem de pessoa amarga, triste, revoltada, apesar de ver absurdos e de ser solidária a tanta miséria. Sua beleza e alegria eram contagiantes e suscitava um exército de seguidoras e seguidores.

Atualmente, após entregar a coordenação nacional da Pastoral da Criança à Irmã Vera Lúcia Altoé, Dra. Zilda Arns assumiu a Pastoral do Idoso, sempre voltada para aqueles que não têm voz, que são limitados pela idade. Mas o trabalho com a infância e com a mãe carente não foi deixado, já que estava à frente da Pastoral Internacional da Criança.

O Livros do Provérbios diz: “Quem encontrará a mulher talentosa? Vale muito mais que pérolas.” “Vigia o andamento de sua casa e não come o pão da ociosidade.”

Muitas mulheres ajuntaram riquezas, tu, porém, ultrapassas a todas.” “Enganosa é a graça, fugaz a formosura! A mulher que teme o Senhor merece louvor. Dai-lhe o fruto de suas mãos e que suas obras a louvem nas portas da cidade.” Dra. Zilda, essa mulher talentosa, virtuosa de que fala a Bíblia, é você! Hoje o povo brasileiro, cheio de dor, sente-se orgulhoso pela senhora e agradece a Deus por sua vida. Sua missão de mulher cristã, tão bem cumprida, nos faz transformar sua imagem em ícone da brasileira que soube viver cristamente a missão de esposa e de mãe, e do mesmo modo a missão de cidadã. Temos certeza que você, Zilda Arns, ouviu as palavras de Jesus: “Venha bendita de meu Pai, receba por herança o reino preparado para você desde a fundação do mundo. Cada vez que você fez o bem a cada um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim você o fez”