Paz: Dom de Deus; necessidade da humanidade

A verdadeira paz é aquela que brota do coração de Deus e que se eleva como um grande brado em todo o mundo. Paz é o que hoje pedimos à Síria e para os seus habitantes atormentados pelo ódio irracional que nasce no coração do homem. Seja esta verdadeira paz.

Não façamos nosso ideal o ideal do mundo, mas que o mundo esteja no ideal de Deus. Paz é hoje o ideal de Deus para quantos são perseguidos sobretudo por causa da fé que professam. Que a paz não seja somente vontade do homem o sabemos, mas é antes de tudo vontade de Deus.

“Conhece-te a ti mesmo”, diz o antigo e sábio adágio retratado na filosofia, conclamando os homens a um renovado olhar para si, para o seu interior e, consequentemente, para a sociedade na qual estamos inseridos. Este olhar renovado penetra todas as formas de auto-conhecimento que possam haver e do conhecimento aparente do próximo, uma vez que a ninguém é dada a prerrogativa de conhecer o interior de outrem, mas somente ao Espírito, do qual nos diz São Paulo que “penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus” (1Cor 2,10). É por meio Dele, sabedoria revelada, que nos vem a inspiração dada, como fora dada a Cristo e aos apóstolos.

Mas este conhecimento, se é obra autêntica do Espírito, não leva o homem a fechar-se em seu mundo e ser apático às realidades que o cercam e corriqueiramente clamam por sua maior atenção. Assim, não poucas vezes, permanece desatendido o brado proveniente dos nossos irmãos sofredores mesmo daqueles discriminados e mortos por sua fé. Nosso pensamento se dirige a esses  pelos quais agora temos particular atenção, os irmãos da Síria, que como os mártires de outrora vertem seu sangue pelo Cristo e se tornam evangelhos vivos e mártires do nosso século tão marcado pela dor e pelo sofrimento. Onde é derramado o sangue dos mártires é também derramado o Sangue de Cristo.

A calamidade cerca-se destes e a dor ronda suas casas. Nós, porém, não deixamos de estender-lhes nossa proximidade e votos de paz no Senhor, fazendo-nos sofredores e colaboradores deles. É repreensível que vendo tamanho sofrimento nos negligenciemos da nossa missão de cristãos, fazendo-nos escusos do dever concreto de testemunharmos o Evangelho frente este vasto campo de missão.

Alertamos de forma igual aos políticos para que atentem àqueles que sofrem e parem com esta violência desnecessária. Fazemos ecoar novamente o brado do Venerável Servo de Deus Papa Pio XII: “É com a força da razão, não com a das armas, que a Justiça progride. E os impérios que não são fundados sobre a Justiça não são abençoados por Deus. A política emancipada da moral atraiçoa aqueles mesmos que a desejam” (Radiomensagem Un’ora grave). Atraiçoados são também os povos que hoje, como naquele período terrível, são submetidos a este trágico e desumano ato que em nada edifica, mas tudo faz perder.

Rezemos juntos pela Paz. Só no coração dos homens sensatos ela pode nascer. E não nascerá de outra forma senão pela ordem, na qual quis o Altíssimo assim dispor e da qual nos recordara o Beato João XXIII: “A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus” (Cart. Enc. Pacem in Terris, 1).

Com Maria, Rainha da Paz, queremos fazer nosso o ideal daquele que é a Verdadeira Paz e que se oferece ao mundo como segurança verdadeira e Ordem plena de todas as coisas: Cristo Jesus.