A pureza (e não só ela) é filha da caridade – II

Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor. Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a santos.

Carta de São Paulo aos Efésios 5,2-3

Ah, caridade! Virtude teologal, irmã da fé e da esperança. Ah, caridade, tão cantada como “amor”, mas de execução tão difícil! Mais uma vez São Paulo coloca a caridade a frente, precedendo as outras virtudes e combatendo os vícios.

Ah, Senhor, dai-me caridade que todas as outras virtudes virão juntas. Senhor, dando-me a caridade degolarás a luxúria quando compreender a ordenação dos afetos. Degolarás a cobiça quando puser os bens á disposição do próximo. Degolarás o orgulho quando ver tua face no meu irmão. Degolarás a preguiça quando me puser em marcha para fazer o bem. Degolarás a gula quando dividir meu pão com quem precisa. Degolarás a inveja quando reconhecer teus dosn no próximo. Degolarás a Ira quando agir com a tua mansidão para com os homens.

Não combata eu fraco de peito aberto aos vícios. Reforce a minha virtude da caridade, Senhor. A caridade combaterá os vícios por mim.

A mensagem de Jesus Cristo é para todos

Encerrada mais uma Visita Apostólica do Santo Padre o Papa Bento XVI (sua 11º a um país europeu e sua 17º Internacional), resta-nos agradecer profundamente a Deus por um tão magnífico presente dado a nós e a toda a Igreja espalhada pelo vasto campo de missão, o mundo, onde, em nossos dias, não menos urgente é a tarefa evangelizadora à qual todos os cristãos são chamados. Não obstante os constantes desafios, a Igreja convida-nos a fazermos cumprir o desejo do Senhor, que, ainda que perpassados dois mil anos, torna-se cada vez mais veemente e necessário, sobretudo em uma sociedade tomada por ideologias consumistas, capitalistas e ateístas, que tendem a fazer desaparecer os verdadeiros valores do Evangelho.

O Papa leva a todos esta mensagem de renovado ardor missionário. Onde já não mais há esperança ele anuncia que ainda existe uma Esperança intrépida, que os homens podem confiar sempre, mesmo diante das adversidades; mesmo diante das tempestades, que por muitas vezes parecem incensáveis. Criticado foi o Papa, e criticada é a Igreja, mas nunca desanimarão por investidas satânicas que contra eles se ergam.

O Papa leva o Evangelho de Cristo, e este Evangelho muitas vezes comporta mensagens duras, para alguns inaceitáveis. Mas é preciso que o mundo saiba que a santificação só virá quando, obediente aos ensinamentos de Cristo, cumprirmos os “duros” preceitos que Ele apresentar-nos-á no decorrer da história salvífica da humanidade.

Quem espera ouvir do Papa e da Igreja palavras fáceis para o seguimento a Cristo, não crie esta esperança. Digo isto porque dura é a mensagem do Evangelho, e por vezes ela não agrada a muitos.

A Igreja não quer, e nem pode, ceder em assuntos que, muitas vezes, a humanidade vê como algo a ser “diplomaticamente discutido”. A vida humana, por exemplo, não é questão de diplomacia, mas de direito, ao qual todo o homem é chamado, e jamais, ninguém, poderá dizer o contrário.

No início da viagem a imprensa dizia que poucos iriam comparecer às celebrações do Papa, pois ele, com suas idéias, não agradava a muitos ingleses. Ora, vemos que tudo o que a imprensa “premeditou” com suas cargas d’água foi abaixo. O povo esperava ansiosamente a chegada do Papa. Milhares de pessoas foram às ruas para vê-lo e escutá-lo. Ainda que pareçam duras as palavras do Papa são também as de Cristo. Ele trás uma mensagem de esperança, para todos os homens, independente de qual seja a raça, nacionalidade ou credo. Todos aqueles estavam em busca de uma resposta, e garanto que todos a encontraram. Esta mensagem tornar-se-á presente em Jesus, filho de Deus feito homem, que, por esta ação, demonstra seu incomensurável amor pela humanidade, ainda que sejamos indignos. E isto agrada os fiéis.

Ao contrário da imprensa, que divulga ideologias que buscam desvalorizar e destruir a família, a Igreja é a única que levanta-se e põe-se em favor da vida, dos verdadeiros direitos humanos, de uma valorização da família que se torna indispensável na sociedade hodierna.

Nesta viagem realizou-se a beatificação do Cardeal John Henry Newmann, que por meio dos estudos introduz-nos, com seus ensinamentos, em um intrínseco relacionamento com Deus. E com suas palavras gostaria de encerrar este breve artigo:

Praise to the Holiest in the height and in the depth be praise; In all his words most wonderful, most sure in all his ways!Seja louvado o Santíssimo no céu, seja louvado no abismo; em todas as suas palavras, o mais maravilhoso, o mais seguro em todos os seus caminhos” (O sonho de Gerontius).

Rezemos sempre mais pela missão do nosso Guia visível e sinal de unidade. Peçamos que o Senhor e a Santíssima Vigem fortaleçam-no sempre mais. E que possam vir tantas outras viagens, demonstrando que a Palavra de Deus é para todos e que o Santo Padre não teme anunciá-la.

Viva o Santo Padre!

Ut in omnibus glorificetur Deus!

A pureza é filha da caridade

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

I Carta de São Paulo aos Coríntios 13, 1

Um sacerdote da Companhia, já bem entrado em anos, alertou-me que todos os problemas na manutenção da castidade provém de um mau trabalho na virtude da caridade, e conseqüêntemente, na ordenação da afetividade. Fiquei matutando e finalmente consegui compreender todo o sentido desta passagem de São Paulo, excessivamente vulgarizada e descontextualizada por uma música popular.

De fato, o que são as demais virtudes cristãs senão “filhas” das três principais, fé, esperança e caridade? Os vícios não são análogos? Não é a luxúria manifesta a filha do orgulho oculto? Portanto não é a pureza a fumaça da caridade ardente, que corretamente ordena a afetividade humana? Amar a Deus sobre todas as coisas, ao próximo como a ti mesmo, assim Nosso Senhor resumiu os mandamentos. E neste resumo está contido o não pecarás contra a castidade.

Parece ser uma lição simples, mas a vida espiritual é sempre o re-aprendizado de coisas simples.

Nossa Senhora da Piedade

Estava a mãe dolorosa
chorando junto à cruz
da qual seu filho pendia

sua alma soluçante
inconsolável e angustiada
era atravessada por um punhal

15 de setembro, dia de Nossa Senhora das Dores, ou ainda Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Minas Gerais. Citei dois, mas inúmeros títulos tem a Mater Dolorosa. Trata-se de Maria Santíssima, mãe de Jesus, especialmente contemplada durante a Paixão de Cristo, quando cumpre-se a profecia de Simeão: Uma espada de dor transpassará sua alma (Lc 2, 35).

Ó, quão triste e aflita
estava a bendita mãe
do Filho Unigênito!

Transpassada de dor,
chorava, vendo
o tormento do seu Filho

Todas as devoções marianas são fundamentais para o avanço na vida cristã, mas a Mater Dolorosa une-se de maneira indissolúvel à Via Sacra, reunindo-se ao mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Aos pés da cruz estava a mãe. Onde os apóstolos fugiram, salvo o mais jovem deles, ficou a viúva vendo morrer seu único filho. A visão do crucificado devia ser miserável, a visão de sua mãe aos pés da cruz deve fazer até as pedras se compungirem.

Estava a virgem esmagada de dor. Aquela que três décadas atrás dissera que sua alma engrandecia e se alegrava no Deus seu salvador enfrentava o mistério máximo da dor. Pela madeira da árvore do conhecimento o velho Adão pecara, pela madeira da cruz o novo Adão expiava as faltas. A nova Eva também estava aos seus pés perfurados, ela que tinha sido preservada da mancha do pecado da velha Eva por antecipação daquele momento.

Quem poderia não se entristecer
Ao contemplar a Mãe de Cristo
sofrendo tanto suplício

Quem poderia conter as lágrimas
vendo a mãe de Cristo
dolorida junto ao seu Filho?

Aos pés da cruz, Maria Santíssima recebe toda a humanidade como seus filhos. Humanidade representada em São João Evangelista retratado impessoalmente para melhor nos representar Mulher, eis ai teu filho. Filho, eis ai tua mãe. A mãe de Deus torna-se nossa mãe.

Como a velha Eva segurara o fruto colhido da madeira da árvore proibida, também a Nova Eva seguraria o corpo morto de Cristo colhido de igual madeira. A nova Eva trazia nos braços o fruto da fruta proibida, o verdadeiro Deus e verdadeiro homem morto pelos pecados dos primeiros pais e de todos seus descendentes.

Ah, minha mãe! O que poderia eu fazer para tirar as lágrimas de teus olhos? Estou ao teu lado contemplando Nosso Senhor morto pelos meus pecados. Ah, Senhor, tende piedade de mim que nunca compreendi a gravidade de meus pecados!

Pelos pecados do seu povo
Ela viu Jesus no tormento,
Flagelado por seus súditos

Viu seu doce Filho
morrendo desolado
ao entregar seu espírito.

Não só na cruz, mas em toda Via Sacra Maria Santíssima seguiu Jesus. Aquela senhora idosa, viúva sem filhos, caminhava entre a multidão, entre vielas e atalhos para sempre ficar ao lado do filho. Cada chicotada em Cristo era uma chicotada na mãe, quem batia no filho abatia a mãe.

O maior testemunho da santa pureza está no calvário. Aos pés da cruz estavam a virgem Maria e o solteiro João Evangelista. Os puros ficaram. Profunda constatação, que a força vem da preservação de si pela entrega a Deus. Também a viúva Judite soube conservar sua pureza e usar a luxúria de Holofernes para castigá-lo. Grande lição, os puros conservam-se de pé até no Calvário, os que se entregam à luxúria perdem a cabeça e de vitoriosos viram derrotados. Mas são derrotados por aquele que assumiu em si a derrota daqueles a quem queria salvar, era a carne pura de Cristo que recebia os flagelos que merecia a nossa carne amolecida pelo apego aos bens sensíveis.

Ó mãe, fonte de amor,
faz como que eu sinta toda a sua dor
para que eu chore contigo.

Faz com que meu coração arda
no amor a Cristo Senhor
para que possa consolar-me

Nosso Senhor disse que aqueles que desejavam o seguir deveriam tomar sua cruz. Seguir a Cristo é enfrentar a dor redentora, abraçar a cruz. Maria Santíssima é a Rainha dos Apóstolos, a maior das discípulas porque Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus (Lc 8,21). Como a maior ouvinte da palavra de Deus, Sua mãe guardava todas estas coisas no coração (Lc 2,51), Maria teve dores durante toda sua vida. Se a virgem imaculada sem pecados sofreu, porque não sofreremos nós com muita justiça para compensar nossos pecados e crimes?

Mãe Santa, marca profundamente
no meu coração
as chagas do teu Filho crucificado

Por mim, teu Filho coberto de chagas
quis sofrer seus tormentos,
quero compartilhá-los

Quais foram as dores que a Rainha dos Apóstolos, a mãe dos que crêem, passou? A profecia de Simeão (Lc 2,34-35), a fuga para o Egito (Mt 2,13-21), o desaparecimento do menino Jesus (Lc 2,41-51), o encontro com Cristo rumo ao calvário (Lc 23,27-31), a morte do filho na cruz (Jo 19,25-27), a retirada do corpo morto de Cristo (Mt 27,55-61), e finalmente o sepultamento de seu único filho (Lc 23,55-56). Ninguém escapa da cruz se deseja seguir Jesus. Morreu Cristo, sofreu Maria, foram martirizados todos os apóstolos. E nós, que vivemos numa época e lugar livres e favoráveis, não conseguimos nem suportar as pequenas contrariedades do dia-a-dia e dedicá-las a Deus.

Faz com que eu chore
e que suporte com Ele a sua cruz
enquanto dure a minha existência

Quero estar em pé.
ao teu lado, junto à cruz
chorando junto a ti.

Que filhos enterrem as mães, ainda que triste é natural. Mas a mãe enterrando o filho? E o filho único? É de destruir um coração de dor. Por que Cristo ressuscitou o filho da viúva de Naim? Porque foi tomado de compaixão. Teria Nosso Senhor em sua presciência visto naquela viúva sua mãe puríssima segurando seu corpo inanimado da cruz? Viu ele na viúva de Naim a viúva de Nazaré?

Quem não ama sua mãe? Quem não deseja a poupar de todo desgosto e toda contrariedade? Cristo não só carregou sobre si nossas culpas, mas nem a sua mãe poupou. Sim, mais tarde a faria Rainha de toda a criação e a elevaria a uma glória inaudita a todas as criaturas, que faz até Satanás se roer de inveja. Porém antes de entrar na glória de seu filho, a virgem santíssima teve de sofrer grandemente. O discípulo não é maior que o mestre, e o bom discúpulo é como o mestre. A mãe, que era a melhor das discípulas, teve também o mais rigoroso seguimento do calvário.

Virgem de virgens notável,
não sejas rigorosa comigo,
deixam-me chorar junto a ti

Faz com que eu compartilhe a morte de Cristo
que participe da Sua paixão
e que rememore suas chagas

A meditação na Paixão de Nosso Senhor é uma das melhores práticas de piedade de um cristão. No dia do julgamento, a compunção que tivemos pela dor de Nosso Senhor será levado em conta, especialmente porque sabemos que foram nossas faltas que o ouseram no madeiro. E nessa hora, virá a mãe em nossa defesa, lembrando que também com ela aos pés do calvário ficamos. Ó minha mãe sofrida! Eu que deveria te consolar, mas tu que me consolas!

Na face de Maria vemos a face maternal de Deus, na criatura reflete-se a assinatura do criador. Quantas vezes alquebrados e chorando os muitos calvários de nossas vidas temos que dar os ombros para a mãe que chora conosco e também chorarmos com ela. Foi entre lágrimas que São João e nós ganhamos uma mãe. Busquemos o manto de Nossa Senhora das Dores para chorarmos, ofereçamos nossos ombros de filho para que ela repouse seu coração dilacerado pela espada de dor.

Faz como que me firam suas feridas,
que sofra o padecimento da cruz
pelo amor do teu Filho

Inflamado e elevado pelas chamas
seja defendido por ti, ó Virgem,
no dia do juízo final.

A vida nos castigará duramente ainda, esta é a única certeza: Eis aqui as lágrimas dos oprimidos e não há ninguém para consolá-los (Ecl 4,1). Quando a cruz nos esmagar e os ímpios cuspirem em nós, olhemos para a multidão que se ri. No meio veremos uma face maternal nos seguindo. Ela não ri de nós, sofre conosco. Ela nos seguirá até a hora derradeira. E quando finalmente tudo estiver consumado, quando lançarmos o brado final e recebermos o preço de nossas culpas sendo abreviados desta vida, eis que a mãe das dores, agora mãe gloriosa, Rainha assunta ao céu em corpo e alma, vai nos receber na casa de seu filho. E como outrora a rainha Ester, vai nos preceder no trono do grande rei intercedendo em nosso favor: Salva meu povo, eis o meu desejo. Se parecer bem ao rei e se achei graça diante dele, e se isso lhe parecer justo (Est 7,3;8,5)

Faz com que eu seja custodiado pela cruz,
fortalecido pela morte de Cristo
e confortado pela graça.

Quando o corpo morrer,
faz com que minha alma alcance a glória do paraíso.
Amém. Pelos séculos dos séculos

A representação de Cristo morto com sua mãe gerou as melhores peças de arte sacra de todos os tempos. Ao longo desta meditação procuramos um apanhado de muitas visões artísticas da virgem dolorosa. Arte é imitação, já dizia a velha definição aristotélica. O leitor deve ter notado por si mesmo que apenas estas ilustrações já cortam nosso coração de dor e piedade pelos sofrimentos de Nosso Senhor e sua mãe santíssima.

As ilustrações são de artes plásticas, mas não devemos esquecer da belíssima arte musical… que hino é este, afinal, que tão bem une emoção à devoção? É o lendário Stabat Mater Dolorosa – “Estava a mãe das dores“. Este hino tem diversas versões por diversos grandes nomes da música. O valor lírico é incomparável, e soube capturar com maestria a cena da virgem no calvário. A tradução empregada é a da página Stabat Mater. No dia de Nossa Senhora das Dores não pude encontrar melhor expressão para nossa oração.

Postado originalmente no blog Jornadas Espirituais.

Pedi e recebereis!

Sou alma muito pequenina, que só tem condições de oferecer a Deus coisas pequeninas (…) Ah! O Senhor é tão bom para mim que se me torna impossível temê-lo. Sempre me deu o que desejava, ou antes fazia-me desejar o que queria dar.

Santa Teresinha do Menino Jesus, História de uma Alma, Paulus, São Paulo, 2002

E Deus nos busca diligentemente…

O tema das leituras neste domingo é a misericórdia. Misericórdia divina frente à infidelidade humana.

Na primeira leitura, vemos o gravíssimo pecado de Israel por idolatria. Aos pés do Monte Sinai, nos mesmos dias em que receberam a Lei de Deus, Israel pecou, pecou gravemente – literalmente diante da face de Deus.

Na segunda leitura vemos o pecado individual, de São Paulo, que narra sua época de perseguidor implacável da Igreja, e, em certo sentido, surpreende-se com a graça imerecida recebida pela misericórdia de Deus. São Paulo confessa-se naquela época ignorante: “Ainda não tinha recebido a graça e o fazia (a perseguição) por ignorância“, mas vê um sentido em sua conversão: Se encontrei misericórdia, foi para que em mim primeiro Jesus Cristo se manifestasse em toda sua magnanimidade e eu servisse de exemplo para todos que, a seguir, nele crerem. Liga-se este trecho de modo admirável à primeira leitura: “Lembrai-vos de Abraão, de Isaac e de Israel, vossos servos, aos quais jurastes por vós mesmo de tornar sua posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e de dar aos seus descendentes essa terra de que falastes, como uma herança eterna.” É a Aliança de Deus a fonte da misericórdia. Foi pela aliança de Deus com Abraão que o Senhor relevou o pecado de Israel, foi pela aliança eterna de Jesus Cristo que Deus relevou o pecado de Paulo, e de todos nós.

Finalmente no Evangelho, Nosso Senhor, como que escancara as portas de seu coração e revela toda sua face amável e misericordiosa. Ele é o bom pastor que vai atrás da ovelha perdida. Ele é a mulher zelosa que varre a casa pelo seu dracma. E deixa-nos entrever literalmente um pedacinho do céu: Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa.

É pela graça do Espírito Santo que o homem reconhece-se pecador. Cristo é o bom pastor, e envia seu Espírito Santo para aquele aperto no peito que dá na ovelha quando ouve a sua voz. Na parábola da mulher e dos dracmas, chama-me a atenção o versículo “a busca diligentemente, até encontrá-la“. Não só busca, mas busca diligentemente. Cristo sempre foi claro que sua vontade era fazer a vontade do Pai, comprando esta vontade a sua comida e sua bebida. E acrescenta que a vontade do Pai era que nenhum se perdesse. Cristo cumpre esta vontade até a dor da sua Paixão: – Tudo está consumado!, grita nos transes finais da cruz, que suportara com paciência e zelo extremos. Buscou as ovelhas perdidas da humanidade, e buscou diligentemente. O Apóstolo foi claro: “Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores“.

Na primeira leitura as conseqüências do pecado são claras: Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada. O pecado é aniquilação. São Paulo ao refletir sobre seus pecados dá graças à Jesus Cristo por tamanha bondade imerecida de ter se livrado deles. No Santo Evangelho, Deus revela a sua justa providência, ele não vai passar por cima da justiça, ele quer é que o pecador se arrependa e volte. Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. A ovelha pecadora estava perdida, estava morta. Ao converter-se do pecado, volta à vida. Este retorno está de acordo com a vontade de Deus, que é a existência das criaturas, da sua alegria. Deus não compactua com o pecado, é o pecador que se repactua com Deus, que “deixa-pra-lá” movido por sua bondade, e desejoso de ter novamente sua criatura amada – sua ovelha e moeda perdida – junto a si.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, que também me buscou diligentemente até me encontrar!

Renunciar para ganhar

“Renunciar”! Por vezes esta palavra soa como algo forte e difícil, mesmo se se tratando em âmbito evangélico. No entanto, realmente tal medida não é algo simplório, mas exige uma grande dedicação, digamos de forma demasiada. É necessário que nos doemos totalmente a Cristo e que nada reservemos a nós.  E isto a primeira leitura narra de forma clara e ao mesmo tempo em sentido implícito para que compreendamos o sentido de uma renúncia. “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor?” (Sb 9, 13). Deveras nenhum homem pode sondar a Deus. E quem poderá? São Paulo no-lo responderá que somente o Espírito “sonda tudo, mesmo as profundezas de Deus” (I Cor 2, 10). Somente o Espírito pode conhecer os insondáveis desígnios do Senhor. E quanto a nós? Perguntar-vos-ei. O mesmo livro da Sabedoria responde: “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito?” (Sb 9, 17). É preciso termos em nós o Espírito. E este só poderá estar conosco se assim o quisermos, manifestando sua presença, sobretudo, pelas nossas atitudes. E, se aceitarmos, demonstraremos estar de acordo com o Evangelho, que não é um conjunto de ideologias, mas um modo de pelo qual alcançaremos a salvação.

Na segunda leitura o apóstolo Paulo já estava com certa idade quando a escreveu, e estava na prisão. Na verdade não é uma carta para instruir uma comunidade, como habitualmente vemos, senão um bilhete dirigido a Filemon, sobre o seu escravo Onésimo, ao qual Paulo havia criado grande estima.

No Evangelho Lucas nos diz que Jesus era seguido por uma grande multidão. Mas, eis que estava indo para Jerusalém, e aqui gostaria de acrescentar que o fato de Jesus estar indo para lá significa que também caminhava ao encontro da cruz e da glória. Em Jerusalém ele abraçou a cruz e por nós fez a maior doação e o maior de todos os sacrifícios. Em determinado momento Jesus para, volta-se para eles, e afirma: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26-27).

Estas palavras de Jesus chamam-nos a atenção para a nossa caminhada cristã, que deve sempre mais estar radicada nos ensinamentos. Mas, se por um lado somos chamados a renúncia, por outro somos chamados a ganharmos algo muito maio. Quem renúncia tudo para seguir a Jesus nada perde, mas ganha muito mais do que lhe fora concedido. Jesus não obriga ninguém a segui-lo; mas aos que quiserem Ele impõe uma condição: “tome sua cruz e me siga”.

Fico a imaginar quantas pessoas não deixaram Jesus naquele momento, ficando apenas um número reduzido e os apóstolos (que mais tarde, no suplício da cruz, o abandonariam, ficando apenas João). A condição de seguimento é, de certa forma, dolorida, no entanto é salvífica. Não pode seguir Jesus quem apenas almeja pelas bem-aventuranças, pelas glórias, no entanto não quer passar pela experiência do sofrimento. Como disse outras vezes: o único caminho para se chegar a glória é plo sofrimento.

Mas notemos que Jesus diz: “quem não carrega a sua cruz e vem atrás de mim”. Ora, por que atrás e não do lado? Porque o discípulo está atrás do Mestre. Ele deve submeter-se aos ensinamentos daquele que lhe guia. Não está ao lado para ensinar com, e nem na frente, pois não sabe mais, mas está atrás para aprender com. E só depois que aprende poderá também ele ensinar. Mas nada ensinará senão aquilo que aprendeu do Mestre.

Nossa sociedade está esquecendo-se de Deus. Vive-se hoje como se Deus não existisse. E neste Evangelho Jesus vem nos lembrar: “Deus é insubstituível. Só Ele é fonte de toda a vida e felicidade humana”. Nem mesmo a família, os filhos, a esposa, o esposo, devem estar em primeiro lugar, senão Deus, e somente Ele. A família deve ser valorizada em sua posição [exercendo um papel fundamental na Igreja e na sociedade] ela é um presente concedido a nós, mas o doador deste presente é Deus. Por isso o sacerdote a tudo renuncia para amar livremente a Deus, e mostrar-nos que Ele é tão necessário quanto os prazeres, e as futilidades deste mundo. Pois o que está neste mundo tem um fim, mas Deus é eterno.

Peçamos que a Virgem Maria nos ajude a tornarmo-nos fiéis discípulos do Seu Filho.

Ut in omnibus glorificetur Deus!

Ovelhas de Jesus Cristo – Festa de São Gregório Magno

“Falando de suas ovelhas, diz Jesus: Minhas ovelhas escutam minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna (Jo 10, 27-28). É a respeito delas que fala: Quem entrar por mim, será salvo; entrará, sairá e encontrará pastagem (Jo 10, 9).”

“Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que o segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais são afinal as pastagens destas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.”

“Portanto, procuremos alcançar estas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos do céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto, irmãos!”

“Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade. Se alguém pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo algum no caminho que o faça desistir. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar a viagem até o fim.”

El Buen Pastor, Homilia 14, 3-6

Celebramos hoje a Festa de São Gregório Magno, Doutor da Igreja e um dos Papas que mais deixou escritos, escritos cheios de ricos ensinamentos. Deixou-nos, sobretudo, um modelo de vida exemplar. E ainda que no papado haja papas indignos, os pecados e infidelidades de alguns, comparados às virtudes e santidade de outros, são simplesmente insignificantes.

Gregório, grande Papa. Magno (Grande) não apenas por título, mas porque assim demonstrou em toda sua vida. Abandonou as riquezas deste mundo, sendo ele prefeito de Roma e filhos de pais ricos, e foi preencher-se de riquezas muito maiores na vida monástica, maravilhado com os ensinamentos e vida de São Bento. E os Cantos Gregorianos por ele criados? Ah! Que maravilha! Que paz espiritual suscita em nossos corações! Com eles somos melhores introduzidos no espírito da Celebração Eucarística. Não com as barulheiras estarrecedoras, pois para se louvar a Deus não se tem necessidade disso. Porém as vozes unidas elevam-nos, de forma magnânima, e nos fazem, ainda que nesta vida, contemplar o paraíso celeste.

Quis deter-me sobre um trecho do sermão de São Gregório, onde estava a meditar sobre o Bom Pastor. E que relação tem o próprio Pontífice com o Sumo e eterno Sacerdote, Bom Pastor, que é Jesus? Uma relação incomensurável, não apenas por apascentar o rebanho de Cristo, mas por que, ainda que tamanha fosse sua riqueza material, maior foi a riqueza espiritual, não medindo esforços em doar-se pela Igreja e pelo próprio Senhor, ao qual foi confiada a Nau de Pedro.

“Um Paraíso sempre verdejante”: eis o que receberão as ovelhas que se deixarem conduzir por Cristo. Na sociedade hodierna tomada por ideologias contrárias aos ensinamentos de Cristo, transmitidos pela Igreja, soam as palavras de São Gregório. E eis que ele no-lo diz: “Insensato seria o viajante que contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar a viagem até o fim”. Não podemos estar parados! O cristão está em viagem contínua. Mas que isto quer dizer a nós? Significa que o combate é permanente. Se pararmos de combater contra o pecado damos abertura para que ele entre e transforme nossas vidas em ruínas.

Se a nossa sociedade não encontra repouso em Cristo tenha certeza de que não encontrará em mais nenhum lugar. Pois só nEle encontraremos a verdadeira felicidade.

São Gregório foi inspirado pelo Espírito Santo, e é também a Igreja inspirada pelo mesmo. Se não fosse o Espírito Santo e a presença indubitável de Jesus, a Igreja não resistiria a tantos ataques, ainda que saibamos que muitos deles são equívocos e má-fé de muitos. Mas esta é a prova de que o Senhor e seu Espírito não abandonam, e jamais irão abandonar a Igreja.

Ainda que tentem nunca conseguirão! E eis que Satanás, com suas artimanhas, age por meio de muitos, mas se parece ser forte o poder das trevas, mais forte ainda é o poder de Cristo que está ao lado da Igreja. Tão forte que é capaz de vencer todos os poderes infernais.

Que a intercessão de São Gregório auxilie a Santa Igreja, para que nunca se canse de dar testemunho da verdade. Recordemo-nos também do Santo Padre e peçamos para que ele seja sempre inspirado pelo Espírito Santo em sua missão.

São Gregório Magno,
rogai por nós!

Meditações em “Alvorada do Amor” ou O Adão blasfemo

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo que redime nossas faltas, e que Novo Adão salva a humanidade caída.

https://i0.wp.com/3.bp.blogspot.com/_QAZNVKZxV-c/TIA3FhtmbNI/AAAAAAAAAp4/9d9RPeF4yiY/s1600/Michelangelo_Sistine_Chapel_Ceiling_Genesis_The_Fall_and_Expulsion_from_Paradise_The_Expulsion.jpgLi o poema Alvorada do Amor de Olavo Bilac. Não transcreverei inteiro porque é longo, mas vai uns versos.

Um horror grande e mudo, um silêncio profundo
No dia do Pecado amortalhava o mundo.
E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo
Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,
Disse: (…)

Vê! tudo nos repele! a toda a criação
Sacode o mesmo horror e a mesma indignação…
A cólera de Deus torce as árvores, cresta
Como um tufão de fogo o seio da floresta,(…)

Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto,
Ilumina o degredo e perfuma o deserto!
Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido,
Levo tudo, levando o teu corpo querido!

Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar:
– Tudo renascerá cantando ao teu olhar, (…)
Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus,
– Terra, melhor que o céu! homem, maior que Deus!

É uma declaração de Adão a Eva após ser expulso do paraíso. Não é lá muito ortodoxo, não depreende corretamente o sentido da Queda, nem deixa Deus em bela figura. Em resumo, Adão, incendiado de paixão por Eva, dá de ombros para a maldição, os males e mesmo a cólera de Deus se podia ter o amor de Eva a seu lado. Olhando o lado bom, é uma belíssima declaração de amor. Olhando do lado ruim, é um desprezo a Deus. Meus amigos católicos não gostaram do poema. Como disse, Bilac não é um Bocage ironizando maus frades, mas deixa Deus em má figura.

Confesso que me fez pensar… Nunca tinha imaginado um Adão assim meio blasfemo e impenitente saindo do Éden, achando-se injustiçado e desprezando as manifestações da ira divina. Sempre tive na cabeça a imagem daquele Adão que Michelangelo pintou na Sistina, penitente, arrependido, abandonando o Éden consolado por cumprir a Justiça Divina. A imagem do castigado altivo, que perde a guerra mas não perde a (sua) razão cabe mais em Satanás expulso do céu.

Por outro lado, quando observamos que o pecado original gerou a concupiscência da carne, a imagem do Adão transtornado e arrogante não é tão errada. Adão e Eva tiveram a carne inclinada ao mal, transmitiram a seus filhos. Após a queda, é narrado em seguida o assassinato de Caim. Mas é possível afirmar certamente que Adão não teve apenas “a Queda” como único pecado, e pecou mais vezes depois. Não me refiro aos apócrifos judaicos que narram curiosas relações sexuais de Adão e Eva com versões femininas e masculinas de Satanás, mas coisas menores, aqueles pecados veniais (lamentavelmente) do dia a dia. Será que Adão que não teve seus momentos de revolta contra Deus, achando-se – quem sabe? – ter sido punido excessivamente por tão pequeno delito, tão pequena desobediência… em sua humana e personalíssima opinião.

https://i0.wp.com/4.bp.blogspot.com/_QAZNVKZxV-c/TIA3yixj-ZI/AAAAAAAAAqI/Bc3dxzLKlB0/s1600/Rubens__Adam_et_Eve.JPGO leitor deve estar me criticando por tão heterodoxa elocubração. Mas pense comigo, não é o mal da concupiscência tentando e pervertendo a razão humana e nos impelindo ao vício, e do vício ao pecado? Parece imagem comum que Adão tenha se consolado e considerado Deus correto na sua atitude. Mas talvez não tenha Adão blasfemado e reclamado quando espetou pela primeira vez a mão num espinho, quando foi atacado pela primeira vez por um animal, quando bateu o pé a primeira vez numa pedra, quando adoentou-se a primeira vez, quando a primeira vez passou fome, quando a primeira vez passou frio… Diz o catecismo que em Adão e Eva estávamos todos nós, estávamos todos nós com nossas blasfêmias e revoltas tolas, movidas pela frustração, permitidas pela concupiscência, incitadas pela tentação.

Como disse, a figura do pecador altivo e impenitente, que perde o Céu e o Paraíso mas não perde sua razão, é a imagem de Satanás. Santo Antônio, doutor da Igreja, comenta que cada vez que um homem peca troca em sua alma a sua imagem de Cristo pela imagem de Demônio. Nossos primeiros pais optaram pelo Maligno, e procederam como ele, atirando toda criação e sua descendência à tirania de tão cruel figura. Por que não voltaria na blasfêmia Adão a imitar o anjo caído?

Sou homem, trago em mim a maldição de Adão. Todo dia, ao levantar para ir trabalhar, lembro que devo comer o pão com o suor do meu rosto. A cada vez que adoeço, a cada cabelo branco que me surge, lembro que sou pó, e para o pó voltarei. A cada vez que me acontece uma contrariedade, lembro que a terra para mim gerará espinhos e abrolhos. Minha revolta contra Deus – Deus justo, Deus benigno, Deus misericordioso – é tolice ditada pela concupiscência, como um cão doente cego de dor que morde a mão que vai o alimentar.

Mas o mal não é substância, é ato da degradação do bem. Adão não saiu do Paraíso nu em suas capacidades, a despeito do pecado haver transtornado a sua natureza. O poeta muito belamente neste Adão blasfemo coloca a consolação no amor de Eva. Esta paixão entre homem e mulher é perfeitamente querida por Deus, boa, justa, santa e desejável. Já dizia Salomão, O amor é forte como a morte, é uma faísca do Senhor. O amor dos primeiros pais da humanidade é bom. Captada – talvez involuntariamente por Bilac – foi a perversão deste bem pela concupiscência. Adão usa o amor de Eva para desprezar o temor de Deus, quase que dizendo “Troveje o Altíssimo para me punir, quero a Eva”. O bem supremo é Deus. Mal é preterir o bem supremo por um bem inferior. É bom amar Eva (e as Evas que encontramos para serem nossas companheiras). É ruim amar Eva ao ponto de dar de ombros a Deus. Assim como o pecado original foi desejar comer a fruta proibida e dar de ombros para a vontade de Deus, a verdadeira comida da humanidade, conforme dito claramente por Nosso Senhor: Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou. Compreendemos portanto o grito de um Adão blasfemo, já manchado pela concupiscência, preferindo os bens menores aos maiores.

Não posso terminar esta meditação neste tom pessimista, de quem vê a humanidade degenerada como que irremediavelmente. Irremediavelmente nada! Se me permitem avançar na imaginação, enquanto um Adão pecador e blasfemo saía do paraíso, temendo o querubim que vedava sua volta, sozinho no Éden, o Altíssimo balançava a cabeça, e a Trindade discutia o plano de como trazer os homens de volta, e melhores que o plano original. Qual é o plano os leitores conhecem melhor que eu. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!