Sacrosanctum Concilium. Parte quatro. A plenitude do culto divino.

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O primeiro capítulo da Sacrosanctum Concilium pretende falar-nos sobre os princípios gerais da reforma e dos incrementos à liturgia.

Logo no início menciona sobre Jesus Cristo, salvador do mundo. A primeira parte do número 5 é um parágrafo em que não há muito o que comentar, haja visto que faz algumas referências bíblicas para chegar ao cerne da questão que é óbvia: Cristo veio para nos salvar.

Pois bem, essa primeira parte do número 5, entretanto, tem uma citação deveras interessante para constar no documento sobre liturgia, não porque seja diferente do tema, longe disso, mas porque trata-se de uma frase vinda de um sacramentário datado de 1956 e que deveria ser visto com muito mais profundidade e seriedade do que é visto hoje.

A frase encerra o primeiro parágrafo do número 5 assim: “Por isso, em Cristo ‘se realizou plenamente a nossa reconciliação e se nos deu a plenitude do culto divino’”. A frase foi retirada do Sacramentário de Verona (Leoniano): ed. C. Mohlberg, Roma, 1956, n.° 1265, p. 162 e tem uma profundidade que não pode passar em brancas memórias.

Ao se dizer que em Cristo se realizou plenamente a nossa reconciliação, o sacramentário não pretende apenas enfatizar a reconciliação ao utilizar a palavra plenamente. A palavra plenamente está muito bem colocada pelo simples fato de que precisamos entender que antes de Cristo nossa reconciliação era uma sombra de reconciliação. Não havia meios eficazes de alcance de Deus que nos pudesse reconciliar com Ele plenamente, sem mácula e sem mancha. Pensando assim fica fácil entender que não era possível entrar no reino dos céus, uma vez que só com a vinda de Cristo essa reconciliação acontece plenamente. Antes havia manchas e máculas, o que impossibilitava a presença junto ao Pai, daí a importância da existência do limbo dos patriarcas, os infernos ou, como consta no credo que muitos rezam nas missas hoje em dia: mansão dos mortos.

Certo, mas o que nos interessa realmente é a liturgia, já que o documento é litúrgico. Essa plena reconciliação foi um dos efeitos da encarnação e morte de Cristo, o outro foi a plenitude do culto divino.

Cristo morre a cada missa. Não se trata de outra morte, ou de morrer outra vez. Se trata da mesma morte acontecida fora de nosso tempo humano e limitado. A mesma morte ocorrida há dois mil anos é a morte que acontece em cada missa celebrada. Deus não está no tempo. O tempo é criatura. Deus não pode se sujeitar a uma criatura Sua, a não ser que faça parte de Sua vontade, o que não é o caso. A morte de Cristo em cada missa, a mesma morte que ele sofreu há dois mil anos, é a plenitude do culto, isso porque Cristo é o cordeiro de Deus.

Os sacerdotes judeus sempre oferendavam a Deus o que tinham de melhor. Assim o foi desde Adão, que ensinou a Abel e Caim, embora Caim não tivesse aprendido muito bem a lição, já que matou Abel justamente por ciúmes da aceitação por parte de Deus das oferendas de Abel e não as de Caim. A Deus sempre o melhor, isso Abel aprendeu. Caim não. Por esse motivo os sacerdotes ofereciam suas próprias oferendas e as oferendas que o povo levava a eles, sacerdotes, para serem sacrificadas. Uma oferta humilde e limitada que a humanidade ofertava a Deus em pedido de remissão pelos seus erros e para cultuar a Deus.

Obviamente que as ofertas eram aceitas quando realmente feitas de bom grado e sendo o melhor do que tinham, contudo nada disso poderia sanar um profundo erro da humanidade: querer ser Deus. Toda vez que pecamos tentamos tomar o lugar de Deus, já que vamos contra Seu plano perfeito de salvação e contra tudo o que Ele nos planejou, ou seja, tentamos saber melhor que Ele o que é melhor a cada um de nós. Tentamos nos salvar sem a presença imprescindível de Deus.

Para que esse erro terrível fosse sanado, não era suficiente o sacrifício de cabras, bodes, pombos e cordeiros. Era necessário que o próprio Deus derramasse Seu próprio sangue. Isso só poderia ser feito pela encarnação de Deus. Cristo é Deus feito homem. Faltava a parte do sacrifício. Era preciso que, após Deus se fazer homem, fosse entregue como vítima, como cordeiro, para que pudéssemos ter a chance de salvação. Só o sangue divino poderia libertar de tão grande erro, de tão grande pecado.

Essa forma encontrada por Deus de nos dar a chance de fazer parte do projeto salvífico, estando na presença de Deus e estando com Ele face a face, é o maior motivo para nossa plenitude de culto divino.

Com a morte de Cristo todos agora temos a chance de salvação, temos que fazer nossa parte, afinal o livre-arbítrio continua, mas agora podemos buscar a salvação que acontece em Deus. Esse sacrifício, não mais uma sacrifício de animais, mas o sacrifício do próprio Deus que morre por amor, um amor que transborda tamanha é sua imensidão, é o que celebramos na missa de ontem, de hoje e de sempre. A missa sempre será sacrifício e, por isso mesmo, local de profundo respeito e contemplação.

O concílio Vaticano II logo em seu início nos lembra de tudo isso em uma pequena e as vezes intangível frase.

Nunca esquecer que a morte de Cristo é o que nos traz a plenitude do culto divino. Essa parece ser a mensagem inicial do documento SacrosanctumConcilium. Muito diferente do que muitos pregam por ai, não?

Sacrosanctum Concilium. Parte três. Um guarda fiel da tradição.

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Logo no início do documento Sacrosanctum Concilium consta um parágrafo de interessantíssima redação, parágrafo esse que causa arrepios em modernistas que os leem e mesmo, porém em menor grau, em radicais tradicionalistas.

4. O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.

Inicialmente começa com o texto “O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição (…)”. Muitos não consideram o Concílio Vaticano II como guarda fiel da tradição, muito pelo contrário, o considera guarda infiel ou o protetor único e inigualável de uma nova Igreja. Ambos os extremos estão redondamente enganados.

Por um lado o Concílio é guarda fiel da tradição e continuará sendo. Não importa o quanto radicais-tradicionalistas esperneiem o Concílio é tão válido quanto os mais de vinte anteriores, mas é interessante ver a expressão “guarda fiel da tradição” já que o outro extremo, ou seja, modernistas incluindo adeptos da teologia da libertação, entendem que tudo o que é tradicional deve ser extirpado do meio eclesial.

Fica claro que o catolicismo não está nem com um lado nem com outro. O catolicismo está nele mesmo e em Cristo e nele mesmo devemos nos inserir. Estando em Cristo está nele mesmo, afinal Cristo é a cabeça da Igreja. Não devemos puxá-lo para perto de nós ou tentar adequá-lo à nossa vontade ou preceitos, antes, é o contrário que deve acontecer.

A Igreja sempre será “guarda fiel da tradição” afinal é um dos fundamentos de nossa fé.

Entretanto o mais interessante do parágrafo nem é essa expressão, inusitada para uns e falsa para outros. O mais interessante é quando o parágrafo menciona que “(…)a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos (…)” se são iguais, são iguais e não devem ser vistos com diferentes dignidades. E continua: “(…) quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (…)”.

Bom, se a Igreja considera iguais e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, há que se falar claramente que o Rito Tridentino ou Extraordinário é legitimamente reconhecido e, portanto igual em honra e dignidade. Não é melhor nem pior, é igual. Está muito bem expresso! Obviamente que um deles deveria ser escolhido como o rito ordinário e esse escolhido não foi o Tridentino, o que não diminui a sua dignidade e honra.

Mas fica a pergunta: porque a Igreja demorou tantos anos, quase cinquenta, para “liberar” a todos os sacerdotes que quisessem celebrar no Rito Tridentino, igual em dignidade e honra, sem a autorização de um Ordinário Local (Bispo)?

Na mesma oração o documento afirma que ela mesma “(…) quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (…)”. Como seria possível promover algo que fica tão restrito e tão dificultoso de se chegar ao conhecimento dos fiéis leigos e mesmo dos sacerdotes que acabam por não serem preparados nos seminários?

Bem, pode ser que a resposta não seja exatamente essa, contudo a continuidade do mesmo parágrafo pode ser a resposta para essas perguntas. Diz o documento que: “(…)de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.”

Esse “de acordo com as circunstâncias e necessidades do nosso tempo” é de uma amplitude sem tamanho, fora a subjetividade. Afirmo que, a meu ver, essa frase explica o porquê de só no século XXI a Igreja expressamente ter autorizado sacerdotes a celebrarem livremente no rito Tridentino. Até aquela data não eram as circunstâncias e necessidades as melhores para esse tipo de liberdade e assim entendeu a Igreja por intermédio de todos os Papas que nesse período governaram. Cabe a nós questionar? Penso que não. Nos cabe apenas obedecer e agora aproveitar a imensa riqueza que esse rito pode nos proporcionar, não por ser maior em dignidade, vez que não é, mas por nele ser possível uma maior interiorização e meditação justamente pela forma como o rito é estruturado.

Concílio Vaticano II. Sacrosanctum Conclium. Parte dois.

FONTE: http://is.gd/m96Q6s

A Constituição Conciliar Sacrosancto Concilium continua a manifestar o porquê da existência da Liturgia dentro da Igreja e por qual motivo é preciso tanto cuidado e apreço para com ela.

Em seu número 2 é redigida ipsis litteris assim:

2. A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção» (1), contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2). A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito (3), até à medida da idade da plenitude de Cristo (4), robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações (5), para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um só pastor (7).

Vemos que é preciso destrinchar o parágrafo que ficou longo e pode confundir alguns conceitos e temas, algo que é muito apreciado por várias pessoas que tem a manifesta intenção de causar balbúrdias interpretativas em textos da Igreja.

O início do parágrafo tenta explica sucintamente o que a liturgia pretende e a que ela coopera afirmando que “(…) contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja (…)”. Vamos por partes como deve ser. A Liturgia, portanto, contribui em alto (sumo) grau para que os fiéis tragam para sua vida o mistério de Cristo. O mistério de Cristo não deve ser revelado, segundo o documento, em manifestações políticas, muito menos em expressões unilaterais de leigos e clérigos. O mistério de Cristo deve vir aos fiéis através da missa e através dela esse mistério deve ser propagado a todos os cantos, católicos ou não, tudo isso para revelar algo que atualmente os fiéis tem se esquecido: a natureza da verdadeira Igreja.

Verdadeira Igreja não é uma expressão solta e apartada do todo. Não se trata de uma expressão ilustrativa para que o texto fique mais bonito e de mais interessante leitura. A verdadeira Igreja é um conceito sempre atual e desejável por Deus. Cristo morreu para que Sua Igreja Dele nascesse ainda na cruz ao ter o lado aberto derramando água e sangue.

Devemos propagar, após o envio que é a missa, a verdade que somente a verdadeira Igreja de Cristo pode nos trazer. Nos dias atuais um sem número de pessoas insistem em afirmar que a Igreja não é santa, não é perfeita, não é única… Fazendo tais afirmativas apenas expressam que Cristo não fundou uma Igreja, não trouxe uma doutrina e não deixou ensinamentos que deveriam ser entendidos e repassados por pessoas específicas e determinadas. A Igreja de Cristo é única, não há possibilidade de serem várias e isso é bem atestado quando o próprio Cristo informa aos apóstolos e mais diretamente a Pedro que “edificarei a minha Igreja” (Mt. 16,18). Cristo não disse minhas Igrejas, não disse minhas doutrinas. Disse no singular e no singular deve ficar até o fim dos tempos.

A liturgia, portanto, tem o fito de contribuir para que os fiéis possam espalhar pelo mundo a sua volta os mistérios de Cristo revelados por Sua autêntica e verdadeira Igreja.

O enorme parágrafo ainda continua da seguinte forma:

“(…) que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2).”

Se a Igreja é simultaneamente humana e divina, diriam alguns desavisados, como poderia ser perfeita? A humanidade não é perfeita e isso a própria Igreja nunca se furtou a dizer, até porque seria loucura afirmar o contrário. Não entendem esses seres desinformados, que a Igreja visível, como em seguida no texto se diz, é formada por pessoas e por homens é dirigida. Esses homens obviamente que são imperfeitos, obviamente que são pecadores e obviamente que não são deuses. Ai está o grande pulo do gato. Deus desceu à Terra para ser morto por nós. Foi morto por nós para que seu sacrifício fosse entregue ao Pai, uma vez que o pecado da humanidade em querer ser Deus através do pecado, é tão grande que somente o sacrifício do próprio Deus poderia ser ato suficientemente válido para nossa salvação. Os sacrifícios de animais e martírios que se seguiram não tem sequer uma ponta do que significa o sacrifício de Cristo, tanto o cruento, na cruz e com derramamento de sangue, quando o incruento, na missa e sem derramamento de sangue.

Foi se fazendo homem que Deus se humilhou tão fortemente, descendo à condição da criatura, com exceção do pecado, que os mistérios se reuniram em um só lugar autêntico: a Igreja. A Igreja de Cristo, a Católica Apostólica Romana, é instituição divina como não há outra. Nela temos Cristo como sendo a cabeça e o Espírito Santo como guia. É inteira divina, inteira perfeita e inteira impecável. Pecadores somos nós os homens que sequer conseguem ter a nítida noção da grandiosidade de todo esse plano divino.

Assim sendo, o parágrafo tem o intuito de informar que a Igreja é sim humana, visível, ativa, peregrina, contudo o humano está aquém e subordinado ao divino. Da mesma forma o visível ao invisível e a ação à contemplação. O caráter peregrino deve estar subordinado sempre a onipresença divina que se faz muito clara em todas as celebrações da Santa Missa que ocorrem durante o dia em todo o mundo.

A Igreja ativa, peregrina, lutadora e visível é importante, sem dúvida, desde que esteja focada na contemplação a Deus. Ação e atitude, por mais que sejam de boa aparência, quando não focadas em Deus são pérolas aos porcos e luz engolida por trevas. Os fins não justificam os meios e por isso não há como agir de qualquer maneira para um fim considerado justo. O fim deve ser justo e o meio também. A missa deve ser sempre focada no sacrifício e nesse mistério grandioso que é a humilhação de Deus se tornando homem. Fugir disso em prol de números e satisfações é justificar os fins com meios distorcidos. Nunca foi essa a intenção do Concílio Vaticano II.

Sacrosanctum Concilium. Parte um.

Outros artigos sobre o CVII:

FONTE: http://is.gd/anHtxh

50 anos é tempo suficiente?

O porque dos nomes dos documentos.

O Concílio Vaticano II e a ruptura.

Sacrosanctum Concilium. Parte um.

Sacrosanctum Concilium. Parte dois.

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Dizem por ai que a melhor forma de iniciar qualquer coisa é pelo começo. Não discordo. Sendo assim vamos começar a analisar o documento do Concílio Vaticano II, intitulado Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium que legislou sobre a sagrada liturgia.

Pois bem, como tinha dito, o início é sempre o melhor lugar para se começar, então vamos iniciar com um excerto do primeiro número do documento:

1. O sagrado Concílio propõe-se fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo, e fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja. Julga, por isso, dever também interessar-se de modo particular pela reforma e incremento da Liturgia.

 Como é bom lermos a introdução de todas as coisas, não é mesmo? Hoje já se perdeu esse costume já que a moda é o rápido. 140 caracteres e abreviações das mais esdrúxulas é que passou a ser a melhor forma de se escrever. Ler prefácio de livros? Nem pensar. Quem faz isso hoje em dia? Pois perdem uma enorme riqueza ao não lerem os prefácios e as introduções dos livros. Aliás, perdem muito em não ler livros.

 Mas o que isso tudo tem a ver com a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium? A princípio tudo.

 O número 1 do texto coloca as propostas para o Concílio. Essas propostas são lidas por muitos sem se ler o final do parágrafo.

 Inicialmente diz: “O sagrado Concílio propõe-se (…)”

a) (…) fomentar a vida cristã entre os fiéis (…). Fomentar a vida cristã é o que a Igreja sempre fez e sempre fará, afinal é a forma de se chegar à salvação. O grande problema está em entender como se fomenta a vida cristã. Infelizmente para muitos que deturpam o verdadeiro ensinamento e espírito do Concílio, a vida cristã se fomenta através de oração e obediência à Igreja e todos os seus preceitos, eu disse todos e não aos que você escolher.

Obviamente que obedecer e crer na Igreja importa em ter uma vida de oração, mas é bom que se destaque isso, afinal não é apenas mais uma regra. Dificilmente encontramos um que se diz católico que se predisponha a rezar três ave-marias durante o dia, aliás, será difícil encontrar um que rigidamente encontre disposição inflexível de ir à missa todos os domingos. Até para essa presença na santa missa as dificuldades se avolumam.

Então, a Igreja sempre buscou fomentar a vida cristã, o grande problema são os meios para esse fomento. Alguns consideram que a política é um grande meio para esse fomento, do que não discordo em momento algum, contudo não posso concordar que seja o único nem que seja o mais importante.

Da mesma forma, realizar celebrações litúrgicas da santa missa em que as pessoas que ali estão presentes necessariamente sejam o alvo, ou seja, faz-se a missa não para Deus, mas para a torcida, também não é o meio de fomentar a vida cristã. Vida cristã não é estar dentro da Igreja para fazer o que bem entender. É estar dentro da Igreja e fazer parte dela. Quando se faz parte de um corpo não se pode ir contra o comando desse corpo. Ao acaso a mão não obedece a cabeça? Ou se rebela contra ela e age como bem entender? É simplesmente absurdo pensar assim.

A Igreja fomenta a vida cristã quando age de forma cristã, ensina de forma cristã e exige de seus fiéis atitude e ensinamento cristãos. A Igreja age de forma cristã a medida que é esposa de Cristo e Dele não pode se separar. Age de forma cristã a medida que Cristo a quis e a fundou. Age de forma cristã a medida que é guiada pelo Espírito Santo.

Fomentar a vida cristã entre os fiéis não pode ser interpretado como sendo um motivo para o fim das hierarquias uma vez que a vida cristã entre os fiéis é incompleta já que não podem fazer parte da hierarquia da Igreja. Não se assustem, é isso que muitos, inúmeros pensam por ai.

Quando o Concílio, através da Sacrosanctum Concilium afirma que é preciso fomentar a vida cristã entre os fiéis, não afirma que os fiéis precisam tomar as decisões que sempre couberam a diáconos, sacerdotes, bispos, cardeais… não significa também que o fiéis precisam passar a cumprir funções que esses mesmos diáconos, sacerdotes, bispos… sempre cumpriram. É por causa de pensamentos (maus pensamentos) como esses que se disseminou uma figura nos altares que nunca deveria ter as funções que culturalmente passou a ter: o Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão. O mesmo poderíamos dizer para os excessos que as equipes de liturgia cometem com a conivência dos sacerdotes e o caos que passou a ser os grupos de catequistas.

Tudo tem um pouco a ver com essa intenção mal interpretada de fomentar a vida cristã entre os fiéis. Toda a questão está envolvida no ponto em que a maioria dos que se dizem católicos não são nem nunca serão católicos. Isso não é de hoje e hoje não terminará. Os católicos de verdade sempre foram poucos, muito poucos, mesmo na Idade Média. Apenas era moda e conveniente ser católico. Os católicos verdadeiros sempre foram um punhadinho.

Isso a Igreja sempre soube e sempre se colocou na posição de mudar essa situação, contudo nesse documento a Igreja deixa bem claro que o meio que ela encontrou para que os católicos verdadeiros aumentem em qualidade e quantidade é pelo testemunho, pelo exemplo. Fomentando a vida cristã entre os fiéis, outros que se dizem fiéis entendem o que é o verdadeiro cristianismo católico.

b) (…) adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mudança (…). Adaptar sim, claro, porque não? Cada tempo tem suas necessidades, cada tempo tem seu pensamento humano, cada tempo tem suas tecnologias. A Igreja militante está inserida nesse mundo e nesse tempo. Deve usar esse tempo a seu favor, mas não ser escrava dele.

Adaptar as instituições significa caminhar conforme o ritmo da dança, contudo a ressalva é interessante e as vezes acho que é invisível. A frase diz que é preciso adaptar melhor ao tempo as instituições e continua: suscetíveis de mudança, ou seja, é requisito. A frase não termina em instituições. A parte que menciona o “susceptíveis de mudança” é essencial para o entendimento de que certas coisas não são susceptíveis de mudanças: o sacrifício da missa é uma dessas coisas, o respeito à eucaristia é outra e a valorização do sagrado outra. Não vamos nem comentar sobre a doutrina revelada, os dogmas e tantos outros pontos. Fiquemos só nesses, afinal estamos em um documento que fala sobre liturgia.

Quando afirmo que o sacrifício da missa não é susceptível de mudança, não falo de rito. Não me interpretem conforme sua vontade. Falo do sacrifício mesmo. Quantos dos que agora estão lendo esse texto tem a perfeita consciência de que a missa é sacrifício? E quanto estão ouvindo (lendo) isso pela primeira vez? A missa se tornou de tal forma culto agradável aos homens que deixou de ser sacrifício. Ninguém quer sacrifício. Ninguém quer dor, muito menos morte. Quem quer isso? Façamos da missa um culto agradável a quem assiste. Porque não celebramos a vida? Afinal Cristo ressuscitou pra nos salvar, não foi isso? Não, não foi! Cristo morreu pra nos salvar e foi Ele quem quis assim. Não precisava ter sido assim, mas Ele assim o quis. Eu ou você temos autoridade pra questionar ou mudar isso?

A questão passa a ser outra: quais instituições são susceptíveis de mudança? Como essa mudança irá ocorrer e com qual velocidade isso irá acontecer? Isso tudo depende da Igreja, não de nós e a Igreja tem seu tempo. Não queira que tudo aconteça durante o seu ínfimo tempo de vida por aqui. A Igreja não será destruída até que chegue o dia do juízo final. Essa é a promessa em Mateus 28,20.

c) (…) promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo (…). Essa frase pode ser interpretada das piores formas possíveis em prol de um ecumenismo falso e hipócrita.

Promover todo o possível para ajudar todos os crentes em Cristo, não significa de forma alguma em concordar com os erros, as vezes crassos de nossos irmão separados, vulgo protestantes.

Essa promoção também não significa confraternização litúrgica com eles.

O ecumenismo sempre foi a aproximação com os cristãos, eu disse cristãos, para que possamos iniciar uma conversação digna, legítima, leal e saudável sobre nossas diferenças para que eles entendam que o seu retorno à Igreja de Cristo é o melhor caminho. Da mesma forma, passado esse período de conversação, estabelecer normas para receber esses irmãos que estavam separados dentro da Igreja de Cristo. É o que vem acontecendo com muitos leigos e clérigos anglicanos e às vezes com denominações inteiras de igrejas protestantes, especialmente nos Estados Unidos.

E tem outro detalhe; ecumenismo é entre cristãos. Não existe ecumenismo com não cristãos. Com esses é muito complicado iniciar uma conversa, já que ou não creem em Deus uno e verdadeiro, ou deturparam-no de tal forma que fica impossível estabelecer um início para a conversa. Nesse ponto a conversa se dá em outro nível, não em ecumenismo. Lembre-se que os espíritas se colocam nesse grupo de não cristãos.

Pois bem, a frase é simples e pode ser interpretada erroneamente, contudo não seria assim se quem lesse se interessassem em ler a frase como um todo que diz:

(…) promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo, e fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja (…)

Chamar a todos ao seio da Igreja é o motivo principal do ecumenismo. Por esse único motivo é que se deve promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo.

Concluindo sobre esses três pontos, temos que tudo desemboca em fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja, independentemente se acontecer por meio do ecumenismo, através de adaptar instituições que são susceptíveis a adaptação ou fomentando a vida cristã entre os fiéis.

Finalmente, o parágrafo se auto conclui julgando a si próprio e aos anseios do Concílio dizendo que:

 Julga, por isso, dever também interessar-se de modo particular pela reforma e incremento da Liturgia.

Mais uma vez pode ser levado um erro crasso de interpretação: reformar e incrementar a liturgia nunca significou mudar seu motivo de existir, sua função e sua sacralidade.

50 anos é tempo suficiente?

FONTE: http://is.gd/h0JQBC

É interessante pensar no que significam esses 50 anos de Concílio Vaticano II.

O que são 50 anos no âmbito bimilenar da Igreja de Cristo? É possível dizer, como alguns dizem, que o Concílio foi um fracasso total ou um sucesso absoluto? Ou mesmo é possível avaliar que é hora de um novo Concílio?

O Concílio Vaticano II parece ter inaugurado um novo estilo de Concílio. A linguagem utilizada é inédita e mostra que os padres conciliares não tinham nenhuma motivação pela necessidade de passar um julgamento sobre novas questões eclesiásticas e teológicas polêmicas, como foi o caso claro de Trento, Nicéia e outros, mas sim pelo desejo de voltar a atenção à opinião pública dentro da Igreja e todo o mundo, no espírito do anúncio.

Um Concílio com um novo tipo de linguagem, uma linguagem que não foi, definitivamente como a de Trento, pode ser avaliada em 50 anos de decurso?

Retrocedendo-se o pensamento ao Concílio de Nicéia no ano de 325, as disputas em torno do dogma deste Concílio – sobre a natureza do Filho, ou seja, se Ele é da mesma substância do Pai ou não – continuaram por mais de cem anos. Cem anos é dobro do que já vivemos até aqui e o as linhas do Concílio era expressas, não interpretativas.

Santo Ambrósio foi ordenado Bispo de Milão por ocasião do cinquentenário do Concílio de Nicéia e teve que lutar duro contra os arianos que se recusavam a aceitar as disposições nicenas. Podemos tirar disso que os Concílio sempre trazem conflitos, justamente por tomarem posições certas ou fazerem mudanças.

Pouco tempo mais tarde veio um novo Concílio: o Primeiro Concílio de Constantinopla de 381, que foi considerado necessário a fim de concluir a profissão de fé de Nicéia. Durante este Concílio, Santo Agostinho recebeu a tarefa de tratar de solicitações e refutar hereges até a sua morte, em 430. É possível avaliar que mesmo o Concílio de Trento não foi muito frutuoso até o Jubileu de Ouro de 1596. Foi necessária uma nova geração de Bispos e prelados para amadurecer no “espírito do Concílio” antes que seu efeito pudesse efetivamente ser sentido.

Obviamente que não estamos ignorando que nos dias atuais as coisas acontecem mais rapidamente e as informações são praticamente instantâneas, embora pouco confiáveis. A velocidade das informações poderia ser um acelerador para que um Concílio pudesse ser entendido mais rapidamente. Não é o que acontece! Mais gente é trazida para o debate, mais argumentos passam a existir e mais palpites errados são dados. Isso só piora a situação. No final, cinquenta anos, são sempre cinquenta anos.

Precisamos nos conceder um pouco mais de espaço para respirarmos e mais tempo para fielmente estarmos no espírito do Concílio Vaticano II, junto com a Igreja, afinal, sem ela nunca estaremos no espírito de nada.

A esperança cristã reside no Amor

adventoCom a Solenidade de Cristo Rei no Domingo passado, concluímos mais um Ano Litúrgico, nos preparando interiormente para este tempo do Advento que a Igreja nos conclama a celebrarmos.

É neste tempo que, com os corações contritos e esperançosos, aguardamos o jubiloso prenúncio do Salvador, que dirige-se ao nosso encontro e oferece-nos a sua graça salvífica e a possibilidade de uma reconciliação do homem com Deus, rompidas pelos primeiros pais. Neste período recobremos com ânimo a virtude teologal da esperança, que nos é dada do alto e que é imprescindível ao cristão. Assim, com este vigor no coração, somos convidados a olharmos e mantermos a mesma expectativa que nos diz o prefácio: “Revestido da nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar Seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação” (Prefácio do Advento I). É-nos sabido que este plano de amor concretizou-se plenamente em Cristo Jesus e nesta primeira vinda de um estreitamento de laços do homem com Deus.

Mas, podemos nos perguntar: como mantermos a expectativa cristã em uma realidade tão fugaz? Como estar com os olhos fitos em Cristo se o mundo oferece-nos coisas aparentemente mais atraentes? E aqui acaba o homem por criar um verdadeiro dilema existencial e um lapso no relacionamento consigo e com os demais irmãos. Sim, aquele que se fecha à realidade de Cristo não apenas fecha-se aos outros, mas, por conseguinte, a si mesmo. Isto porque o relacionamento com Cristo requer também um bom relacionamento com o irmão. No outro vemos a face de Cristo; no outro vemos também a nós, criados à imagem e semelhança de Deus. Quem perde este sentido fecha-se no seu eu e cai na desesperança, porque já não mais nutre-se da vida, mas da sua morte interior.

Às indagações anteriores, São Paulo nos responde com extrema brandura e ao mesmo tempo com firmeza espiritual: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós” (1Ts 3,12). É na realidade do amor – a Deus e ao próximo – que o homem reconhece-se como sujeito único e singular, dotado de inteligência e de vontade livre, mas também composto de uma realidade material. Ele tornar-se, não obstante as dificuldades, um ser de relacionamento e de proximidade, firmando-se sempre mais na perspectiva futura do convívio eterno com o Senhor. E entendemos o porquê Deus torna-se a “peça chave” no nosso relacionamento: Dele, Amor puro e gratuito, há de provir todo o amor que existe entre os homens para que eles não hesitem no reconhecimento da unidade e da autentica liberdade que foi-lhes dada na filiação adotiva.

Por isso, mais que uma promessa e que uma exortação, o pedido de Paulo concretiza-se no autêntico testemunho de vida voltado a todos os homens que desejam colocar-se à disposição de um amor real, que não subsiste na incerteza e nas especulações. De fato, somente aquele que tem o amor como plano de fundo pode configurar sua vida ao projeto real de Cristo, que não se baseia sobre outra coisa primeiramente, senão sobre a comunhão. Portanto, o advento definitivo não evoca uma realidade distante, temerosa, pela qual os homens ingressam sob a ótica radical das palavras evangélicas ou escatológicas, mas é uma realidade de esperança que caracteriza-se pela harmonia das coisas e pela infusão de um amor radicado no senso ontológico do homem.

A exortação feita pelo Apóstolo São Paulo na segunda leitura é fundamentada já em um princípio eclesiológico. De fato, como Paulo, a Santa Igreja não se cansa de exortar a todos os seus filhos para que mantenham-se atentos aos eminentes sinais dos tempos, que se darão quando Nosso Senhor no-los fizer conhecerem. Por isso, neste imperioso dever de orientar os homens, nos seus vinte e um séculos, a Igreja nunca se ab-rogou da sua missão, mesmo que, em alguns momentos, tenha se sentido fragilizada pelo peso que alguns de seus filhos a imputaram. “Meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores!” (1Ts 4,1).

À comunidade de Tessalônica se dirigiu esta exortação, mas não menos atual em nossos dias. O povo tessalônico vivia em grande fadiga da caridade, numa fé operosa e isso os fazia manterem-se numa constante expectativa pelo seu Senhor. Neste sentido, o advento torna-se ainda mais profícuo se vivido intensamente, progredindo no bem e na caridade que nos são constantemente exortados. Tornou-se necessário, mediante a hodierna sociedade, progredirmos sempre no Senhor, intensificarmos nossa espiritualidade, reforçar as bases da nossa fé. O primeiro passo para este reforço é a escuta atenta da Palavra, uma vez que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10,17); depois temos o testemunho autêntico daquilo que ouvimos e nisto outros verão, pelas obras, de quem somos testemunhas.

Na óptica deste Tempo do Advento, tenhamos sempre conosco a certeza viva e uma esperança inabalável; a esperança do ser cristão, que reside em Cristo Jesus. Desta forma seremos animados a enfrentarmos os desafios dos tempos pós-modernos e a fazer com que continue viva no mundo a chama da luz de Cristo, para que todos conhecendo-O possam amá-lo e amando-O possam esperá-lo. A Maria, que por nove meses gerou o menino-Deus em seu ventre, queremos elevar nossos agradecimentos e preces, para que Ela nos ensine a gerarmos o Cristo em nós e portá-Lo aos demais irmãos, com caridade e verdade, mostrando que o verdadeiro rosto de Cristo pode ser encontrado no interior de cada homem que por Ele se deixa tocar e transformar.

E continuemos a escutar e seguir atentamente a exortação de Cristo, que diz: “Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36). E com toda a Igreja possamos exclamar: Maranathá! Vem, Senhor Jesus!