A crise moral: massageando o ego para aliviar a consciência

Vivemos numa sociedade marcada por um forte estereótipo de ser a grande portadora da verdade. Homens se julgam capazes de oferecer bem e mal, verdade e mentira. Consequências desastrosas estas. Tornou-se quase que ilimitável esta capacidade racional que se põe a disposição do mal, da libertinagem e do relativismo.

Hoje pela manhã, durante o meu estágio na área de Filosofia, deparei-me com uma temática muito interessante e atual; um tema, de fato, que intriga o homem contemporâneo fazendo-o repensar o seu conceito de vida e de liberdade: Eutanásia. Moralmente e religiosamente falando ela é inaceitável, uma vez que a vida constitui-se como dom singular e particular de cada pessoa. Violar este direito é ferir a própria liberdade do homem e a sua capacidade de escolha. Tantas escolhas… Somos a todo instante oportunizados (ou tentados) a fazer escolhas que possam privilegiar o nosso ego. Nem sempre queremos o correto, afinal, para quê conviver com a verdade dura se podemos viver com uma mentira suave? É aquele famoso ditado: massageando o ego. Portanto, eu sou dono do meu corpo; eu ajo como bem achar melhor; eu tenho liberdade de escolha… eu, eu eu… Jamais se pensa no outro. Até onde vai a minha liberdade, então? Por ser dotado de um livre arbítrio eu posso ferir a liberdade e o direito de alguém?

Não quero expor aqui nenhuma visão doutrinária especificamente neste artigo, mas simplesmente desejo sublinhar um pensamento enquanto homem e cristão; um pensamento muito particular.

Procurei – depois de explicar à sala a questão da eutanásia e expor por alto o pensamento da Igreja – fazer uma leitura humana e ética da vida. A vida constitui-se não somente como dom de Deus, mas como direito inalienável de todo ser humano. Fiz então uma comparação: Um determinado sujeito, insatisfeito com a vida, resolve suicidar-se. Você é chamado ao local para que possa fazer algo. Certamente, assim quero crer, você não iria levar uma corda para entregar ao “des-graçado” (no sentido pleno da palavra: que está sem a graça; que não possui a graça). O que você poderia fazer, em seu gritante lado humano, é tornar en-graçado aquele que está sem graça, isto é, mostrar o sentido mais belo e profundo da vida; um lado que todo homem só descobrirá quando re-descobrir (ou descobrir, se ainda não conhece) o seu próprio valor. (Perdoem-me os “joguetes” com as palavras, mas elas também me en-graçam).

Tentei mostrar aos jovens que a vida é passível de uma dinamicidade natural. Colocar-se em favor da eutanasia é estar a favor do aborto, do suicídio, dos crimes hediondos, do vazio. Pobre mundo vazio! Estúpido vazio no mundo! O único vazio que eu vejo entupir… vidas, ideias, expectativas, sonhos, fé. Tudo que sobeja lacuna termina em vazio. O homem sobejou uma lacuna para Deus e perdeu sua referência de fé e de religião; sobejou uma lacuna para si e perdeu o seu sentido existencial; sobejou uma lacuna no outro e perdeu o seu sentido de unidade e respeito mútuo.

“Mas nós somos donos do nosso corpo”; “nós somos livres pelo direito de decidir”; “nós temos livre arbítrio”. Eu retruco perguntando: isso é um fato? É fato que temos domínio sobre nosso corpo? Então ótimo! Posso controlar a hora que quero adoecer, hora de cortar o cabelo, hora de envelhecer ou até mesmo ser imortal. Fatos não deixam espaço para possibilidades. Fatos não apresentam margem ou lacunas. Mas é fato – e muito triste! – que o homem já não se conheça mais.

Globo e Babilônia: sinônimos da libertinagem, ou: O dia em que Noé pôs os animais na arca

Liberdade e libertinagem possuem conceitos bem distintos entre si. As duas possuem o mesmo radical, mas sufixos diferentes, o que dá uma conotação bem diversa às duas. O radical liber é traduzido como livre, mas o sufixo atis é o mesmo que atos. Já a libertinagem é oriunda da língua francesa. Enquanto a primeira traduz-se como livre ato, a segunda apresenta-se como devassidão, e foi esta última que a Globo apresentou uma vez mais em sua novela.

A começar pelo título já não muito atrativo e pesado: Babilônia. Mas não é isso mesmo que estamos presenciando? Talvez agora eu devesse indagar os irmãos de outras religiões que afirmam que a Igreja Católica é a Babilônia do Apocalipse: o que poderíamos falar da Rede Globo? Ela sim mais parece a Babilônia, uma vez que deprecia os autênticos valores éticos e infiltram cenas como a que se viu ontem (16) entre a Fernanda Montenegro e a Nathália Timberg. Preferi não assistir, mas infelizmente nem sempre os “facebookianos” sabem filtrar conteúdo.

Para falar de uma novela com um título tão esdrúxulo, deveríamos pensar, antes de mais, no que foi a Babilônia. Acredito que todos saibam da sua história, mas não nos custa relembrar.

A Sagrada Escritura nos faz menção diversas vezes deste reino, sobretudo no livro de Daniel e Isaías. O reinado de Nabucodonosor apresentou-se como um tempo doloroso na história de Israel, de forma rígida e perversa o rei governava e ordenava que fossem adorados os seus deuses em lugar do Deus de Israel. Tempos difíceis do exílio no qual o povo de Israel permaneceu firme ao Senhor e por isso obtiveram libertação. Por longos anos prevaleceu a imoralidade e a idolatria no reino, até que Ciro II da Pérsia a destruiu, em 539 a.C. Jeremias, por último, relata sobre a queda de Babilônia: “Num momento caiu babilônia, e ficou arruinada; lamentai por ela, tomai bálsamo para a sua dor, porventura sarará. Queríamos curar babilônia, porém ela não sarou; deixai-a, e vamo-nos cada um para a sua terra; porque o seu juízo chegou até ao céu, e se elevou até às mais altas nuvens”. (Jr 51, 8-9).

Não muito diferente é o contexto atual. Vemos que no mundo ergue-se uma nova Babilônia: da imoralidade, do poder, da corrupção, das idolatrias, da libertinagem. Insisto em falar sobre liberdade e libertinagem porque as duas, embora tenham radicais parecidos, são destoantes em definições. A verdadeira liberdade não é propagada com a demagogia da libertinagem, mas vê-se como uma consciência do homem diante das responsabilidades que deve assumir como criatura de Deus. O Concílio Vaticano II ao aludir a uma autêntica prática do bem, afirmou: “Só na liberdade é que o homem se pode converter ao bem” (Gaudium et Spes, 17).

A liberdade também não é “licença” para que o homem aja como bem entender, mesmo para o mal, contanto que lhe agrade. Essa “sede” de liberdade é fomentada de forma errônea e prejudicial, não só ao espírito mas também à própria conjectura social e natural da humanidade. A liberdade é em primeiro lugar dom de Deus, um dom inestimável que nos fora concedido para a prática do bem e as escolhas de decisões coerentes. Ninguém é livre para optar pelo mal! O mal não é liberdade, mas é justamente a transgressão da mesma. Quem viola a lei natural e divina não age para a liberdade mas para a degradação e para a inferioridade do gênero humano. Como fonte de um estudo mais profundo sobre este conceito de liberdade, dentre tantas obras, indico a Veritatis Splendor, carta encíclica de São João Paulo II.

Pergunto-me: como a Rede de televisão já mencionada ousa transmitir a Santa Missa do Natal do Senhor, todos os anos, se o que o Papa e a Igreja ali dizem não lhes soa aos ouvidos, ao menos como palavra de conversão? Ao contrário, sempre mais viva é a presença das mentalidades espíritas e da degeneração da família.

Hipocrisia tem limites! Depravação não tem limite porque sequer pode ser tolerada – como vemos desde a Sagrada Escritura. Resta-nos uma conclusão óbvia: Família só existe uma: Aquela que Deus instituiu… E mesmo que o mundo queira, no fim sempre prevalecerá a vontade divina. Pessoas do mesmo gênero sexual não podem constituir um casal. Na Escritura, quando se relata a entrada dos animais na arca de Noé, Deus manda que ele colocasse um casal (macho e fêmea) para que fossem salvos do dilúvio. Não pediu duas fêmeas, nem dois machos. Como escrevi mais cedo no facebook: À homofobia dizem ser “crime”; mas a omissão da Verdade é PECADO. É a segunda que leva ao inferno, não a primeira.

Se o governo ou a militância LGBT achou o meu texto homofóbico então quem está privado de liberdade sou eu, que sequer posso expressar minha opinião, ou melhor, a opinião e Doutrina da Igreja.

Cardeal Müller: “sutil heresia” separar doutrina e práxis

Trazemos ao estimado leitor a tradução da nossa página do discurso do Cardeal Gerhard Müller na abertura da Sessão Plenária da Comissão Teológica Internacional, em 1º de dezembro passado.

***

Esta foi sempre a convicção dos Padres da Igreja: que a teologia inicia e, em certo sentido, nasce e se faz na liturgia, na adoração do mistério de Deus e na contemplação do Verbo feito carne. Começando por São Basílio de Cesaréia que em seu memorável tratado sobre o Espírito Santo vê exatamente na liturgia a ocasião e o lugar propício da autêntica reflexão humana sobre a incompreensível teologia e economia da nossa salvação. Se nós, teólogos e teólogas, todos os dias temos, a serviço dos mistérios da fé, a nossa inteligência, as qualidades próprias e o fatigante trabalho, temos, na verdade, antes de tudo isso, necessidade do seu Espírito, da sua inteligência divina que fortifica as nossas pobres buscas humanas. Na liturgia compreendemos melhor como a teologia é fundamentalmente a contemplação do Deus de amor.

Devemos, porém, tomar consciência da exigência e da responsabilidade da inteligência da fé, que de modo especial é confiada aos teólogos e às teólogas, que trabalham na Igreja, pela Igreja e em nome da Igreja. Na Igreja, com o seu trabalho intelectual, realizam uma vocação bem precisa e uma exigente missão eclesial.

A fé cristã, de fato, não é uma experiência irracional. Somos chamados a acolher o convite e o dever, que exprime Pedro, de estarmos “sempre prontos a dar uma resposta a quem vos pede a razão da vossa esperança” (1Pd 3, 15). A teologia perscruta, em um discurso racional sobre a fé, a harmonia e a coerência intrínseca das várias verdades de fé que surgem do único fundamento da revelação de Deus uno e trino. O mistério imperscrutável de Deus, na economia da salvação e por meio desta economia do Verbo encarnado se oferece também à nossa inteligência. Nós, teólogos, somos os guardiões e promotores desta inteligência da fé.

Na mediação cristológica Deus se oferece à nossa razão também na inteligibilidade da sua auto-revelação. A Comissão, com os seus debates e discussões, por meio dos estudos e das reflexões, é um lugar privilegiado de empenho comunitário no dar razão da nossa esperança.

A especificidade da Comissão Teológica Internacional consiste no fato que ela é chamada a perscrutar as importantes questões teológicas a serviço do Magistério da Igreja, em particular da Congregação para a Doutrina da Fé. Nesta dimensão, penso que podemos extrair uma indicação para o nosso “fazer teologia”. A teologia não é nunca uma pura especulação ou uma teoria isolada da vida dos crentes. Com efeito, na autêntica teologia não existe jamais um isolamento ou uma contraposição entre inteligência da fé e a pastoral ou a práxis vivida da fé. Pode-se afirmar que tudo é pensamento teológico, todas as nossas investigações científicas tem sempre uma profunda dimensão pastoral, seja a dogmática, a moral ou as outras disciplinas teológicas, tem sempre uma dimensão pastoralmente própria. Como ensina o Concílio Vaticano II, todo o conhecimento de Deus é bom se é feito em referência ao fim último do homem, para a sua salvação. A sagrada doutrina não é uma página morta, mas, especialmente na especulação dogmática toca sempre aquilo que é decisivo para o caminho da Igreja, que é o caminho da salvação.

Toda divisão entre a “teoria” e a “práxis” da fé seria, no fundo, o reflexo de uma sutil “heresia” cristológica; seria fruto de uma divisão no mistério do Verbo eterno do Pai que se fez carne; seria a omissão da dinâmica encarnacionista de toda sã teologia e de toda a missão evangelizadora da Igreja. Cristo, que pode ser chamado o primeiro teólogo da Escritura, o teólogo por excelência, nos diz: “eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Não existe verdade sem vida, não existe vida sem verdade. Nele está o caminho para compreender sempre melhor a verdade que se oferece a nós e se faz nossa vida.

Podemos afirmar que o trabalho da Comissão, o seu estilo de trabalhar, é sempre caracterizado por um profundo espírito comunitário, de fraterno respeito e amizade, de uma verdadeira colegialidade nas colaborações, de troca e de diálogo. Da comissão se espera exemplarmente um debate teológico sereno e construtivo, no respeito do carisma do Magistério eclesial e na consciência da alta responsabilidade à qual é redirecionada a vocação dos teólogos e teólogas na Igreja.

Somos chamados a guardar o verdadeiro rosto da teologia católica constituído da mediação cristológica e eclesial da fé. O seu verdadeiro objeto a teologia não pode encontrar em outro lugar senão na fé testemunhada pela Igreja na auto-revelação de Deus na pessoa e na história de Jesus de Nazaré. Esta auto-revelação visa assegurar que “os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, tenham acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina” (Constituição Dogmática Dei Verbum, 2).

A relação particular da ciência teológica com a Igreja não pode reduzir-se a uma realidade tão somente externa. A teologia deve antes, por sua essência, levar o contributo da problemática especificamente teológica na forma e na mediação eclesial da fé e pressupor, por outro lado, como princípios próprios, os artigos de fé testemunhados pela Igreja.