Quem está mais próximo do Reino de Deus?

“Há teólogos que, à vista de todas as coisas terríveis que acontecem hoje no mundo, põem em dúvida se Deus não possa ser realmente omnipotente. Diversamente, nós professamos Deus, o Omnipotente, o Criador do céu e da terra. E sentimo-nos felizes e agradecidos por Ele ser omnipotente; mas devemos, ao mesmo tempo, dar-nos conta de que Ele exerce o seu poder de maneira diferente de como costumamos fazer nós, os homens. Ele próprio impôs um limite ao seu poder, ao reconhecer a liberdade das suas criaturas. Sentimo-nos felizes e agradecidos pelo dom da liberdade; mas, quando vemos as coisas tremendas que sucedem por causa dela, assustamo-nos. Mantenhamos a confiança em Deus, cujo poder se manifesta sobretudo na misericórdia e no perdão. E estejamos certos, amados fiéis, de que Deus deseja a salvação do seu povo. Deseja a nossa salvação, a minha salvação, a salvação de cada um. Sempre, mas sobretudo em tempos de perigo e transtorno, Ele está perto de nós, e o seu coração comove-se por nós, inclina-se sobre nós. Para que o poder da sua misericórdia possa tocar os nossos corações, requer-se a abertura a Ele, é necessária a disponibilidade para abandonar livremente o mal, levantar-se da indiferença e dar espaço à sua Palavra. Deus respeita a nossa liberdade; não nos constrange. Ele aguarda o nosso «sim» e, por assim dizer, mendiga-o.”

“No Evangelho, Jesus retoma este tema fundamental da pregação profética. Narra a parábola dos dois filhos que são convidados pelo pai para irem trabalhar na vinha. O primeiro filho respondeu: «“Não quero”. Depois, porém, arrependeu-se e foi» (Mt 21, 29). O outro, ao contrário, disse ao pai: «“Eu vou, senhor.” Mas, de facto, não foi» (Mt 21, 30). À pergunta de Jesus sobre qual dos dois cumprira a vontade do pai, os ouvintes justamente respondem: «O primeiro» (Mt 21, 31). A mensagem da parábola é clara: Não são as palavras que contam, mas o agir, os actos de conversão e de fé. Jesus, como ouvimos, dirige esta mensagem aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo de Israel, isto é, aos peritos de religião do seu povo. Estes começam por dizer «sim» à vontade de Deus; mas a sua religiosidade torna-se rotineira, e Deus já não os inquieta. Por isso sentem a mensagem de João Baptista e a de Jesus como um incómodo. E assim o Senhor conclui a sua parábola com estas palavras drásticas: «Os publicanos e as mulheres de má vida vão antes de vós para o Reino de Deus. João Baptista veio ao vosso encontro pelo caminho que leva à justiça, e não lhe destes crédito, mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram nele. E vós, que bem o vistes, nem depois vos arrependestes, acreditando nele» (Mt 21, 31-32). Traduzida em linguagem de hoje, a frase poderia soar mais ou menos assim: agnósticos que, por causa da questão de Deus, não encontram paz e pessoas que sofrem por causa dos seus pecados e sentem desejo dum coração puro estão mais perto do Reino de Deus de quanto o estejam os fiéis rotineiros, que na Igreja já só conseguem ver o aparato sem que o seu coração seja tocado por isto: pela fé.

Papa Bento XVI, Homilia na Esplanada do Aeroporto de Freiburg
24 de setembro de 2011

A mensagem de Jesus Cristo é para todos

Encerrada mais uma Visita Apostólica do Santo Padre o Papa Bento XVI (sua 11º a um país europeu e sua 17º Internacional), resta-nos agradecer profundamente a Deus por um tão magnífico presente dado a nós e a toda a Igreja espalhada pelo vasto campo de missão, o mundo, onde, em nossos dias, não menos urgente é a tarefa evangelizadora à qual todos os cristãos são chamados. Não obstante os constantes desafios, a Igreja convida-nos a fazermos cumprir o desejo do Senhor, que, ainda que perpassados dois mil anos, torna-se cada vez mais veemente e necessário, sobretudo em uma sociedade tomada por ideologias consumistas, capitalistas e ateístas, que tendem a fazer desaparecer os verdadeiros valores do Evangelho.

O Papa leva a todos esta mensagem de renovado ardor missionário. Onde já não mais há esperança ele anuncia que ainda existe uma Esperança intrépida, que os homens podem confiar sempre, mesmo diante das adversidades; mesmo diante das tempestades, que por muitas vezes parecem incensáveis. Criticado foi o Papa, e criticada é a Igreja, mas nunca desanimarão por investidas satânicas que contra eles se ergam.

O Papa leva o Evangelho de Cristo, e este Evangelho muitas vezes comporta mensagens duras, para alguns inaceitáveis. Mas é preciso que o mundo saiba que a santificação só virá quando, obediente aos ensinamentos de Cristo, cumprirmos os “duros” preceitos que Ele apresentar-nos-á no decorrer da história salvífica da humanidade.

Quem espera ouvir do Papa e da Igreja palavras fáceis para o seguimento a Cristo, não crie esta esperança. Digo isto porque dura é a mensagem do Evangelho, e por vezes ela não agrada a muitos.

A Igreja não quer, e nem pode, ceder em assuntos que, muitas vezes, a humanidade vê como algo a ser “diplomaticamente discutido”. A vida humana, por exemplo, não é questão de diplomacia, mas de direito, ao qual todo o homem é chamado, e jamais, ninguém, poderá dizer o contrário.

No início da viagem a imprensa dizia que poucos iriam comparecer às celebrações do Papa, pois ele, com suas idéias, não agradava a muitos ingleses. Ora, vemos que tudo o que a imprensa “premeditou” com suas cargas d’água foi abaixo. O povo esperava ansiosamente a chegada do Papa. Milhares de pessoas foram às ruas para vê-lo e escutá-lo. Ainda que pareçam duras as palavras do Papa são também as de Cristo. Ele trás uma mensagem de esperança, para todos os homens, independente de qual seja a raça, nacionalidade ou credo. Todos aqueles estavam em busca de uma resposta, e garanto que todos a encontraram. Esta mensagem tornar-se-á presente em Jesus, filho de Deus feito homem, que, por esta ação, demonstra seu incomensurável amor pela humanidade, ainda que sejamos indignos. E isto agrada os fiéis.

Ao contrário da imprensa, que divulga ideologias que buscam desvalorizar e destruir a família, a Igreja é a única que levanta-se e põe-se em favor da vida, dos verdadeiros direitos humanos, de uma valorização da família que se torna indispensável na sociedade hodierna.

Nesta viagem realizou-se a beatificação do Cardeal John Henry Newmann, que por meio dos estudos introduz-nos, com seus ensinamentos, em um intrínseco relacionamento com Deus. E com suas palavras gostaria de encerrar este breve artigo:

Praise to the Holiest in the height and in the depth be praise; In all his words most wonderful, most sure in all his ways!Seja louvado o Santíssimo no céu, seja louvado no abismo; em todas as suas palavras, o mais maravilhoso, o mais seguro em todos os seus caminhos” (O sonho de Gerontius).

Rezemos sempre mais pela missão do nosso Guia visível e sinal de unidade. Peçamos que o Senhor e a Santíssima Vigem fortaleçam-no sempre mais. E que possam vir tantas outras viagens, demonstrando que a Palavra de Deus é para todos e que o Santo Padre não teme anunciá-la.

Viva o Santo Padre!

Ut in omnibus glorificetur Deus!