Perseverai e orai!

Neste domingo, a providência divina quis que nos fossem apresentadas as leituras que, poderíamos dizer, são persistentes, além de chamar nossa atenção, mais uma vez, para a necessidade da oração. Verdadeiramente, a persistência pelas coisas celestiais é algo importante na vida cristã. Só quem persiste pode chegar a uma meta. Por isso, hoje, Jesus convida-nos a uma “santa persistência”. Uma perseverança constante em não desanimarmos diante das dificuldades, a sermos cristãos autênticos. Por esta perseverança foram abertas aos mártires as portas do céu.

Na primeira leitura, chama-nos bastante atenção, a atitude de Abraão em que, mesmo diante de Deus, insiste pela salvação de Sodoma; no entanto, não havia nela nenhum justo. Há, bem verdade, ainda hoje, uma dúvida sobre qual pecado teria levado a destruição de Sodoma; diverge-se entre o homossexualismo ou a vida depravada que muitos habitantes estariam levando, fala-se até mesmo em xenofobia. No entanto muitos concordam que o verdadeiro motivo seria a prática homossexual, orgias e outras depravações morais.

Entretanto, façamos uma analogia com o que o texto quer dizer-nos hoje. Se Abraão indagava Deus sobre a sua misericórdia infinita, também muitos hoje duvidam da misericórdia de Deus. Para estes, o próprio texto já responde, mediante a persistência do pai de muitas gerações diante de Deus, quando ele pergunta ao Senhor se com cinqüenta justos Ele pouparia a cidade, e vai baixando o número até dez, e Deus lhe diz que por dez justos pouparia a cidade. Na cidade, porém, não havia nenhum justo. Os que lá se encontravam, Deus havia mandado sair. Ora, nosso Deus não é um somente um Deus de ira, mas também de justiça; e a sua justiça se estende por toda a terra. Ele deseja que todos se voltem para Ele, que mergulhem na sua inexaurível misericórdia e nela possam permanecer a todo instante, mesmo que sejamos tentados pelo mundo a dela nos afastarmos. O próprio Jesus, na sua aparição a Santa Faustina, fala da grandeza da misericórdia, e nos diz que esta precederá a própria Justiça: “Antes de vir como justo Juiz, abro de par em par as portas da Minha misericórdia” (Diário 1146; cf. 1728); e ainda: “Que o pecador não tenha medo de aproximar-se de Mim. Queimam-me as chamas da misericórdia; quero derramá-las sobre as almas” (Diário 50).

Na segunda leitura São Paulo nos chama a atenção para algo muito interessante: uma nova identidade. Deixarmos de lado o homem velho e tomarmos posse do novo homem: “Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus” (Cl 2, 12). Vale também para nós tais palavras. Nos dias de hoje vemos o imenso número de pessoas que preferem estar apegadas à velha vida, fora dos preceitos evangélicos. O apóstolo nos convida a, com Cristo, adentrarmos a esta nova fase, a esta verdadeira conversão. Se pelo pecado estávamos mortos e o nosso laço de união com Deus foi cortado pelos nossos primeiros pais, com Jesus a humanidade encontrou novo sentido; Ele, Sumo e Eterno Sacerdote, reatou este laço e firmou-o novamente com algo que jamais poderá alguém cortá-lo: o seu preciosíssimo sangue, derramado pela nossa salvação e pela redenção do mundo. A morte de Cristo, sua total doação, é a melhor prova de que Deus ama a humanidade, de que não quer que ela afaste-se d’Ele por causa de ideologias ou de qualquer outra coisa.

O Santo Evangelho chama-nos a uma meditação do Pai Nosso, mas também convida-nos a voltarmos nossos olhos para duas parábolas que Jesus nos apresenta: Em que sentido as palavras desta oração poderiam ser comparadas aos nossos dias. E assim podemos inferir:

Não pode dizer “Pai nosso” quem não busca viver como Igreja e como filho de Deus.

Não pode dizer “santificado seja o vosso nome” quem não tem o nome de Deus como Santo e não o respeita.

Não pode dizer “venha a nós o vosso reino” quem se preocupa apenas com os bens materiais e superficialidades.

Não pode dizer “seja feita a vossa vontade” quem apenas busca fazer a própria vontade e não escuta a voz de Deus. Não pode dizê-lo quem apóia o aborto e os tantos meios de ataques a vida humana.

Não pode dizer “assim na terra como no céu” quem apenas vive para si mesmo e esquece que estamos todos peregrinando, rumo ao céu.

Não pode dizer “o pão nosso de cada dia nos daí hoje” quem nega o pão aos necessitados, quem é egoísta, e quem nega a presença de Jesus na Eucaristia, Pão espiritual para nossa salvação.

Não pode dizer “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” quem nunca perdoa o irmão e sempre deseja ser perdoado, levando uma vida hipócrita. E só com o perdão, que gera a unidade, poderemos alcançar a pasz no mundo.

Não pode dizer “Não nos deixeis cair em tentação” quem sempre se expõe a ela, levando uma vida desregrada.

Não pode dizer “mas livrai-nos do mal” quem pratica o mal e adere aos projetos do maligno.

Não pode dizer “Amém” quem não se compromete a viver conforme o plano de Deus.

Por fim, as parábolas nos convidam a confiarmos em Deus. A oração constante, insistente e que tenha uma boa finalidade, sempre será atendida por Deus. Como lembra a parábola, se não for pela boa intenção, atenderá pelo menos pela insistência. E Jesus nos diz: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á” (Lc 11, 9).

O Pai celeste só sabe e só pode dar coisas boas aos seus filhos. Ele nunca renegará uma oração sincera e confiante, um verdadeiro clamor que insurge das entranhas humanas e eleva-se ao mais alto dos céus, e Ele sempre estará disposto a atendê-la. “E que este clamor esteja impregnado de toda a verdade sobre a misericórdia que tem expressão tão rica na Sagrada Escritura e na Tradição, e também na autêntica vida de fé de tantas gerações do Povo de Deus. Com este clamor apelamos, como fizeram os Autores sagrados, para o Deus que não pode desprezar nada daquilo que criou  (Sab 11, 24), para o Deus que é fiel a Si próprio, à Sua paternidade e ao Seu amor” (Papa João Paulo II, Dives in Misericórdia, cap. 8, § 15).

Ajudemos a nossa humanidade a redescobrir o inestimável valor da oração, que só terá valor eficaz quando o homem, consciente de sua miséria, voltar-se ao Senhor, para que Ele possa, com seu beneplácito e com sua ação salvífica, instaurar em nosso meio o Reino de paz e de amor.

Maria Santíssima, mulher feita oração, nos ajude nesta caminhada em busca dos verdadeiros valores da oração.

Fraternalmente em Cristo Jesus e Maria Santíssima!